12 de outubro de 2024

Pesquisador de Sorocaba é autor de tese que deu origem a dispositivo que detecta sinal de infarto pela saliva: ‘Trabalho de quase quatro anos’

Lucas Felipe de Lima é autor da tese de doutorado que deu origem à ferramenta. Estudante de escola pública, ele é formado em química pela UFSCar, onde também fez mestrado. Foi durante o doutorado na Unicamp que ele começou a trabalhar com sensores eletroquímicos. Pesquisador de Sorocaba é autor de tese que deu origem à dispositivo que detecta sinal de infarto pela saliva
Arquivo pessoal
Um pesquisador de Sorocaba (SP) é autor da tese que deu origem a um dispositivo criado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que usa sensores portáteis, com apoio de um smartphone, para detectar diversas doenças por meio da saliva de pacientes e sem a necessidade de exames laboratoriais, como o infarto, por exemplo.
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Lucas Felipe de Lima é autor da tese de doutorado que deu origem à ferramenta. Estudante de escola pública, ele é formado em química pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no campus de Sorocaba (SP), onde também fez mestrado. Foi durante o doutorado na Unicamp que ele começou a trabalhar com sensores eletroquímicos.
Em 2021, durante a pandemia, foi contratado pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde ficou no departamento de microbiologia na escola de medicina.
“[Na Unicamp] fiz mais voltado pra parte ambiental, forense. Só que eu sentia que faltava alguma coisa que fosse mais aplicado à sociedade, mais útil. Sou um químico que foi para a medicina e microbiologia. Lá [na Pensilvânia], eu aprendi muita coisa. Dentre uma delas foi o desenvolvimento desses biossensores, então eu já usava a plataforma para outras aplicações e eu acabei usando ela para a parte de patógenos”, relembra.
Lucas conta que teve a oportunidade de investir nos estudos e chegou a desenvolver sensores que também identificassem a herpes. Já no Brasil, também elaborou sensores que fossem capazes de diagnosticar a Mpox, Sars-Cov-2 (vírus da Covid) e a creatina quinase, responsável pelo pré-infarto.
Pesquisador de Sorocaba é autor de tese que deu origem à dispositivo que detecta sinal de infarto pela saliva
Arquivo pessoal
“Então eu já tinha as parcerias aqui que eu já havia feito, já tinha o conhecimento sobre manipulação de patógenos e já tinha também conhecimento sobre a detecção. E aí eu comecei a juntar tudo, parte do mestrado de materiais, a parte da analítica da química analítica que eu fiz aqui na Unicamp mais a parte da microbiologia / medicina que eu aprendi nos Estados Unidos. E aí depois que eu aprendi tudo isso juntei tudo. Aí os trabalhos começaram a sair”, conta.
“Hoje a gente uma gama de proteínas, biomarcadores que a gente consegue fazer detecção e correlacionar com algum tipo de doença ou algum tipo de infecção do indivíduo de maneira minimamente invasiva, então a gente faz análise principalmente em saliva, mas em alguns casos ainda é necessário usar plasma para a detecção”, explica.
Lucas explica que atualmente faz pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), mas que também realiza trabalhos na Unicamp. Ele diz que os planos futuros são criar novas formas de aumentar a acessibilidade do dispositivo.
“O meu objetivo final, na realidade, é chegar a um tipo de plataforma, um tipo de dispositivo que seja muito similar a um glicosímetro que eu posso levar pra qualquer região remota lá da Amazônia ou comunidade ribeirinha, por exemplo, um lugar de difícil acesso para coleta de amostra e análise. Tentar levar esses dispositivos de baixo custo para que um operador possa fazer análise de maneira escalável”, projeta.
Como funciona o dispositivo?
Pesquisadores da Unicamp criam dispositivo capaz de detectar sinal de infarto pela saliva
Por não necessitar da extração de sangue, a nova tecnologia tem potencial, segundo Lima, de substituir a coleta em crianças que se sentem desconfortáveis com agulhas em alguns casos.
A tecnologia criada por Lucas conta com cinco dispositivos que usam diferentes biossensores eletroquímicos (estrutura que combina um componente biológico, como células e anticorpos, e um eletrônico que detecta substâncias químicas). Eles funcionam da seguinte forma:
O profissional de saúde aplica o material do paciente (como saliva, sangue e outros fluidos) no sensor, onde a informação física é transformada em sinal elétrico;
O contato gera uma resposta eletroquímica e transforma em ‘informação’;
Para ler e interpretar a informação, o sensor é conectado a um dispositivo acoplado a um smartphone;
No smartphone, um aplicativo recebe as informações e mostra os resultados por meio de gráficos.
O que pode ser detectado pelo dispositivo?
Sensor para identificar as doenças
Arquivo pessoal
Inicialmente, o sensor foi criado para detecção da Covid-19, sendo capaz de perceber ao menos 11 variantes do vírus, e mais tarde foi adaptado para identificar a presença da herpes e da Mpox. Hoje também faz a avaliação sobre níveis de glicose, ácido úrico, nitrito e tiocianato.
Porém, um dos usos que mais chamam a atenção é no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. Segundo Lucas, isso é possível porque o sensor consegue identificar a presença da enzima creatina quinase, cuja concentração aumenta no organismo humano durante esses episódios.
Como o dispositivo pode ser usado no dia a dia?
A proposta é que o dispositivo seja usado para a realização de testes no momento do atendimento a um paciente, pois seu resultado é imediato – diferente dos exames laboratoriais, que levam algum tempo para serem analisados.
Lucas afirma que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde podem fazer o exame com facilidade. Outra vantagem é não necessitar de uma estrutura laboratorial: é tudo portátil, o que permite que os testes sejam feitos em qualquer lugar. Entenda todo o processo da pesquisa aqui.
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