13 de outubro de 2024

Áudios revelam como grupo retirava e vendia veículos de pátio de apreensões: ‘Vamos enricar’

Entre os investigados estão o ex-gerente da empresa Sancar Leilões, dono de oficina e um suspeito de intermediar a venda dos veículos extraviados. Os três estão presos desde o fim de setembro. El Lobo: veja como suspeitos planejavam retirada de veículos de pátio e revenda ilegal
A operação policial que resultou na prisão de três pessoas por suposto envolvimento na venda de veículos que foram apreendidos em Araguaína, no norte do estado, foi possível após a identificação de conversas relatando como funcionava o esquema. A TV Anhanguera teve acesso ao inquérito e aos áudios de suspeitos, que acreditavam que iriam ‘enriquecer’ com o crime.
📱 Participe do canal do g1 TO no WhatsApp e receba as notícias no celular.
Mandados de prisão preventiva e 12 ordens de busca e apreensão foram cumpridos no dia 27 de setembro deste ano, na operação El Lobo. Veículos apreendidos que ficavam estacionados na empresa Sancar Leilões eram retirados do pátio e vendidos ilegalmente. Depois que carros e motos ‘desapareciam’, a suspeita é que o gerente da empresa teria feito boletins de ocorrências relatando os furtos, para despistar a situação criminosa.
Operação cumpriu mandados no pátio de operação
Claudemir Macedo/TV Anhanguera
De acordo com o inquérito policial, a Sancar tem convênio com o Governo do Estado desde 2017 para armazenamento de veículos apreendidos por irregularidades no trânsito em cidades da região. Até veículos de pessoas que morreram teriam sido vendidos dentro do esquema.
Os áudios obtidos com exclusividade pela TV Anhanguera revelam a conversa entre dois investigados. Lucimar Emídio dos Santos, conhecido com ‘Magrão,’ é apontado como principal comprador de motocicletas extraviadas do pátio por Luis Gustavo Viana de Oliveira, o ‘Prancha’, identificado pela polícia como intermediador das vendas dos veículos. Mas o chefe do esquema seria Leandro Lobo de Sousa, conhecido como ‘Loirim’.
A defesa de Leandro informou que só irá se manifestar perante o juiz, mas que irá colaborar com a justiça para melhor esclarecimento dos fatos a ele imputado. O g1 e a TV Anhanguera não conseguiram contato com as defesas de Lucimar e do Luis Gustavo.
A Sancar informou em nota que as investigações correm em sigilo e que a empresa está à disposição das autoridades para os devidos esclarecimento. (Veja nota na íntegra no fim da reportagem.)
A ‘audácia’ dos suspeitos foi observada pelos investigadores. Isso porque, segundo o inquérito, eles consideravam as formas de transportar os veículos e que queriam pegar até 15 veículos do pátio em um mesmo dia.
“Se eu tivesse com um carro grande aqui, um bauzinho, eu ia trazer era tudim, tudim. Essas que eu tirei as foto, as que tu tirou as fotos, eu ia pegar era tudo (sic)” disse Lucimar.
“A partir de terça nós vamo vim separando aqui tudim, já tô conversando com o homem lá do caminhão, entendeu? Que sábado ele vai tá sozinho aqui, entendeu? Vamo pegar 15, num sábado só. Que já tem umas pagas e vamos pegar as outras da biz. Pegar tudo num caminhão só. É de 10 pra frente (sic)”, afirmou Luis Gustavo.
Eles também faziam negociações por aplicativos de mensagem. “Que dia que nós pode buscar mais aí, que eu tô sem nada, já foi as minhas duas. Eu só passei (sic)”, disse Lucimar.
“Só semana que vem, pô! Eu passei o restante do dinheiro pra ele ainda agora, aí falei: “ei ajeita alguma coisa essa semana aí , ele “nam, tú é doido é? Aí é embassado demais. Hoje tu já pegou duas no carro e uma rodando, aí já foi três”. Aí falei, tá bom. Semana que vem nós mexe (sic)”, explicou Luis Gustavo em uma das conversas.
Lucimar também chegou a reclamar da qualidade dos veículos extraviados com os comparsas. “Se pego moto velha, eu tenho que vender aqui dentro da rua pô, eu não gosto de vender essas porcarias aqui dentro da rua, tu sabe muito bem. Aí se eu pego umas motos melhorzinhas tu sabe que os cara do Pará quer, aí vai tudo pra fora […]”.
Também acreditava que o dinheiro entraria por causa do esquema. “É menino! Tem que guardar um dinheirim bom. Nós vamos enricar, enricar o Loirim ano que vem, desde que ele organize mercadoria boa (sic)”, apurou a polícia nas mensagens.
LEIA TAMBÉM:
Três pessoas são presas durante operação contra venda ilegal de veículos apreendidos
Gerente vendeu mais de 50 veículos apreendidos e fez denúncias falsas para justificar sumiços, diz polícia
Investigada explica venda de veículos extraviados de pátio de apreensões: ‘Não fica com registro de roubo’
Prisões e investigação
Os três suspeitos estão presos por tempo indeterminado desde que a operação foi deflagrada. Segundo as investigações, cerca de 55 veículos que estavam no pátio da empresa Sancar foram revendidos ilegalmente para a policia o prejuízo é ainda maior.
De acordo com o delegado Felipe Crivelaro, responsável pela investigação, o grupo ainda pegava peças de veículos que estavam no pátio.
“Esses indivíduos que extraviavam os veículos para revenda, eles também aproveitavam o ensejo para tirar peças de outros veículos. Então, às vezes era um veículo que eles não tinham interesse em pegar para vender, mas alguma peça dele servia. Então eles faziam a subtração das peças”, explicou.
Relembre
Conforme a Polícia Civil, os verdadeiros donos dos veículos apreendidos e vendidos pelo grupo criminosos descobriam o furto do veículo quando recebiam alguma multa de trânsito. A Sancar era procurada e, como o veículo não estava mais no pátio, era alegado que houve um furto.
Segundo a polícia, o gerente investigado fazia boletins de ocorrência falsos para justificar os sumiços. Foi descoberto que organização criminosa vendia esses veículos, em sua maioria para compradores do estado do Pará. Cada motocicleta era revendida em média por R$ 3 mil.
Um dos casos informados pela polícia foi de uma técnica de enfermagem que morreu atropelada por um caminhão. A moto dela foi apreendida pela polícia e levada para o pátio da empresa, mas funcionários teriam vendido o veículo para um morador de São Geraldo (PA).
Motos foram recuperadas pela polícia durante operação
Alta tensão/Divulgação
Veja nota da Sancar Leilões na íntegra:
SANCAR GESTÃO EMPRESARIAL E LOGÍSTICA DE VEÍCULOS LTDA, empresa concessionária dos serviços de guarda e remoção de veículos retidos por medidas administrativas de trânsito no estado do Tocantins, vem a público prestar esclarecimentos sobre a operação “El Lobo”, deflagrada pela Polícia Civil de Araguaína, na forma em que segue:
Tendo em vista que as investigações correm em segredo de justiça, a empresa Sancar pouco sabe a respeito dos desdobramentos da operação El Lobo.
Todavia, reforçamos que a empresa está inteiramente à disposição das autoridades para auxiliar em tudo aquilo que for possível, confiando no trabalho das forças policiais para que todos aqueles que de alguma forma participaram ou se beneficiaram das ações criminosas sejam devidamente punidos e paguem por todos os danos causados à empresa, bem como a toda sociedade.
Vale mais uma vez ressaltar que a empresa Sancar é a principal vítima dos crimes apontados na operação, sofrendo gravemente danos materiais, bem como manchando a imagem de uma empresa que sempre pautou pelo trabalho sério e honesto, a qual não foge da sua responsabilidade perante terceiros prejudicados.
Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.

Mais Notícias