12 de outubro de 2024

Canil no ES vira referência em melhoramento genético de cães importados que podem custar até R$ 15 mil

No Brasil, há apenas 11 criadores registrados da raça Bernese Montain Dog. Um deles está localizado em Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, e tem um trabalho especializado no melhoramento da raça. Evandro e Edilaine Barcelos com os cães da raça Bernese Montain Dog
Arquivo pessoal
Em 2014, o técnico em mecânica Evandro Araújo Barcelos, hoje com 44 anos, recebeu uma proposta de trabalho em Campos, no Rio de Janeiro, que incluía o aluguel de um imóvel por um ano na cidade. A mudança foi acompanhada da decisão de alugar uma casa com quintal para poder realizar o sonho de ter um cachorro. Foi assim que ele teve o primeiro contato com cão da raça Bernese Montain Dog.
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Iann Júnior chegou à família ainda filhote. O cachorro, que custa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, logo caiu na graça do tutor, que viu ali um potencial. Barcelos passou a investir na raça, até então pouco conhecida no Brasil, e se transformou, hoje, num dos maiores criadores do país.
“Eu comecei a pesquisar e não conhecia a raça. Vi uma foto do cachorro e achei ele lindo, incomum. Conheci um criador em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e trouxe o Iann. Logo em seguida, também adquiri uma cachorra, a Luna. Me apaixonei pelos berneses”, disse.
Raça é originária da Suíça
Reprodução
Originário da Suíça, os berneses são cães extremamente dóceis com crianças e idosos, companheiros e, inicialmente, foram criados com o objetivo de ser um cachorro de trabalho, responsáveis por carregar carroças com leite e queijo, além de contribuir no cuidado com os rebanhos.
Com pelos longos e macios, a raça é tricolor, ou seja, com apenas três cores: preto, branco e caramelo. Os machos podem chegar a 70 centímetros de altura e pesam entre 48 e 70 quilos. Já as fêmeas podem alcançar 65 de altura e até 50 quilos.
Iann foi o primeiro cachorro de Evandro Barcelos da raça Bernense Montain Dog
Arquivo pessoal
“É um cão apegado aos donos, mais dependente, carinhoso. Se você é uma pessoa que sai para trabalhar de manhã e volta somente no final do dia, não é ideal que tenha um bernese. Eles precisam de atenção”, disse o profissional.
A expectativa de vida do cachorro, no entanto, não é longa. O bernese vive entre oito e dez anos.
Como surgiu a ideia de criar a raça
Casal criou canil referência no melhoramento da raça no Brasil
Arquivo pessoal
Após dois anos de dedicação aos próprios cachorros, Evandro teve o apoio da esposa Edilaine Barcelos para tomar outra decisão, em 2016, e se tornar um criador da raça no Brasil, priorizando a manutenção da linhagem de alto padrão da raça.
“Comecei a me aprofundar sobre a raça, estudar mais, conversar com criadores de fora do Brasil, onde estão as melhores linhagens.”, disse.
Foi assim que a rotina do casal voltou para Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, onde Evandro registrou um canil exclusivo e especializado na raça Bernese Montain Dog. Inicialmente, o profissional trouxe cães da Croácia, Itália, Rússia e Polônia.
Filhote da raça Bernese Montain Dog
Arquivo pessoal
“Há uma série de exigências para trazer o cachorro do exterior e garantir que o translado seja feito de modo a garantir a sua vida. É preciso atender uma série de documentação, que o transporte seja em caixas adequadas entre outros requisitos”, explicou.
O Iann, primeiro bernese de Evandro, faleceu com oito anos de vida, mas foi imortalizado em uma tatuagem na panturrilha do tutor.
Cachorro Iann foi eternizado na tatuagem de tutor.
Arquivo pessoal
De lá para cá, Evandro adquiriu outras animais. Atualmente, há 20 cães no canil, entre animais aposentados, castrados, em crescimento e também aquele que estão em reprodução.
De acordo com o profissional, pessoas de todo o país o procuram para conhecer a raça.
“Já vendi o bernene praticamente para todos os estados, com exceção do Acre, Tocantins e Amapa. Também já enviamos cães para os Estados Unidos, México, Costa Rica e Portugal”, disse.
Cantora gospel Isadora Pompeo com o seu doguinho da raça Bernese Montain Dog.
Reprodução/Instagram
No dia 9 e abril, uma das pessoas que adquiriu um cão da raça Bernese com Evandro foi a cantora gospel Isadora Pompeo, de 24 anos. O cãozinho foi entregue à artista na casa dela em Campinas, São Paulo.
Melhoramento genético
De acordo com Evandro, que também é presidente do Clube Brasileiro Boiadeiro Bernês (CBBB), há apenas 11 canis registrados no país, localizados no Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná.
Todos os canis do CBBB são registrados na Confederação Brasileira de Cinofili (CBKC), órgão responsável pela cinofilia no Brasil e único filiado à Federação Cinológica Internacional (FCI) fundada em 1911, sediada em Thuin, na Bélgica.
Um dos diferenciais dos canis registrados é não vender o cão com objetivo de reprodução.
“A pessoa assina um contrato no qual ela se responsabiliza a castrar o cachorro após os dois anos de idade ou de não deixá-lo reproduzir. Apesar disso, não há a obrigação de castração, é uma sugestão. Caso a pessoa coloque o animal para reprodução, é possível ter uma multa de dez vezes o valor do contrato, que pode chegar a R$ 10 mil”, disse.
Ainda de acordo com o profissional, o objetivo desse contrato é impedir a população da raça sem referências da linhagem.
Cães passam por exames desde o nascimento para o melhoramento da raça. Espírito Santo
Reprodução
“O Golden Retriever, por exemplo, virou uma raça muito comum e muitas pessoas perderam o padrão da raça. A gente luta para que o Bernese não chegue a este ponto. Apesar disso, o Brasil é muito grande e existem criadores que fazem um péssimo trabalhando, colocando os cães para reprodir de qualquer forma”, disse Evandro.
O especialista na raça contou que os cães criados no canil são todos acompanhados por uma série de exames com o objetivo de dar qualidade de vida para os animais e contribuir para o melhoramento da raça.
“Para atingir o nível ao qual nos propomos, estudamos as melhores linhas de sangue para trazer esses cães de várias partes do mundo e fazer os acasalamentos. Após os 24 meses de vida, o cão está apto à reprodução, mas precisa passar por uma série de exames antes, como a displasia de coxofemoral, que é uma alteração no quadril existente até 5º grau”, explicou Evandro.
Segundo o especialista, cães classificados em A ou B são os melhores, sendo que C significa que o animal tem uma displasia leve, porém, ainda é permitindo acasalar, desde que o outro cão seja “A”.
“No entanto, não utilizamos cães com o grau C, apesar de ser permitido. Já a classificação D e E não são permitidos para reprodução”, explicou.
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