13 de outubro de 2024

Dez armadilhas no tratamento do Parkinson

No GeriatRio 2024, a neurologista Camila Pupe comparou a doença a um iceberg: “há os sintomas mais facilmente percebidos, mas o paciente enfrenta muitos outros sem que as pessoas se deem conta” Em duas semanas consecutivas, tive a oportunidade de acompanhar dois eventos de peso. Depois do de medicina sexual, o 12º. Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro (GeriatRio 2024), realizado de 3 a 5 de outubro, abordou assuntos da maior relevância para todos que se interessam pelo tema da longevidade. A Doença de Parkinson, por exemplo, é a segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum, o que explicou o salão lotado para ouvir a neurologista Camila Pupe, professora adjunta de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“A Doença de Parkinson é como um iceberg: há os sintomas mais facilmente percebidos, os sintomas motores, mas o paciente enfrenta muitos outros, não motores, sem que as pessoas se deem conta”, afirmou.
Doença de Parkinson: o tremor em uma das mãos está entre os sintomas das fases
PicsbyAnnyk para Pixabay
A neurologista lembrou que o Parkinson é multifatorial, ou seja, embora seja mais comum em indivíduos acima dos 60 anos, há também fatores genéticos e ambientais que concorrem para o surgimento da doença. Os sintomas motores das fases iniciais são conhecidos: tremor em uma das mãos; bradicinesia (lentidão dos movimentos voluntários e automáticos), o que dificulta a execução de tarefas diárias, como caminhar, se vestir, escrever; rigidez; e distúrbios da marcha, aumentando o risco de quedas.
No entanto, há os chamados sintomas prodrômicos, que ocorrem antes do aparecimento dos sintomas específicos, como constipação, hiposmia (perda de olfato), ansiedade e depressão. De uma forma bem didática, a professora Camila Pupe listou dez armadilhas que devem ser evitadas pelos médicos que cuidam desses pacientes. E eu acrescento: as orientações valem para os doentes e suas famílias!
Negligenciar os sintomas não motores, como dor, distúrbios do sono e gastrointestinais, disfunção sexual, hiposmia, ageusia (perda das funções gustativas do paladar), alterações de humor, comportamentos impulsivos, sinais de declínio cognitivo, como dificuldade de avaliação ou julgamento, entre outros.
Retardar o início do tratamento com levodopa, substância que melhora os sintomas e traz mais qualidade de vida. “Quando se inicia tardiamente o uso da levodopa, o nível de incapacidade é maior do que o dos pacientes que começaram precocemente, embora não modifique a história natural da doença”, explicou.
Não zelar pela aderência terapêutica, que é fundamental. O médico tem que estar atento para motivar o paciente a seguir o tratamento.
Tratar todos os pacientes da mesma maneira. A abordagem deve ser personalizada, levando em conta as características da pessoa, como idade, comorbidades, estilo de vida, personalidade e preferências.
Restringir-se à monoterapia, isto é, valer-se de apenas um medicamento ou procedimento. Existem outras classes de drogas disponíveis que podem atuar positivamente no tratamento.
Não considerar tratamentos não farmacológicos, adjuvantes e multidisciplinares. A fonoaudiologia, por exemplo, vai melhorar a fala e a deglutição, mas também são da maior importância os exercícios físicos, que contribuem para retardar a progressão da doença, e o acompanhamento de um nutricionista.
Deixar de lado a psicoeducação, porque é valiosa a conscientização do paciente sobre fatores de risco modificáveis – sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool são alguns deles.
Subestimar o impacto dos efeitos colaterais das medicações.
Não adaptar o tratamento conforme a progressão da enfermidade, porque vão ocorrendo mudanças em relação ao nível de absorção e duração dos medicamentos.
Não levar em conta a qualidade de vida e a funcionalidade do paciente.

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