13 de outubro de 2024

Advogada fez Pix de R$ 10 mil para chefe de facção nomear ‘coordenador’ de crimes no Ceará, diz MP

Advogada teve a prisão temporária convertida em prisão domiciliar após pedido da defesa. Investigação encontrou diálogos dela com traficante do Comando Vermelho, para quem pedia indicações de pessoas que trabalhassem para ela. Advogada Márcia Teixeira foi presa em Iguatu, no interior do Ceará, por suspeita de participar de organização criminosa envolvida com o tráfico de drogas.
Arquivo pessoal
A advogada e influencer Márcia Rúbia Batista Teixeira, de 49 anos, presa por suspeita de envolvimento com tráfico de drogas no Ceará, mantinha diálogos com um líder do tráfico de drogas e chefe do Comando Vermelho em bairros da cidade de Iguatu, no interior do Ceará.
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Em uma das conversas encontradas pela investigação, ela transferiu a quantia de R$ 10 mil para o traficante Thiago Oliveira Valentim, que indicou para ela um homem que seria o “coordenador” de atividades do comércio ilegal de drogas e da movimentação financeira da facção no bairro Santo Antônio. O coordenador também iria “resolver questões eleitorais” para um candidato da cidade de Iguatu que tem apoio da advogada.
Documento mostra transferência de R$ 10 mil via Pix que chegou à conta de chefe do Comando Vermelho em Iguatu, no Ceará
Reprodução
Após a segunda fase da Operação “Tempestade”, que prendeu a advogada, um empresário e um candidato a vereador no mês de setembro, a defesa de Márcia Teixeira pediu que a prisão temporária dela fosse convertida em prisão domiciliar. A justificativa apresentada foi que Márcia é a única responsável pelos cuidados de um filho com idade inferior a 12 anos.
A Justiça decidiu pela prisão domiciliar da advogada com monitoramento eletrônico. A decisão foi tomada por juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas, buscando garantir os cuidados com a criança.
Advogada suspeita de envolvimento com tráfico de drogas tinha mais de 6 mil seguidores nas redes sociais
Reprodução
A advogada tem mais de 6 mil seguidores nas redes sociais e se apresenta como especialista em Lei de Drogas e Tribunal do Júri e pós-graduada em Ciências Penais e Criminologia, além de professora universitária.
Nas redes sociais, Márcia publicava vídeos em que buscava simplificar informações sobre a área jurídica. Outro conteúdo comum eram brincadeiras sobre a rotina como advogada.
Pix para chefe do tráfico
Advogada Márcia Teixeira é suspeita de trabalhar em colaboração com facção criminosa na cidade de Iguatu, no Ceará
Reprodução
Antes da decisão da Justiça, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) havia emitido parecer pela manutenção da prisão temporária de Márcia Teixeira, entendendo que a conduta da advogada traz perigo à coletividade, aos familiares e até mesmo a crianças que estejam inseridas no meio criminoso.
No parecer, o órgão detalhou que as investigações da Operação Tempestade encontraram, em aparelhos celulares do traficante Thiago Oliveira, também conhecido como Thiago Fumaça, conversas com a advogada que mostram uma “ligação íntima entre os dois, que transcende a relação cliente-advogado”.
Nas conversas analisadas, Márcia transferiu quantias de dinheiro para Thiago. A advogada também pedia para ele indicações de pessoas dentro do bairro Santo Antônio que trabalhassem para ela.
O pix de R$ 10 mil teria sido feito após um desses pedidos: a advogada solicitava a indicação de “coordenador” que ficasse à sua disposição no território.
“O coordenador indicado pelo traficante Thiago Oliveira Valentim (…) estaria à disposição de Márcia Rúbia para atuar como seus ‘olhos e ouvidos’ naquela área do bairro Santo Antônio, além de ser seu ‘braço direito’ nas questões relacionadas ao comércio ilegal de drogas, à movimentação financeira da facção que domina o local e também para angariar clientes para a advogada”, diz o parecer do MPCE.
O órgão aponta também que há indícios de que o coordenador apontado seria responsável também por intervir nas eleições municipais, agindo para favorecer um candidato apoiado pela advogada no bairro.
Ainda segundo o MP, o controle do tráfico de drogas no bairro é disputado pelas facções Comando Vermelho e Guardiões do Estado, estando à época dominado pelo Comando Vermelho sob a liderança de Thiago Fumaça. O traficante também exercia influência nos bairros Novo Iguatu, Vila Neuma e Vila Moura.
Além da transferência de dinheiro por meio de um pix de R$ 10 mil, realizada com a ajuda de terceiros, a advogada também pagaria pela indicação do coordenador com dinheiro em espécie.
Com base nestas informações, representantes das Promotorias de Justiça de Combate às Organizações Criminosas, do MPCE, apontaram que a advogada integra e exerce “fundamental papel” na organização criminosa.
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