14 de outubro de 2024

Estiagem prolongada provoca ‘atraso’ no canto de cigarras e causa prejuízo nas lavouras de café

Demora para sair debaixo da terra pode causar prejuízo também para a reprodução da espécie. Produtor rural fala dos prejuízos causados pela cigarra. Falta de chuva afeta reprodução das cigarras e cafezal é danificado
O canto das cigarras já é um som conhecido, mas este ano ele está ‘atrasado’. Apesar da chuva registrada na última semana, a estiagem prolongada na região de Ribeirão Preto (SP) fez com que os insetos preferissem ficar mais tempo embaixo da terra, local mais úmido e melhor para elas.
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O engenheiro agrônomo José Fernandes Bichoff Machado conta que nesse mesmo período anos atrás, seria quase impossível ter uma conversa em um lugar com muitas cigarras já que o seu canto pode chegar ao volume de 100 decibéis, equivalente ao som de uma motosserra.
“Agora, tem poucas cigarras pelo pouco que conseguiu sair do solo. Elas preferem um pouco mais de umidade e se preservam um pouco nesse ponto para subsistência delas. Para ela poder seguir seu ciclo normal, ela fica um pouco mais resguardada. Assim que tiver mais chuvas, aí, sim, vai aparecer mais cigarras no solo e em toda região”.
Machado explica que esse comportamento devido à falta de chuva pode prejudicar e atrasar a reprodução da espécie. É no momento em que a cigarra sai da terra, após períodos que podem passar de um ano, que o seu ciclo reprodutivo começa.
O canto, que vem do macho, nada mais é que uma forma de atrair as fêmeas e, quanto mais alto, melhor. Por mais que muitos pensem que o som vem da boca, ele na verdade é produzido a partir da vibração das membranas do abdômen, como se houvesse uma caixa de som atrás do tórax.
No entanto, com as altas temperaturas e o tempo seco, ainda são poucas que decidiram voar e sair debaixo da terra.
“Quando ela sai do solo que ela vai conhecer o mundo, então esse período ela vai sair para cantar e acasalar, vai ser o período que ela vai fazer a procriação do ciclo da vida dela. Após esse período, volta tudo de novo, ela volta pra terra e fica um grande período de novo, até chegar na estação chuvosa”.
Estiagem prolongada provoca ‘atraso’ no canto de cigarras e causa prejuízo nas lavouras de café
Reprodução/EPTV
Menos canto, mais problema na lavoura
O prejuízo, no entanto, não é apenas para a procriação da espécie. A ‘demora’ na saída das cigarras da terra prejudica também as lavouras de café, que já sofrem com os incêndios que atingem todo o estado de São Paulo.
O produtor rural Antonio Canassa planta café e lamenta a situação. Para ele, a cigarra é sinônimo de problema na lavoura.
“Pra mim, ela só traz prejuízo, não tem o que falar bem dela. Eu gasto dinheiro, o custeio do café aumenta muito”.
Estiagem prolongada provoca ‘atraso’ no canto de cigarras e causa prejuízo nas lavouras de café
Reprodução/EPTV
O engenheiro agrônomo esclarece que quanto mais tempo a cigarra fica embaixo do solo, mais seiva dos pés de café ela consome. Elas são consideradas pragas do cafeeiro.
“Isso resulta em uma queda de produtividade para o produtor de café, eles têm os custos com a parte de manejo, obviamente, mas quanto mais ela ficar no solo e tiver mais propagação do inseto, isso vai trazer mais danos para a lavoura de café, com queda de produtividade”.
Por fim, Machado conta que da mesma forma que os moradores da região torcem para a chuva cair, as cigarras compartilham do sentimento. A água pode ajudar na reprodução da espécie e aliviar, um pouco, o prejuízo dos produtores de café.
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