10 de janeiro de 2025

Delegado ligado a Brazão foi sócio de suspeito de fornecer arma usada na morte da vereadora Marielle Franco, diz relatório da PF

Investigação aponta que conselheiro do TCE Domingos Brazão influenciava em indicações para beneficiar William de Medeiros Pena Júnior. Domingos e o deputado federal Chiquinho Brazão, foram presos no domingo (24) suspeitos de serem os mandantes da morte da vereadora e do motorista Anderson Gomes. O delegado William Pena Júnior durante coletiva na Cidade da Polícia
Tomaz Silva/Agência Brasil/Arquivo
O relatório da Polícia Federal (PF) que embasou os mandados de prisão dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, e do delegado Rivaldo Barbosa, no envolvimento das mortes de Marielle e Anderson, mostra que o titular da Delegacia Antissequestro (DAS), o delegado William de Medeiros Pena Júnior, foi sócio do policial militar Robson Calixto Fonseca, o Peixe, apontado como o fornecedor da arma que matou Marielle.
Além disso, o documento destaca que, por conta da amizade, Domingos teria interferido na estrutura da Polícia Civil para nomear Pena Júnior em uma função de confiança da instituição: a Subsecretária Planejamento e Integração Operacional.
Antes de entrar na instituição, ainda agente penitenciário, Pena Júnior teria sido segurança de Domingos Brazão.
Apesar de ter sido citado no inquérito, o delegado não consta como investigado pela PF.
Robson Calixto, o Peixe, assessor de Domingos Brazão
Reprodução
Sociedade
Peixe foi alvo de um mandado de busca e apreensão no último domingo (24). O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que ele colocasse tornozeleira eletrônica.
O documento da Polícia Federal mostra ainda que Pena Júnior e Peixe foram sócios na RMW Consultoria e Serviços LTDA – que tem sede no Pechincha, na Zona Oeste do Rio, e exerce atividades como obras de acabamento de construção, manutenção de equipamentos hidráulicos e agenciamento de mão de obra.
A empresa funciona há mais de 10 anos e tem capital social de R$ 360 mil.
Festa de formatura no sítio de Brazão
A PF afirma, no relatório, que depois de Pena Júnior se tornar delegado, a festa de confraternização da formatura teria acontecido em uma propriedade da família de Brazão.
Segundo a PF, isso é mais um indício de proximidade entre William Pena Júnior e Domingos Brazão.
Influência de Brazão na carreira de delegado
Segundo o documento da Polícia Federal, a trajetória de Pena Júnior teve influência de Domingos Brazão.
Entre 2020 e 2021, o delegado atuou na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (Draco), unidade que é uma das responsáveis por investigar a atuação das milícias da Zona Oeste, onde fica o reduto político da família Brazão.
O policial quando era delegado da Draco
Reprodução
Em 2022, Pena Júnior foi nomeado pelo governador Cláudio Castro (PL) como presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro-RJ), órgão que também fiscaliza a atuação da milícia em transportes de vans e ônibus e autoriza leilões de veículos apreendidos — sendo de especial interesse para vendedores de automóveis e proprietários de ferros-velhos. Ali, ele permaneceu por 9 meses.
No ano seguinte, William Pena Júnior assumiu como subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Civil. Ele entrou no posto em setembro de 2023, dois meses após a Operação Élpis, em conjunto entre a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio (MPRJ) para investigar as mortes de Marielle e Anderson.
No mês seguinte, ele foi transferido para a Delegacia Antissequestro, onde atua até hoje.
“O cenário de ingerências políticas nas escolhas de funções de confiança junto às forças de segurança estaduais é mais um dos componentes nefastos do Rio de Janeiro. Nesse contexto, Brazão (…) teria promovido ingerência junto para a nomeação do delegado William Pena Júnior”, diz o documento que é assinado pelos delegados federais Guilhermo de Paula Machado Catramby, Jaime Cândido da Silva Júnior e Leandro Almada da Costa.
O que dizem os citados
Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou por telefone que Pena Júnior não é investigado e que ele deveria responder aos questionamentos da reportagem.
Em nota, Pena Júnior confirmou que conhece Peixe desde 2001, quando foram concunhados. E que desde então, mantem amizade até os dias de hoje. O delegado informou também que, por um tempo, foi sócio do policial militar até 2015.
Em relação a Brazão, o delegado destacou que conhece o conselheiro antes de ser policial, pois, segundo ele, parte de sua vida foi em Jacarepaguá.
No entanto, Júnior rechaça que tenha algum tipo de relacionamento com o conselheiro do TCE, negou que tenha sido segurança do conselheiro e afirmou que nunca precisou de nenhuma indicação política para qualquer cargo dentro da Polícia Civil.
Sobre a formatura, Pena Júnior salientou que ela aconteceu em uma casa de festas em Vargem Grande. No entanto, salientou que já fez eventos no sítio de Brazão.

Mais Notícias