14 de outubro de 2024

Gervão: conheça espécie brasileira com flores azuis

A flor oferece grande quantidade de néctar aos seus polinizadores O gervão-azul (Stachytarpheta crassifólia) é encontrado em áreas de vegetação aberta.
Dr. Vinicius Dittrich (UFJF)
O gervão, nome popular atribuído a várias espécies do gênero Stachytarpheta, da família Verbenaceae, costuma encantar diversas pessoas pela beleza de suas flores azuis, condição rara na natureza.
Uma das espécies brasileiras que fazem parte desse gênero é a Stachytarpheta crassifolia, popularmente chamada de gervão-azul. Trata-se de uma planta endêmica do Brasil, e uma das primeiras espécies deste gênero descritas para o país, em 1821.
O gervão-azul (Stachytarpheta crassifólia) é encontrado em áreas de vegetação aberta. “Ocorre principalmente ao longo da Cadeia do Espinhaço, nos estados da Bahia e Minas Gerais, dentro dos domínios do Cerrado e da Caatinga, mas também nas restingas do Rio de Janeiro e da Bahia, dentro do domínio da Floresta Atlântica”, explica Pedro Henrique Cardoso, doutor em botânica pelo Museu Nacional/UFRJ.
Na Cadeia do Espinhaço, o gervão-azul cresce nos campos rupestres com solo arenoso, geralmente formado por uma areia branca, e em geral pobre em nutrientes.
Na Cadeia do Espinhaço, o gervão-azul cresce nos campos rupestres com solo arenoso.
Dr. Vinicius Dittrich (UFJF)
“Esse tipo de solo é semelhante ao encontrado nas restingas, caracteristicamente arenoso, e com baixa capacidade de retenção de água. Essas condições fazem com que as plantas enfrentem desafios hídricos, mesmo em regiões com alta umidade como as planícies litorâneas”, elucida Pedro.
Interações ecológicas
As corolas tubulosas do gervão-azul atraem diferentes visitantes florais e oferecem grandes quantidades de néctar aos seus polinizadores, como borboletas e beija-flores.
Além disso, as plantas possuem nectários extraflorais, que desempenham a função de atrair formigas, proporcionando a elas uma fonte de alimento em troca de proteção contra herbívoros.
“Essa interação simbiótica ajuda a planta a reduzir danos causados pela herbivoria, enquanto as formigas obtêm os açúcares liberados pelos nectários”, explica o botânico.
Apesar de ter flores atraentes, a Stachytarpheta crassifolia não é cultivada como planta ornamental nem utilizada em projetos paisagísticos. “Isso se deve ao fato de a espécie estar adaptada a condições específicas de solo e clima, o que restringe seu uso fora de seu habitat natural”, informa Pedro.
Uso medicinal
As corolas tubulosas do gervão-azul atraem diferentes visitantes florais e oferecem grandes quantidades de néctar aos seus polinizadores.
Luiz Fonseca de Aguiar Neto
Para a espécie Stachytarpheta crassifolia não existem estudos sobre as propriedades químicas e medicinais. Em geral, tais estudos são focados em outra espécie do gênero, a Stachytarpheta cayennensis.
Esta espécie, chamada frequentemente de gervão-roxo ou apenas gervão, possui uma série de compostos bioativos e é muito utilizada pela medicina tradicional, com dezenas de aplicações, principalmente entre povos indígenas.
“A Stachytarpheta cayennensis é utilizada para tratar inflamação, dores do corpo, febre, distúrbios hepáticos e renais, problemas respiratórios, constipação, hipertensão, estresse, entre outros”, explica o botânico.
“Portanto, outras espécies do gênero, como a Stachytarpheta crassifolia, também podem conter uma variedade de compostos bioativos, embora ainda não tenham sido investigadas sob essa perspectiva”, completa Pedro.

*Texto sob supervisão de Lizzy Martins

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