18 de outubro de 2024

Mães tratando câncer e com filhos com paralisia choram ao narrar dramas do 5° dia sem luz em SP: ‘humilhação e dor ao jogar tanta coisa fora’

Moradores do Jardim Orly, na Zona Sul da capital paulista, estão desde sexta-feira (11) sem energia. A dona de casa Eliete Alves disse que perdeu mais de R$ 300 em alimentos, enquanto Maria Aparecida perdeu a única fonte de renda, com a geladeira 112 horas sem energia. Maria Aparecida de Araújo e Eliete Alves são moradoras do Jardim Orly, na Zona Sul de São Paulo. Elas entraram nesta quarta (16) no 5° dia sem luz.
Montagem/g1/Divulgação
No 5° dia de apagão em São Paulo, moradores do Jardim Orly, na Zona Sul da capital paulista, se emocionaram ao falarem das perdas acumuladas com a falta de energia. Passadas mais de 112 horas da chuva de sexta (11), 90 mil imóveis ainda estão no escuro na Grande SP, segundo a própria Enel.
A dona de casa Eliete Alves mora na rua Pedro Germi e chorou ao falar dos mais de R$ 300 perdidos em alimentos que estragaram na geladeira, em virtude da falta de luz.
“A gente perdeu tudinho. Nossas misturas. Ontem eu chorei com tanta mistura jogada fora e gente passando fome… Jogamos tudo fora, porque não tem condições de comer, né? São mais de R$ 300 de mistura que meu filho comprou com o VR. Só hoje que a Enel apareceu, depois que a reportagem veio aqui”, afirmou.
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Eliete Alves tem um filho de 29 anos com paralisia cerebral. Ele frequenta uma escola especial para esse tipo de jovem. O rapaz não consegue frequentar as aulas e faltou todos os dias na escola porque não tem como tomar banho.
“Ele está numa escola muito boa na Av. Cupecê, onde tem fono, fisio e TO. Lá tem luz que eu já liguei. Mas aqui não. Ele é muito pesado e cadeirante. Pra dar banho sem luz precisa esquentar água e é muito trabalhoso. Fiquei esperando a luz voltar e até agora nada”, afirmou.
“Eu fico triste, muito triste. Porque a gente paga direitinho as contas altíssimas que vem. A Eletropaulo era melhor do que essa Enel que está aí. É uma humilhação e uma dor perder tanta coisa, a gente sendo pobre, jogar tanta coisa fora…”, desabafou.
Eliete Alves tem um filho de 29 anos com paralisia cerebral e chorou ao falar das perdas em casa e da dificuldade de mandar o jovem para a escola.
Reprodução/TV Globo
Já a pensionista Maria Aparecida de Araújo está fazendo tratamento de câncer e vende salgados na frente de uma escola estadual na rua Jenny Lind para sustentar a família.
A escola com mais de 600 estudantes está fechada por falta de energia e, além de perder a clientela que são os alunos, ela ainda perdeu todo o estoque de alimentos usados para fabricar os produtos que vende.
“Dói no meu coração. Eu tenho câncer e luto aqui pra conseguir um dinheiro. Não tenho ganho 1 centavo esses dias. Tá acabando minhas compras, não tenho dinheiro pra comprar porque dependo da vendinha [dos produtos]”, afirmou.
“Tô jogando [os produtos fora] aos poucos, porque dói muito… Dói saber que tô jogando minhas coisas fora, que eu lutei tanto pra conseguir
A pensionista Maria Aparecida de Araújo, que perdeu todo o material que vende para conseguir renda e tratar um câncer.
Reprodução/TV Globo
Por causa da chuva de sexta (11), a Escola Estadual Waldemar Rodrigues da Silva Pastor tem uma árvore caída há quase uma semana dentro do estabelecimento.
Os funcionários dizem que já contataram a Prefeitura de SP, a Enel e a secretaria estadual de Educação, mas nenhuma providência foi tomada. As aulas na escola não têm previsão de retorno.
A reportagem constatou também que nas ruas do Jardim Orly há muito lixo acumulado, principalmente com comida estragada. O cheiro é muito forte.
O g1 e a TV Globo procuraram a Prefeitura de SP, a secretaria estadual de Educação e a Enel e aguarda retorno para atualização desta reportagem.
A Escola Estadual Waldemar Rodrigues da Silva Pastor que tem uma árvore caída há uma semana e mais de 600 alunos estão sem aula.
Reprodução/TV Globo
90 mil imóveis ainda no escuro
Moradores da Grande São Paulo completaram mais de 112 horas sem energia na manhã desta quarta-feira (16). Segundo informações da Enel, cerca de 90 mil imóveis ainda seguiam no escuro até as 11h.
De acordo com a Enel, do total, cerca de 7,6 mil se referem a ocorrências registradas no temporal de sexta (11). As cidades e bairros não foram informados.
“As equipes atuam, desde os primeiros momentos da tempestade de sexta-feira, no restabelecimento de energia para os clientes que tiveram o serviço afetado e para aqueles que ingressaram com chamados de falta de luz ao longo dos últimos dias”.
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R$ 1,65 bilhão em prejuízos
Levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) aponta que a falta de eletricidade em parte significativa da cidade de São Paulo, que já dura quatro dias, está gerando prejuízos graves aos setores do varejo e de serviços. A perda é estimada em R$ 1,65 bilhão.
Segundo a entidade, os cálculos consideram o faturamento que empresas dos dois setores deixaram de registrar no período e as perdas brutas até essa segunda-feira (14).
Só no varejo, segundo a Fecomércio-SP, os prejuízos são de pelo menos R$ 536 milhões nos três dias em que parte dos agentes do setor ficou sem funcionar na cidade. No caso dos serviços, as perdas somaram R$ 1,1 bilhão.
“Esses dados foram compilados levando em conta que, aos fins de semana, o comércio de São Paulo tende a faturar, em média, R$ 1,1 bilhão por dia, enquanto os serviços têm receitas de R$ 2,3 bilhões”, disse um comunicado da empresa divulgado na madrugada desta terça-feira (15).
“O valor deverá ser maior, porque a empresa responsável pela distribuição de energia, a Enel, ainda não forneceu respostas concretas sobre o retorno do serviço à totalidade dos imóveis que dependem da rede”, completou a Fecomércio-SP.
Restaurante sem energia elétrica na Rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, em 13/10/2024.
WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
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A Fecomércio afirma que está trabalhando desde sexta (11) para colaborar com os setores mais afetados pelo novo apagão em São Paulo, dialogando com autoridades –como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Prefeitura de São Paulo – e, em paralelo, exigindo que a Enel faça a restauração da distribuição com o máximo de urgência possível.
“Para a FecomercioSP, é inaceitável que a maior metrópole brasileira sofra com constantes cortes de energia, como vem acontecendo nos últimos meses. Pior do que isso, a cidade não pode ficar tanto tempo sem eletricidade em meio a esses episódios”, diz a nota da entidade.
O último apagão a atingir a Região Metropolitana de São Paulo, no fim de 2023, durou uma semana. Segundo a entidade, a falta desse serviço básico acarreta problemas significativos para a população e prejuízos enormes ao empresariado.
“A federação tem apontado à Enel como muitas empresas estão contabilizando perdas econômicas a cada dia sem luz, como mercados, restaurantes, farmácias e lojas do varejo, além de serviços que ficam impossibilitados de operar, já que, além da energia, estão sem acesso à Internet. Sem contar os custos excedentes para estabelecimentos que, diante da situação alarmante, não viram outra opção que não locar geradores, contratar mão de obra extra ou comprar combustíveis para manter dispositivos operando”, declarou.
Mortes e quedas de árvore
Falta de luz ainda afeta mais de 300 mil casas e comércios na Região Metropolitana de São Paulo
LEANDRO CHEMALLE/ESTADÃO CONTEÚDO
A falta de energia ocorre após um temporal ter atingido o estado de São Paulo na última sexta-feira (11). Segundo a Defesa Civil, sete pessoas morreram na região metropolitana e no interior do estado (veja mais abaixo).
A Prefeitura de São Paulo informou que registrou 386 ocorrências de quedas de árvores até esta segunda-feira. Destas, 49 aguardam a atuação da empresa Enel para que as equipes municipais iniciem o trabalho.
O temporal também atingiu 150 escolas, sendo 68 com falta de energia, de acordo com a Secretaria Estadual da Educação.
“Amanhã (15), não haverá aulas nas escolas estaduais por conta do Dia do Professor. As unidades sem energia elétrica já acionaram a concessionária responsável e aguardam a manutenção da rede. As equipes técnicas de obras da Seduc-SP continuarão a realizar os reparos para que as aulas retomem na quarta-feira (16)”, disse a pasta em nota.
Restaurante na Henrique Schaumann atende clientes à luz de velas
Rodrigo Rodrigues/g1
Conforme a Enel, em acordo feito com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a empresa cumprirá o prazo de três dias para restabelecer totalmente o fornecimento de energia a todos os clientes.
“Para atender casos críticos, a Enel disponibilizou 500 geradores (40 de grande porte) para serviços essenciais, como hospitais, e clientes que dependem de eletricidade para manutenção de equipamentos hospitalares, por exemplo.”

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