17 de outubro de 2024

Ozempic pode reduzir risco de overdose por opioides e álcool, mostra estudo

Pesquisa publicada na revista científica apontou que o uso de medicamentos de GLP-1 diminuiu em até 40% a overdose por opioides e em 50% a intoxicação por álcool em pessoas com dependência. Farmacêutico segurando embalagem de Ozempic, da Novo Nordisk, em farmácia em Utah, EUA.
REUTERS/George Frey
Além de ser utilizado para tratamento da diabetes 2 e para perda de peso, o Ozempic pode reduzir o risco de overdose em pessoas com vício em opioides e álcool.
Um estudo, publicado nesta quinta-feira (17) na revista científica Addiction, mostrou que o uso de medicamentos de GLP-1, como o Ozempic, reduziu em até 40% a overdose por opioides e em 50% a intoxicação por álcool.
👉A pesquisa foi realizada nos Estados Unidos com prontuários de pouco mais de 503 mil pacientes com histórico de transtornos de dependência de opioides e cerca de 817 mil pessoas dependentes de álcool.
Os participantes do estudo faziam uso do Ozempic ou remédios semelhantes para tratar condições diabéticas ou relacionadas ao peso.
Fares Qeadan, professor do Departamento de Ciências de Saúde Pública da Loyola University Chicago e um dos autores do estudo, explica que os medicamentos de GLP têm como alvo as vias ligadas à recompensa no cérebro, especificamente áreas que processam recompensa, motivação e desejos. (entenda mais abaixo)
“Ao modular essas vias, os medicamentos parecem reduzir os desejos e comportamentos viciantes, potencialmente amortecendo os sinais de recompensa associado ao uso de drogas”, detalha.
Ele ainda complementa que esse mecanismo é diferente dos tratamentos tradicionais para transtornos por uso de substâncias, que bloqueiam diretamente os receptores de opioides ou controlam os sintomas de abstinência.
“O uso dos medicamentos de GLP podem representar uma nova abordagem para complementar os tratamentos de dependência já existentes, visando o vício de forma de indireta”, analisa o pesquisador.
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Como funciona o Ozempic?
O Ozempic, um dos medicamentos mais conhecidos para tratamento da diabetes 2 – e que passaram a ser utilizados com o objetivos de perder peso – tem como princípio ativo a semaglutida.
A semaglutida simula o funcionamento de um hormônio produzido pelo corpo, o GLP-1.
Esse hormônio é secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro, no hipotálamo, e estimula algumas células, diminuindo o apetite, por exemplo.
🧠O hipotálamo também está relacionado com o sistema de recompensa e com a produção de hormônios que geram sentimentos de prazer e excitação.
Naturalmente, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima também produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio.
No caso dos medicamentos que simulam a ação do hormônio, há uma resistência à ação da enzima DPP4, fazendo com que durem mais no corpo.
Veja na arte abaixo como o medicamento funciona no corpo:

Futuro do tratamento de dependência
Apesar dos resultados promissores do estudo, Fares Qeadan explica que são necessárias mais pesquisas para confirmar os efeitos positivos do GLP-1 no combate à dependência de opioides e álcool.
“Mais estudos de longo prazo são importantes para determinar se uma tolerância ao tratamento pode se desenvolver, por exemplo”, afirma.
O próximo passo da pesquisa é conduzir estudos randomizados que podem testar os efeitos do GLP-1 em um ambiente mais controlado, visando especificamente pessoas com transtornos por uso de substâncias.
Ainda assim, Qeadan reforça que as descobertas do estudo sugerem que esses medicamentos têm potencial como uma opção de tratamento complementar para transtornos por usos de substâncias.
“Se pesquisas adicionais confirmarem sua eficácia, esses remédios podem se tornar uma abordagem mais amplamente adotada, especialmente para pacientes que podem não responder totalmente aos tratamentos tradicionais”, prevê.
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