18 de outubro de 2024

‘Está muito difícil trabalhar, os caras toda hora descem com fuzil’, diz motorista de ônibus sobre sequestros para fazer barricada

Em 1 ano, 132 coletivos foram tomados por bandidos para fechar vias. Ônibus são sequestrados e usados como barricadas no Itanhangá
“Tá muito difícil trabalhar. Os caras toda hora descem com fuzil, fecham a via, mandam a gente descer, ficam ameaçando, botam os passageiros pra baixo. Tá muito difícil mesmo.”
O desabafo é de um motorista de ônibus sobre a tática de criminosos de tomar coletivos a fim de fechar vias, crime cada vez mais comum no Grande Rio. O objetivo é causar tumulto e dificultar a chegada das forças policiais durante operações ou confrontos com rivais.
Nos últimos 12 meses, 132 ônibus foram sequestrados e usados como barricadas no Rio de Janeiro, segundo o sindicato das empresas, o Rio Ônibus. Outros 29 veículos foram incendiados no mesmo período. A conta do vandalismo já passou de R$ 70 milhões desde 2023.
Em praticamente todos os casos, condutores e passageiros não são mantidos reféns, mas são obrigados a desembarcar às pressas, sob a mira de armas. Os bandidos ora pegam as chaves, ora destroem o tambor de ignição — tudo para retardar a retirada das “barricadas”.
Nesta quarta-feira (16), 9 ônibus foram usados por bandidos como barreira na Estrada do Itanhangá, na Zona Oeste do Rio, durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade da Tijuquinha. O secretário de Segurança Pública do RJ, Victor Santos, disse que não houve feridos nem confronto.
“Esse é o tipo de estratégia que os criminosos utilizam para desviar a atenção da Polícia Militar do ponto onde a gente está atuando ali, tentando criar essa cortina de fumaça, levando a desordem, o caos para pessoas inocentes”, disse a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Cláudia Moraes.
Bandidos usam ônibus como barricadas na Estrada do Itanhangá e na Muzema
Reprodução/TV Globo
Tarde de pânico
Segundo Santos, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) frustrou uma tentativa de invasão do Comando Vermelho a Rio das Pedras, região dominada pela milícia.
O setor de inteligência da Polícia Militar identificou que a Tijuquinha servia de base da facção para a investida. O Bope foi acionado.
Em retaliação, bandidos tomaram as chaves de nove ônibus e atravessaram os veículos na Estrada do Itanhangá, que dá acesso às comunidades da Muzema, Tijuquinha e Rio das Pedras.
“Os criminosos entraram no coletivo, retiraram as chaves. Isso já é uma praxe que tem sido feita. É a forma que eles encontram de atrapalhar o trânsito, não só para a chegada de novas viaturas, mas também fazer com que um número grande de pessoas acabe transitando pelas vias”, disse o secretário.
“O Comando Vermelho com esse planejamento de expansão tem causado esse tipo de transtorno. Então, obviamente, a gente lamenta tudo que a população naquele local passou, principalmente os motoristas, todos os passageiros que estavam no ônibus, mas a polícia agiu dentro do que era possível fazer naquele momento, que era evitar um dano maior, que é colocar essa população em meio a uma troca de tiros entre traficantes e milicianos”, completou.

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