13 de outubro de 2024

28 anos da morte de Renato Russo: ‘Perfeição’, último clipe da Legião Urbana, foi gravado em Maricá

O g1 conversou com Flavio Colker, o diretor do clipe da música presente no disco ‘O Descobrimento do Brasil’. Saiba curiosidades envolvendo a concepção do clipe. Último clipe da banda Legião Urbana foi gravado em Maricá e foi dirigido por Flavio Coolker
Reprodução
Há 28 anos, o Brasil se despedia de Renato Russo. O cantor e compositor, conhecido por ser o líder da banda Legião Urbana, morreu aos 36 anos em 11 de outubro de 1996.
Antes da sua partida, Renato deixou inúmeras músicas, como “Pais e Filhos”, “Tempo Perdido” e “Será”, que continuam sendo algumas das canções mais famosas do pais. Um dos últimos trabalhos de Renato Russo com a banda Legião Urbana foi a gravação do clipe de “Perfeição”, que inspirou o clipe que é considerado o último da banda.
A letra da música fala sobre o ideal e o real e teve. O clipe foi gravado em uma fazenda de Maricá, na Região Metropolitana do Rio.
O responsável pela direção do vídeo foi Flavio Colker. O diretor contou ao g1 que, para ele, chegar à concepção do clipe foi mais importante do que as gravações.
“Eu escutei a música, fiquei emocionado. A música tinha uma inspiração muito forte, emocionava mesmo. Eu sabia que estava diante de uma coisa especial. Eu parti da concepção da capa [do disco ‘O Descobrimento do Brasil’] , para fazer algo com flores. Porque, para o Renato, as flores simbolizavam a delicadeza. Ele tinha uma ideia, uma critica ao mundo da gente, que eu acho que procede. Porque falta delicadeza. A gente vivia uma brutalidade nas relações, com o mundo, com os outros. Então, as flores tinham essa conotação”, explica o diretor.
Flavio conta que então, pensou em levar as flores para uma paisagem real. Ele diz que na natureza, você não tem esse arranjo de flores perfeito. “Você tem mato, terra. O que eu queria dizer é que na natureza, as flores seriam um símbolo, não seriam uma situação real, serial o ideal a ser alcançado. A gente elaborou nessa concepção, criar esse cenário de flores artificial, em um campo natural, em uma fazenda. As gravações foram a partir dessa concepção”, lembra.
O diretor fala que encontraram esse local em Maricá e levaram a banda, a equipe, para o local.
“Eu tinha conversado com o Renato e ele tinha me dito que queria algo que passasse uma imagem apolínea. Ele estava ligado nessa coisa entre Apolo e Dionísio, da cultura grega. Dionísio era conturbação e Apolo era serenidade. Ele queria um vídeo sereno e a música não é serena. É uma música que expressa paixões, contraste. Então, tinha esse desafio. Isso na gravação, eu fui gravando trechos, sem maior problema, e aí fomos para a edição”.
“Aí sim, eu tinha que colocar todas essas questões que o Renato pedia, o ritmo da música. Como narrar as ideias, fazer com que elas aparecessem, o natural e artificial”, explicou.
Ele e o editor foram montando o clipe e tiveram a ideia de deixar as imagens em câmera lenta e usar uma fusão de uma imagem sob a outra.
Cena do clipe ‘Perfeição’ onde Dado Villa-Lobos aparece andando sem camisa em cima de um cavalo. Clipe foi gravado em Maricá
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“Quando eu vi isso acontecendo, eu disse ‘agora sim estou vendo algo edílico, algo que parece um sonho’. Isso surgiu de um plano do Dado Villa-Lobos que pegou um cavalo, montou no cavalo sem camisa, e saiu cavalgando enquanto a gente estava preparando um take. Eu falei para o fotógrafo, que era o Zé Guerra, ‘filma isso porque estava lindo’. Na edição, quando vi esse plano, eu resolvi sobrepor sobre outros planos e resolvi criar, como se fosse um acorde de imagens. Uma imagem tecendo a outra”, disse.
Flavio lembra que montaram o clipe em cima do Renato Russo cantando, dos planos da banda junto com as flores artificias sob a paisagem natural.
“Era o tempo todo a ideia e o real, que era a questão do Renato, porque nós somos tão brutos com os outros quando deveríamos ser delicados”, lembra.
Renato Russo em um dos takes do clipe de Perfeição. Imagens foram feitas em Maricá e flores artificiais foram utilizadas na gravação
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Para o diretor, a gravação é a feitura do clipe. A banda é o personagem principal dentro de uma ideia que veio das músicas do Renato, da militância dele contra a brutalidade, da capa do disco, de tudo, e que ele só juntou essas coisas sendo o diretor do clipe. Durante a edição, a banda fez uma visita e houve um debate entre eles.
“O Renato queria algo mais plácido para o clipe e eu sabia que a gente deveria seguir o ritmo da música. A música tinha uma batida muito forte, que andava pra frente, e eu não podia montar alienado a esse ritmo. A gente teve esse debate e eu acabei fazendo do jeito que tinha que fazer e o clipe acabou sendo um grande sucesso. Mas acho que o sucesso mair é da música, é uma muito forte. Eu só tive a honra de fazer o clipe”, recorda.
Montanha em Maricá no ano de 1996 – gravação do clipe e em 2021.
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Documentário sobre ‘Perfeição’
A gravação de “Perfeição” em Maricá inspirou um documentário do diretor de fotografia, Rafael Ramos, de 41 anos. A ideia surgiu porque ele sempre foi muito fã da manda e tinha curiosidade de saber o local onde o clipe havia sido gravado.
Ele passou quase dois anos tentando descobrir o local e ir até lá. Rafael encontrou o endereço depois de ver uma publicação em uma rede social de um fã que morava lá na época.
“Eu não encontrava esse local na Internet e como sou fã da banda, resolvi pesquisar o local e encontrei, e resolvi fazer o documentário homenageando a banda, daí convidei a Chris Fuscaldo e o Carlos Trilha para concederem uma entrevista sobre isso”, diz.
Rafael Ramos voltou ao local onde clipe foi gravado em Maricá
Rafael Ramos/Arquivo pessoal
A produção do documentário durou quatro meses e foi inspirada no fato desse clipe ser o seu favorito da Legião Urbana.
“A fotografia do clipe é muito bela. E também por ser o último da banda, para os fãs , teve um peso a mais por conta disso. Então, primeiro eu fiz a pesquisa e localizei o local do videoclipe, depois eu fui até o local e gravei as imagens com drone. Em seguida fiz um roteiro de perguntas para a Chris, escritora do livro Discobiografia Legionária, que gravou as respostas para mim e me enviou. Depois tive um pouco de dificuldade para conseguir uma data com o Carlos Trilha, pois o mesmo estava viajando, porém conseguimos combinar um dia e gravei a entrevista com ele no seu estúdio”, lembra.
Após isso, ele conta que foram alguns dias fazendo a edição do documentário que foi lançado em 2021.

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