29 de setembro de 2024

30 anos de Narcóticos Anônimos em Sorocaba: ex-dependentes químicos relatam histórias de recuperação

Conheça histórias de ex-dependentes químicos que encontraram no Narcóticos Anônimos uma meio para se desvincilhar do vício; programa completa 30 anos neste sábado (28) e promove atividades na cidade. Centro de Serviço do Narcóticos Anônimos na Avenida Dr. Afonso Vergueiro, em Sorocaba (SP)
Divulgação
O Narcóticos Anônimos (NA), programa que incentiva a abstinência do uso de drogas, completa, neste sábado (28), 30 anos de existência em Sorocaba (SP). O NA está em 144 países e realiza mais de 70 mil reuniões semanais em todo o mundo. Qualquer pessoa pode participar das reuniões – que são totalmente gratuitas.
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Em celebração ao aniversário do programa, o g1 conversou com dois dependentes químicos em recuperação do município, que compartilham suas experiências e relações semanalmente nas reuniões. Para manter o anonimato, eles não serão identificados.
Narcóticos Anônimos (NA) completa 30 anos em Sorocaba (SP)
Divulgação
Um dos entrevistados é um gerente administrativo de 46 anos, que está “limpo” há mais de 10 anos. O membro ainda faz parte do subcomitê de relações públicas do movimento, buscando ajudar pessoas que ainda não conhecem o programa.
“Muita gente acredita que nós somos uma clínica, mas não. Não combatemos as drogas e nem fazemos prevenção. Nós oferecemos um ambiente saudável de recuperação, onde a pessoa precisa ter o desejo de estar ali. Se ela não quiser participar, ninguém pode obrigá-la. E a gente também sabe que essa decisão não é sobre ela ser egoísta, que não é falta de vergonha na cara. É uma doença. Mas ela tem tratamento e pode ser detida.”
Ele conta que conheceu o programa por meio de sua mãe. Um certo dia, entregaram um panfleto de ajuda para dependentes químicos à mãe dele, que imediatamente lembrou do filho, com esperança.
“Um dia eu acordei e estava no hospital. Não lembrava como fui parar ali, eu estava muito debilitado, deitado na maca, e chorava de desespero. Olhei para o lado e ouvi minha mãe dizer ‘filho, você quer ser ajudado ou vai esperar sua mãe morrer?’, e então pedi ajuda”, conta o gerente.
“Eu dizia: ‘Mãe, eu não aguento mais. Não aguento mais sofrer, não aguento mais sentir dor’. Foi quando ela me apresentou o NA, e eu pensei: ‘Já tentei tantas coisas, por que não tentar essa?’. E aqui estou.”
Narcóticos Anônimos segue “Programa dos 12 passos” para fortalecer reuniões de recuperação
Prefeitura de Avaré/Divulgação
O outro entrevistado é um psicólogo de 53 anos, que está há 13 anos sóbrio. Ele conheceu o Narcóticos Anônimos durante uma internação médica, por meio dos livros e do subcomitê do programa.
Para ele e os companheiros de jornada, a programação é uma grande rede de apoio. “Ela me oferece as condições necessárias para enfrentar as demandas e dificuldades em minha vida”, explica.
“Antes eu me anestesiava com drogas, hoje sigo a programação, admitindo minha condição e atendendo ao pedido de ajuda de outros companheiros.”
Passado
O membro reflete em seu passado e compartilha que, há alguns anos, teve oportunidades de se graduar, mas devido ao vício, sofreu perdas em sua vida. “Sou de uma família de quatro filhos, todos formados. Uma irmã com três faculdades, um com duas, o outro com cinco. Eu era o ‘ovelha negra’, vamos dizer assim”, desabafa.
“Fui me graduar mesmo quando já estava com mais de 48 anos; me formei ano passado. Foi uma maneira de me resgatar, me reparar, me reconstruir, me reeditar, e de me reciclar. Resiliência pura.”
Remédios, drogas, doenças, termômetro, máscara, gripe, resfriado (imagem ilustrativa)
Diana Polekhina/Unsplash
O processo de recuperação marcou a vida do psicólogo, que ressalta a importância de ser fiel ao programa, pois, com um membro dando força para o outro, o fardo da abstinência se transforma em uma fortaleza.
“A prática do programa me permite voltar a ser filho, amigo, marido e profissional. Me permite existir. Reconstruí minha vida, como se fosse uma reparação comigo mesmo. Voltei a me amar e a me respeitar. Sonhos que haviam se perdido foram resgatados. Mas pra isso continuar acontecendo, primeiro eu tenho que estar sóbrio. Minha prioridade é ficar limpo e praticar o programa, e aí o resto me é permitido.”
“Fiquei um bom tempo preso na dependência. Tentei várias coisas, como a medicina, a religião e outras alternativas, mas não consegui. Não posso dizer que elas não funcionam, eu que não consegui por esses meios. Sei que, quando eu encontrei o programa, eu nunca mais usei drogas. Cheguei e nunca mais recaí”, conta.
Programação especial de aniversário
Desde a última quinta-feira (26), o NA realiza atividades com o apoio de professores, Polícia Militar e Guarda Municipal, profissionais da saúde, entre outros. Escolas, clínicas, penitenciárias e espaços públicos foram visitados com o propósito de levar conhecimento sobre o programa.
Também foram providenciadas ações como a distribuição de banners e a inclusão de informações sobre o serviço em rodapés das contas de água e em painéis eletrônicos da Rodovia Castello Branco, a fim de alcançar pessoas que podem ser ajudadas pelo grupo.
O aniversário será comemorado às 21h deste sábado (28) no Centro de Serviço que fica na Avenida Dr. Afonso Vergueiro, n° 1238, no Centro de Sorocaba. Membros do município, de outras cidades da região e de outros estados irão participar junto de seus familiares.
O que é o programa de Narcóticos Anônimos?
Membros do Narcóticos Anônimos tentam alcançar novos dependentes químicos por meio de informações em painel eletrônico da Rodovia Castello Branco
Divulgação/CCR
Alcoólicos em recuperação relatam experiências e desafios para largarem vício
*Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda
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