Uma das perguntas que os investigadors estão fazendo é se um evento climático anormal afundou o iate de luxo Bayesian. Seis corpos foram encontrados após o naufrágio do Bayesian na costa de Palermo, na Sicília
EPA/via BBC
Ainda demorará muito até que se saiba como foi exatamente o naufrágio do iate Bayesian que navegava sob a bandeira do Reino Unido.
O super iate de luxo transportava 22 pessoas quando uma forte tempestade que criou trombas d’água o atingiu na manhã de segunda-feira (19/8).
Seis corpos foram resgatados do naufrágio.
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Especula-se sobre o que deu errado, e se a culpa foi do capitão, da tripulação ou por conta de falhas do próprio iate.
Mas especialistas disseram à BBC que provavelmente foi um fenômeno climático incomum e que ninguém é necessariamente culpado.
Estas são as principais perguntas que os investigadores farão ao apurar as causas da tragédia.
1. A quilha estava levantada? Se sim, por quê?
Uma das principais questões enfrentadas pelos investigadores é o papel da quilha do navio.
A quilha é uma parte alongada do barco em forma de barbatana que se sobressai de sua base.
A parte inferior da quilha, que é a parte mais baixa do barco, contém um peso enorme, o bulbo, que mantém o barco estável.
Quando o vento empurra o barco para um lado, a quilha sobe na água até que, como uma gangorra, o peso da quilha empurra o barco para trás para nivelá-lo.
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Em um barco do tamanho do Bayesian, as quilhas costumam ser projetadas para retrair, para que o navio possa atracar em áreas não tão profundas, como um porto.
Quando a quilha está numa posição elevada, o barco fica muito menos estável.
Neste caso, os restos do Bayesian foram encontrados a 50 m de profundidade, sugerindo que não havia razão para que a quilha precisasse ser retraída.
Mas isso não significa que o capitão ou a tripulação foram os culpados.
“Mesmo sem a quilha totalmente estendida, o barco é estável e apenas um grande fluxo de água poderia ter causado o naufrágio”, disse o porta-voz do The Italian Sea Group, dono da empresa que construiu o Bayesian, ao jornal Telegraph.
Os investigadores vão querer saber se a quilha estava “elevada, abaixada ou algo intermediário”, diz Jean-Baptiste Souppez, membro do Royal Institute of Naval Architects e editor-chefe do Journal of Sailing Technology.
2. Que medidas a tripulação tomou durante o alerta meteorológico?
O capitão do Bayesian, James Cutfield, teria dito à imprensa italiana que não poderia ter previsto a tempestade que atingiu o iate.
Mas sabemos que o mau tempo foi previsto de antemão.
Luca Mercalli, presidente da Sociedade Meteorológica Italiana, disse na terça-feira (20/8) que, dada a má previsão, a tripulação deveria ter se assegurado de que todos os convidados estavam acordados e que todos tivessem coletes salva-vidas.
Um sobrevivente teria dito à equipe médica que o navio começou a afundar apenas dois minutos depois de ela dormir.
O mau tempo é uma coisa, mas uma tromba d’água marinha é algo totalmente diferente. E não é algo que a tripulação pudesse ter previsto.
Um especialista local na Sicília disse à agência de notícias Reuters que o primeiro foco da investigação seria se a tripulação do iate não havia fechado as escotilhas de acesso antes do mau tempo chegar.
Mas, num navio deste tamanho, as escotilhas abertas por si só provavelmente não teriam sido suficientes para causar o afundamento do Bayesian, dizem os especialistas.
Existem também outros pontos de entrada de água ao redor do navio, conhecidos como “pontos de inundação”, que existem para permitir a ventilação da casa de máquinas, entre outras coisas.
“Obviamente haverá perguntas sobre a tripulação, o que aconteceu e se eles estavam preparados”, diz Souppez.
“Mas acho importante lembrar que o navio afundou em questão de minutos, então, na realidade, para a tripulação conseguir manter vivas tantas pessoas a bordo no meio da noite, lançar o sinalizador e agir no estresse do momento é uma tarefa difícil”, ressalta.
“É muito difícil dizer com precisão o que aconteceu aqui”, disse Paul Stott, membro do Royal Institute of Naval Architects.
“Mas é improvável que a tripulação pudesse ter reagido de alguma forma para salvar o iate diante de um evento climático tão repentino e catastrófico.”
3. Como o navio afundou tão rapidamente?
Um médico que tratou dos sobreviventes indicou que o barco “virou em poucos minutos”.
Uma questão fundamental é como exatamente isso aconteceu e como aconteceu tão rapidamente.
“Para o barco afundar, especialmente nessa velocidade, a água entra no barco em toda a sua extensão”, diz Jean-Baptiste Souppez.
“Barcos como este não foram projetados para resistir a qualquer período de tempo a 90 graus”, acrescenta.
“Portanto, se o navio estivesse a 90 graus, então seria de esperar que a água entrasse, independentemente se as escotilhas estivessem abertas ou não. Embora isso obviamente acelerasse o processo.”
Alguns especularam que uma tromba d’água marinha que sobrevoava o Bayesian poderia ter sido “estourada” pelo mastro, despejando uma grande quantidade de água no navio e afundando-o rapidamente.
4. Foi apenas um acidente incomum, causado pelo clima?
Testemunhas disseram que viram uma tromba d’água se formar durante a tempestade antes do afundamento do Bayesian.
A maioria das pessoas sabe como são os tornados: são colunas giratórias de ventos destrutivos que se projetam da base das nuvens até o solo.
De acordo com especialistas em meteorologia da BBC, as trombas d’água também são assim, mas ocorrem sobre a água e não sobre a terra.
Com o aumento da temperatura do mar devido às alterações climáticas, há preocupações de que se tornem mais comuns.
De acordo com o Centro Internacional de Pesquisa de Trombas Marinhas, ocorreram 18 trombas d’água confirmadas na costa da Itália somente no dia 19 de agosto.
Mas a probabilidade de uma delas atingir diretamente um navio, como se especula que poderia ter acontecido aqui, permanece muito baixa.
“Acho que o resultado final será que, mesmo que tenha havido problemas com a quilha ou com as escotilhas abertas, provavelmente ainda estamos diante de um acidente climático incomum”, diz Souppez.
Por sua vez, Paul Stott diz que “é provável que este seja um projeto moderno muito seguro que encontrou condições climáticas anormais para as quais nada foi projetado”.