15 de novembro de 2024

48 cidades do interior de São Paulo estão em alerta máximo para queimadas; duas pessoas morreram

Onda de incêndios já destruiu mais de 20 mil hectares nos últimos três dias e obrigou mais de 800 pessoas a saírem de casa, segundo o governo estadual. Incêndios atingiram dezenas de cidades no interior de São Paulo
Reprodução/TV Globo
A onda de incêndios que atinge o interior de São Paulo já deixou 48 cidades da região em alerta máximo para queimadas. Duas pessoas morreram e mais de 800 tiveram que deixar suas casas desde que o fogo começou, na sexta-feira (23), segundo dados do governo estadual.
Mais de 20 mil hectares já queimaram na região, que teve mais de 2.300 focos de incêndio em apenas três dias, de acordo com a Defesa Civil. Imagens de moradores de cidades afetadas mostram o céu coberto por uma camada de fumaça. Foi o agosto com mais focos de incêndio da história do estado de São Paulo desde 1998.
Uma situação que, além da ação humana, foi agravada pela baixa umidade do ar, o vento e as altas temperaturas.
“Nós tivemos rios de fumaça combinados com um estado onde a temperatura estava muito alta e também muito seco. E esses rios de fumaça vêm acompanhados de fortes ventos, que também ajudam a espalhar tanto a fumaça que vem da Amazônia, quanto a dos próprios focos de incêndio do estado de São Paulo”, diz Raquel Albrecht, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
O Governo de São Paulo montou um gabinete de crise para coordenar os trabalhos de combate ao fogo. O governador Tarcísio de Freitas confirmou que duas pessoas suspeitas de atuar em incêndios criminosos no interior do estado foram presas.
“Nós temos três situações. Primeiro, a combinação de uma estiagem severa, baixa umidade relativa do ar, ventos fortes, e ai, qualquer coisa provoca uma ignição e o espalhamento desses incêndios. Nós tivemos a ação de criminosos. Ontem teve uma prisão em São José do Rio Preto, hoje uma prisão em Batatais. Um criminoso, com passagem pela policia, ateando fogo. Quer dizer, querendo agravrar a situação. As forças de segurança estão bem mobilizadas pra impedir esse tipo de ação. São aquelas pessoas que têm descarte pra fazer e querem aproveitar o incêndio pra queimar o lixo, pra queimar o resíduo e isso é inaceitável”.
Veja a situação das queimadas no mapa do país:
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Em Araraquara, uma das cidades mais atingidas, um assentamento de 200 famílias foi tomado pelo desespero. “Foi terrível, minha mãe começou a chorar, desesperada, ela perdeu a cabeça e a gente não sabia o que fazer”, contou o agricultor Bertolino Alves Neto.
Em meio ao desespero, Hélio Barbosa, pensionista, conseguiu resgatar uma égua. “Eu catei ela, fui conversando com ela, porque o animal nessa hora fica em pânico. Aí fui acalmando, acalmando”.
Cerca de seis focos de incêndio ainda permanecem na região, alguns deles na cidade de Ribeirão Preto, que mesmo três dias depois do início do fogo ainda convivia com uma camada de fumaça no céu. Na cidade, rajadas de vento de até 80 km/h espalharam o fogo pelas casas em poucos minutos.
Em Altinópolis, cidade de pouco mais de 16 mil habitantes próxima a Ribeirão, uma festa rave acontecia em uma fazenda, no sábado (24) à tarde, quando o público começou a perceber o fogo. Minutos depois, o local teve que ser evacuado.
Cerca de 500 pessoas precisaram de atendimento médico por inalação de fumaça.
Governo Federal abre inquéritos para investigar queimadas
O Governo Federal montou uma força-tarefa para combater os incêndios em São Paulo, no Pantanal e na Amazônia. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu ajuda à Polícia Federal para investigar a possibilidade de incêndios criminosos.
“Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo, isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem no fogo”, disse a ministra.
Marina chamou de atípico o volume de incêndios registrados nos últimos dias no estado de São Paulo, e comparou as queimadas de agora com o Dia do Fogo, data marcada por diversos incêndios criminosos no Pará, em 2019.
“Do mesmo jeito que nós tivemos o dia do fogo, há uma forte suspeita que agora esteja acontecendo de novo. No caso do Pantanal, a gente teve ali a abertura de dez frentes de incêndios por semana. No caso da Amazônia, nós identificamos o mesmo fenômeno. E em São Paulo, não é natural em hipótese alguma que em poucos dias você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo vários municípios”.
O presidente Lula antecipou o retorno de São Paulo para acompanhar as medidas do governo contra os incêndios. Lula permaneceu por uma hora ouvindo explicações do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e de Marina Silva.
A Polícia Federal abriu duas frentes de investigação para apurar as causas das queimadas no interior de São Paulo. A competência federal foi justificada porque a fumaça prejudicou a operação de dois aeroportos, que ficam em áreas de competência federal.
Outros inquéritos já tinham sido abertos para investigar as queimadas na Amazônia e no Pantanal. A PF disse ter ferramentas para recuperar imagens antigas dos locais atingidos pelo fogo e descobrir como ele começou.
“Para essa apuração, é importante que se diga, nós utilizamos também sistemas de satélites que o Ministério da Justiça disponibiliza à Polícia Federal e a centenas de outras agências, pra que a gente consiga, a partir das imagens, retroceder no tempo e identificar o ponto inicial dos incêndios”, disse Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal.
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