20 de setembro de 2024

A 3 dias da propaganda eleitoral na TV e rádio, candidatos de SP travam batalhas na Justiça e nas redes sociais com acusações e apelidos

Segundo os especialistas, as ‘baixarias’ nas redes sociais são vistas como prenúncio de toda a campanha até o primeiro turno. Candidatos à Prefeitura de São Paulo são entrevistados esta semana na GloboNews
Divulgação
Faltando quatro dias para o início do horário eleitoral gratuito e as propagandas políticas no rádio e na televisão, os principais candidatos à Prefeitura de São têm travado uma guerra de versões por meio de vídeos na internet e ações judiciais que dão o tom da disputa na maior cidade do país.
A partir do dia 30 de agosto, a Justiça Eleitoral autoriza a veiculação da propaganda eleitoral dos candidatos a prefeito e a vereador em todo o país, no rádio e na televisão. Segundo os especialistas, o que tem se visto nas redes sociais nos últimos dias é uma “prévia” do que deve ser a disputa nos meios eletrônicos a partir de sexta-feira (30) na capital paulista, até o fim do 1° turno.
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Na visão de quem estuda os pleitos eleitorais, essa já é uma campanha marcada pela “baixaria” e a “falta de qualquer rigor ético” desde a retomada do direito ao voto no país, em 1989.
Em onze dias de campanha, o candidato Pablo Marçal (PRTB) já acusou o candidato Guilherme Boulos (PSOL) de usar cocaína sem apresentar provas e foi responsabilizado pela Justiça Eleitoral, já falou que a candidata Tabata Amaral (PSB) foi responsável pela morte do pai, além de criar inúmeros apelidos pejorativos para os adversários, em uma estratégia que já tinha sido usada em 2018 por Jair Bolsonaro (PL), de mais ataques e menos propostas. Na Justiça, ele perdeu
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Em resposta, os adversários Boulos, Tabata e Datena (PSDB) acusam Marçal de ter ligações políticas com a facção criminosa PCC, além de levantar a ficha criminal dele, que inclui uma prisão e uma condenação em 1ª instância em Goiás por envolvimento com uma quadrilha que realizava fraudes bancárias contra idosos.
Tabata também fez um vídeo sobre a condenação de Marçal e questionou de onde veio o dinheiro para a defesa do candidato, que até então não era rico. Ela chama o coach para o debate, e duvida que os novos perfis das redes sociais de Pablo tenham conseguido milhares de seguidores, em tão pouco tempo, de maneira lícita. Ela diz que não foi pelo “rostinho harmonizado” de Marçal.
Enquanto isso, Ricardo Nunes (MDB) foca nos apelidos contra Boulos (invasor), Datena (gagá) e Marçal (lunático).
“Seguramente essa é a campanha com mais baixarias que já se viu em SP e no Brasil desde a redemocratização. E acho que ainda vai piorar bastante antes de melhorar, porque a repercussão que o candidato da direita atingiu deve ser replicada por outros candidatos aqui no estado e no restante do país. Tudo foi uma prévia. Só deve melhorar quando o eleitor evidenciar claramente que não está a fim de vale-tudo e falta de qualquer rigor ético, mas de discutir os rumos de suas cidades”, afirmou o cientista político Magno Karl.
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O cientista lembra de um marco ético desenhado na eleição de 1989 entre Collor e Lula, que dizia até onde uma campanha política poderia ir.
“Em 1989, tivemos aquele episódio do Collor acusando Lula de ter filha fora do casamento e de ter pedido pra mãe da menina abortar. Apesar da vitória de Collor, houve uma reação muito forte da sociedade de que aquilo era uma baixaria e o episódio virou um marco até onde uma campanha poderia ir. E Collor ficou marcado por isso. Mesma situação quando a Marta insinuou que o Kassab era gay ao dizer que não era casado e não filho. Mas agora, o candidato Marçal extrapolou todos esses limites éticos, e, até aqui, conseguiu atingir o objetivo de ser o mais falado e comentado, refletindo isso nas pesquisas”, completou.
O professor de Marketing digital da ESPM João Finamor, acredita que os primeiros dez dias de campanha em São Paulo foram marcados por uma estratégia de publicidade nas redes sociais já conhecida nos EUA desde a eleição de Donald Trump contra Hillary Clinton, até a ascensão do influencer Andrew Tate no Reino Unido.
“Parte dos candidatos tem usado exatamente a estratégia trumpista ou do Andrew Tate, que é atrair a atenção dos haters e gerar engajamento pelo ódio, através da polêmica pela polêmica. A gente sabe que nas redes os algoritmos não diferenciam o comentário ou a postagem positiva da negativa. Então, o engajamento através de haters tem controlado o debate político nessa primeira etapa da campanha. E acho que a propaganda eleitoral na TV não vai mudar o comportamento nas redes, mas ser uma complementação. Ou seja, o candidato se apresenta positivamente na televisão e no rádio com propostas, mas a ‘guerra suja’ na web deve permanecer, porque o candidato mais comentado até aqui, o Pablo Marçal, não vai ter tempo de TV e só conta com as redes para chegar ao 2° turno”, afirmou.
“Nas redes sociais, você tem 10 mil comentários pejorativos, a entrega vai ser superior a qualquer conteúdo positivo ou de debate que outro sujeito possa produzir”, explicou Finamor.
Leonel Brizola e Paulo Maluf trocam acusações e apelidos no debate presidencial de 1989.
Reprodução/Youtube
Os apelidos pejorativamente usados pelos candidatos, segundo os estudiosos, entram justamente nessa lógica da desqualificação do outro para conquistar visibilidade.
“Apelidos em eleição não são novidades no Brasil. Em 1989 o Brizola já usava essa estratégia que até hoje perduram, como o ‘ratão’ para o Maluf, ou o ‘sapo barbudo’ para o Lula. Mas tudo dentro de um limite que não se mostrasse muito beligerante, porque era algo ruim para os candidatos. Mas ao que parece, agora há uma dessensibilização muito perigosa por parte de muitos eleitores. Isso só vai refluir quando os eleitores passarem a rejeitar isso. Enquanto isso trouxer a possibilidade de visibilidade, deve, infelizmente se aprofundar”, opina Magno Karl.
Influência da propaganda na TV
Os especialistas ouvidos pelo g1 têm dúvidas sobre a influência da propaganda eleitoral na campanha.
Eles afirmam, no entanto, que a cobertura diária dos telejornais, as inserções nos intervalos de novelas e telejornais e a realização dos debates televisivos continuam com relevância grande para aumentar ou diminuir rejeições.
“As propagandas na TV e no rádio e os cortes dos debates serão feitos na medida para que também possam ser usadas nas redes sociais. É a chamada ‘estratégia funil’, onde o Marçal conseguiu usar bem até aqui e a Tabata também tá tentando furar a ‘bolha’. Primeiro você cria visibilidade para distribuição de conteúdo organicamente, depois atrai e atenção e cria laços para ‘aquisição’ da atenção, que termina com a ‘conversão’ delas para sua causa”, explicou João Finamor, da ESPM.
Lula e Fernando Collor no debate presidencial de 2° turno em 1989.
Reprodução/Editoras Bloch
Os professores ouvidos pela reportagem afirmam que a eleição de São Paulo em 2024 deve ser, sobretudo, um teste para a Justiça Eleitoral, que deverá sem empenhar na fiscalização das redes no pleito presidencial de 2026.
“Apesar da vitória de em 2018, a estratégia baseada apenas em redes sociais não o ajudou em 2022, quando ele perdeu para o Lula mesmo estando com a máquina. Talvez a força semelhante deles no rádio e na tv voltou a se equiparar, uma vez que novas regras foram estabelecidas pela Justiça Eleitoral para as redes sociais. Mas agora estamos diante de novas influências de impulsionamento que os tribunais ainda não conseguiram regulamentar com precisão e que são um desafio para os juízes eleitorais”, afirmou Magno Karl.
“Existe um território cinzento na lei eleitoral que a própria Justiça e a classe política ainda não conseguiram entender por onde começar a regulamentação. Isso permite ‘dribles legais’ na legislação que estão vindo à tona claramente na eleição de SP, que vai servir de lição para 2026. Candidatos e empresas se aproveitam das brechas para se promoverem. Hoje, uma possível punição vai depender mais de uma interpretação jurídica dos juízes do que da letra fria da lei. Mas que pode criar uma jurisprudência para os próximos pleitos”, disse o professor Finamor.
O cientista político Magno Karl e o professor da ESPM João Finamor.
Montagem/g1/Divulgação/Reprodução/Redes Sociais
Tempos de TV e rádio
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo divulgou o tempo que cada candidato à prefeitura de São Paulo terá para o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, que começa no dia 30 de agosto e vai até 3 de outubro. Dos 10 candidatos, apenas quatro terão tempo de propaganda.
O candidato que terá mais tempo será Ricardo Nunes (MDB), sendo 6 minutos e 30 segundos. Em segundo lugar está Guilherme Boulos (PSOL), com 2 minutos e 22 segundos.
Na sequência vem Datena (PSDB) com 35 segundos e Tabata Amaral (PSB) com 30 segundos.
Já Pablo Marçal (PRTB) não terá direito à propaganda eleitoral porque o partido não elegeu o mínimo de deputados federais estabelecido pela lei eleitoral.
O mesmo ocorre com os candidatos Bebetto Haddad (Democracia Cristã), Marina Helena (Novo), João Pimenta (PCO), Altino Prazeres (PSTU) e Ricardo Senese (UP).
Propaganda eleitoral é transmitida também pelos canais de televisão e rádio de todo o Brasil.
Lindomar Cruz/Arquivo/Agência Senado
Como funciona o horário eleitoral gratuito
O TRE explica que a propaganda eleitoral será veiculada de segunda-feira a sábado com 20 minutos diários em rede, divididos em dois blocos de 10 minutos, tanto no rádio quanto na TV.
Também serão destinados 70 minutos em inserções diárias de 30 e 60 segundos, de segunda a domingo, entre 5h e meia-noite (veja como será a inserção de cada candidato abaixo).
Do tempo total, 10% são distribuídos igualitariamente e 90% de maneira proporcional ao número de deputados federais eleitos pelas agremiações em 2022.
Fachada do prédio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Brasília.
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Veja a distribuição dos tempos do horário eleitoral:
Ricardo Nunes (MDB): 6 minutos e 30 segundos com a Coligação Caminho Seguro pra São Paulo (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Agir, Mobiliza e União Brasil);
Guilherme Boulos (PSOL): 2 minutos e 22 segundos com a Coligação Amor por São Paulo (Federação PSOL/Rede, Federação Brasil da Esperança — Fé Brasil com PT, PC do B e PV, e PDT);
José Luiz Datena (PSDB) – 35 segundos com Federação PSDB/Cidadania;
Tabata Amaral (PSB) – 30 segundos com PSB.
Pablo Marçal (PRTB): partido sem horário na propaganda eleitoral
Veja a distribuição de inserção de campanha na programação:
Ricardo Nunes (MDB): 1913 aparições
Guilherme Boulos (PSOL): 700 aparições
José Luiz Datena (PSDB): 174 aparições
Tabata Amaral (PSB): 151 aparições
Pablo Marçal (PRTB): sem inserções
Ordem de veiculação do primeiro dia
A ordem de veiculação para o primeiro dia do horário eleitoral gratuito, no dia 30 de agosto, foi definida em sorteio realizado pela 2ª Zona Eleitoral – Perdizes na última quarta-feira (21), no plenário do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
A reunião foi aberta pelo presidente do TRE-SP e desembargador Silmar Fernandes, e conduzida pelo juiz Rodrigo Marzola Colombini, responsável pelo julgamento dos processos referentes à propaganda na capital. Os juízes auxiliares Murillo D’Ávila Vianna Cotrim e Claudia Barrichello também acompanharam.
O sorteio definiu que a coligação Caminho Seguro pra São Paulo (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Podemos, Avante, PRD, Agir, Mobiliza e União Brasil), do candidato à reeleição Ricardo Nunes será a primeira a veicular propaganda para prefeitura de São Paulo.
Já no horário reservado às inserções de candidatos a vereador, a primeira exibição será do Partido Democrático Trabalhista (PDT) no dia 30, no primeiro bloco, das 5h às 11h.

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