4 de outubro de 2024

‘A Cara do Brasil’: uma investigação nas cinco regiões do Brasil sobre a convivência entre brasileiros com opiniões políticas divergentes

A série chega ao Sul do país, em São João Batista, em Santa Catarina. Uma cidade com 40 mil habitantes, onde a equipe do Jornal Nacional conheceu dois casais. “Cara do Brasil”: a série chega a Região Sul do país pra conhecer a rotina de dois casais
Nesta semana, o Jornal Nacional apresentou um resumo de uma série especial de reportagens da GloboNews. Uma investigação nas cinco regiões do país sobre a convivência entre os brasileiros que têm opiniões políticas divergentes.
A série “A Cara do Brasil” chega ao Sul do país, em São João Batista, em Santa Catarina. Uma cidade com 40 mil habitantes, onde a equipe do Jornal Nacional conheceu dois casais.
A Odete Wisenteiner e o Diogo Hermes se encontraram na roça, casaram e decidiram, juntos, tentar uma vida diferente na cidade.
Nilson Klava, repórter: Vocês dois estão trabalhando juntos há quanto tempo?
Odete Wisenteiner: Há um ano e meio.
Repórter: O bom de cidade pequena é que dá para fazer isso: almoça em casa todos os dias.
Odete: Eu deixo começado e, meio-dia, eu termino. A gente almoça, lava a louça e volta a trabalhar de novo.
Odete: Ele trabalhava na agricultura e eu também, e a gente se conheceu lá, em uma festinha no interior. Meu pai plantava mandioca, que é o aipim, fazia farinha para vender. Ele tinha engenho de farinha. Esse era o ganha-pão dele. Nos criou, somos seis irmãos, tudo assim: fazendo farinha e produzindo para vender.
Odete: Nos casamos, e aí resolvemos mudar de vida. Foi quando viemos para a cidade.
Repórter: E foi muito difícil para vocês essa adaptação, sair do campo e ir para a cidade? Como foi isso para vocês?
Odete: Não, porque era muito sofrido trabalhar na roça. Tu tinha que trabalhar de dia para comer de noite.
A Eliane Formento Jacintho e o Wagner Jacintho também decidiram arriscar juntos. Depois de 20 anos produzindo para os outros, eles resolveram empreender e viraram donos do próprio negócio.
Eliane Formento Jacintho, empresária: Nos conhecemos nos calçados há mais de 20 anos. E lá começamos a namorar, os dois eram funcionários. Namoramos oito anos, noivamos, casamos.
Repórter: E o sonho começou ali?
Eliane: Depois da filha. Depois do nascimento da nossa filha. Na verdade, o sonho para ti sempre foi, né?
Wagner Jacintho, empresário: Eu sempre tive vontade. Sempre tive a vontade de a gente empreendesse.
Eliane: Mas eu tinha bastante medo.
Repórter: Vocês dois tinham um grande conhecimento sobre o setor. Mas quais foram as grandes dificuldades que encontraram quando decidiram começar a empreender e criar uma marca própria?
Wagner: Ah, um turbilhão, né? Nós não tínhamos muitos recursos na época. Eu tinha rompido o tendão, estava de cama, recém saído da cirurgia. Vendemos o carro, com poucos recursos. A casa virou fábrica, caixas por todo lado.

Repórter: Qual o maior sonho de vocês hoje?
Odete: Voltar para as origens. A gente saiu, fez a nossa vida e vamos voltar para lá de novo.
Diogo: A gente batalhou, batalhou, trabalhamos bastante. Rico não dá para ficar, mas dá para viver um pouco melhor. E, agora, nós queremos voltar para viver lá, tratando dos porquinhos…

Repórter: Agora, a gente está com uma eleição municipal aí. O que hoje preocupa vocês na cidade e no país?
Wagner: Para mim, a principal preocupação é econômica.
Eliane: Tem que ser baseado também no que eu acredito, na minha base familiar.
Repórter: Quais são os valores que você coloca como valores inegociáveis na hora da escolha?
Eliane: Família, honestidade, caráter.
Repórter: Você se considera mais à direita nesse aspecto político?
Wagner: Mais à direita.
Odete: O que mais pesa para mim é a classe trabalhadora, que é a classe mais pobre. A esquerda puxa mais para o lado do pobre, mais para o lado do trabalhador. E isso que definiu o meu voto.
Repórter: Então, você se considera mais de esquerda?
Odete: Mais de esquerda.
Repórter: O que, na avaliação de vocês, mais diferencia um lado do outro? A esquerda da direita hoje?
Wagner: Por que eu acho difícil mensurar isso? Porque, às vezes, tem pessoas que são católicas, evangélicas, são cristãs e são de esquerda.
Eliane: Quando surgiu isso de esquerda e direita, de opiniões, muitas pessoas falaram muitas bobagens e ofenderam muitas pessoas. Muita bobagem.
Wagner: O cara é a favor do aborto, aí quem é católico não pode votar? Mas, peraí, não é só isso que vai definir… São conceitos, mas nem todos os conceitos são 100%.
Diogo: Os políticos querem dividir o Brasil, né?
Odete: Porque não tem nada que dá mais polarização do que a política.
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Jornal Nacional/ Reprodução
Em São João Batista, em Santa Catarina, existem várias fábricas. A cidade concentra um dos principais polos calçadistas do país. E, para o trabalho funcionar, tem que haver muita organização. Cada um tem o seu papel, a sua função no processo. E, no final, todos são responsáveis pelo resultado: o produto, já pronto para ser entregue ao cliente.
“A gente tem 26 empregos diretos e deve ter algo em torno de mais uns 40, 50 indiretos. Se der tudo errado, o impacto não será só em mim e na Eliane. São todas essas famílias que estão trabalhando juntas”, conta Wagner Jacintho.
Wagner: A fase de acabamento. Começa o processo aqui com a Odete, fazendo a parte de colagem, e na sequência vai para limpeza e assim por diante.
Repórter: Vocês estão trabalhando juntos há quanto tempo?
Odete: Eu já estou a quase dois anos aqui.
Repórter: São dois anos assim, convivendo com a diversidade também?
Odete: Sim. Aqui tem um pouco de direita, um pouco de esquerda. Mas são todos amigos, todo mundo conversa e debate. É normal.
Repórter: E quem trabalha aqui também é o Diogo. Faz parte da equipe de vocês. Diogo, tem de um lado o Wagner e a Eliane um pouco mais à direita, a Odete um pouco mais à esquerda. Você se enxerga aonde?
Diogo: Eu não sou nem de direita e nem de esquerda.
Repórter: E o que une a história de vocês? Dá para dizer que é o calçado?
Wagner: É o calçado.
Repórter: Essa é uma união também, né? Porque pode ser diverso, pode pensar de forma diferente, mas vocês estão juntos para produzir da melhor forma possível.
Odete: Quando a gente vai para a fábrica, não é pensando “eu vou para receber meu salário”. Eu vou para dar o meu melhor. Se eu puder ajudar, eu dou o meu melhor. Se tiver um pedido para fechar, deu o horário, bateu lá 17h30, eu fico até terminar.
Wagner: A gente precisa de todos que estão aqui dentro para que o resultado seja alcançado. Aceitar, entender e respeitar cada pessoa que está aqui dentro, com sua opinião, com seu conceito, assim como eu tenho o meu. A gente tem que conviver sabendo dessas diferenças. Isso é democracia.

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