17 de janeiro de 2025

Acre 62 anos: Conheça a história do território federal que lutou para ser reconhecido como estado brasileiro

Acre foi o primeiro território federal criado no Brasil. População levou mais de 60 anos para poder eleger os próprios representantes políticos. Acre celebra 62 de emancipação política neste sábado (15)
Sérgio Vale/Arquivo pessoal
‘O estado que lutou para ser brasileiro’. Para muitos acreanos essa é frase que antecede uma longa explicação sobre a Revolução Acrena e toda a luta dos primeiros imigrantes a chegar na região para que a região se tornasse independente da Bolívia e passasse a integrar o Brasil. Luta essa, que assim como é dito no hino do estado, enche o peito de quem nasceu no estado de ‘nobreza, constância e valor’.
O histórico de lutas da população acreana, porém, não terminou após a revolução. O Acre foi também ‘o território que lutou para ser estado’, ‘o estado que lutou pela preservação da floresta contra a política agrícola da Ditadura Militar” e até mesmo ‘o estado que luta para provar que existe apesar dos memes na internet’.
Veja fotos que contam a história do Acre
Território Federal
Após a assinatura do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, que consolidou a anexação do Acre ao Brasil, eram grandes as expectativas e os interesses.
De um lado, o governo do Amazonas e empresários daquela região defendiam a anexação da área ao estado para que pudessem continuar controlando o mercado da borracha. Do outro estavam os colonizadores do Acre que torciam por se tornar parte da Federação de forma independente.
Contrariando a todos, porém, o presidente Rodrigues Alves decidiu por tornar o Acre território federal sob controle da União.
Acre comemora 61 anos neste sábado
“O estado foi o primeiro território federal do Brasil. Esse sistema foi criado para o Acre e condenou os acreanos a tutela do governo federal, sem nenhum direito, como os outros cidadãos brasileiros tinham”, contou o historiador Marcus Vinícius Neves, em entrevista à Rede Amazônica em 2015.
Ainda segundo o historiador, o modelo único fez com quem o governo brasileiro buscasse inspiração no modelo de outros países para criar uma estrutura administrativa do território.
“Tão estranho era esse sistema e tão novo, que eles não sabiam sequer como organizar o Acre, o território federal. Decidiram, então, criar um sistema misto do sistema argentino, com sistema boliviano e sistema norte-americano de territórios e dividiram o Acre em três departamentos, autônomos entre si”, contou o historiador em 2022.
A situação deu ao Acre mais uma particularidade em relação aos demais estados da federação. Já que o estado é o único a já ter tido quatro capitais. Isso porque os departamentos do Alto Acre, Alto Juruá e Alto Purus tinham uma capital cada, Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, essas duas cidades, inclusive, não existiam até então e foram criadas com esse fim.
Cruzeiro do Sul foi berço das primeiras revoltas autonomistas do Acre
Acervo Digital: Dept° de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM
Movimento autonomista
A interferência do governo federal, entretanto, incomodava a população local. Afinal de contas não era esse o plano quando eles embarcaram no sonho da revolução. Nesse contexto surgem então os movimentos autonomistas.
A primeira dela foi a ‘Revolta Autonomista do Alto Juruá’, em 1910. Encampada pela população de Cruzeiro do Sul que declarou a criação do estado do Acre. A tomada de poder, porém, duraria apenas 100 dias. Logo o Exército Brasileiro reprimiu o movimento popular e retomou o poder na região.
“Por conta dessa revolta autonomista, em 1912, o governo brasileiro decidiu fazer uma reforma administrativa no Acre. E, como maneira de diminuir a capacidade de poder do Juruá e Cruzeiro do Sul, decidiu, então, dividir o departamento do Juruá em dois departamentos e criou um quarto departamento chamado Departamento do Alto Tarauacá, com sede na Vila Seabra, que já existia, e depois veio a se chamar de Tarauacá”, explicou Neves.
Em 1918 foi a vez da população de Rio Branco de revoltar
Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM
Enquanto o governo federal se preocupava em extinguir qualquer chama revolucionária no Juruá, a população de Sena Madureira também resolveu pedir independência. A revolta, porém, terminou depois que um bombardeio da Marinha foi lançado contra a cidade. Por fim, em 1918, foi a vez de Rio Branco protestar, também sem sucesso.
Sem sucesso, os movimentos autonomistas foram perdendo cada vez mais força. O golpe mais duro ocorreu após 1920.
Inconformados por não poder explorar o território acreano, os ingleses haviam roubado sementes de seringueira e estabelecidos plantações nas colônias que mantinham na Malásia. Com o aumento dessa produção, o comércio de borracha nativa do Acre entrou em declínio.
Acreano, José Augusto de Araújo venceu ‘pai do estado’, Guiomard Santos e foi o primeiro governador eleito pelos acreanos para governar o estado
Acervo histórico do Museu Universitário da Ufac
Enfim estado
Os anos seguintes não tiveram grandes revoltas. O governo federal seguiu decidindo quem governava o Acre e como o estado funcionaria. Foi só em 1962 que foi aprovado o projeto de lei nº 4.070, de autoria do então deputado federal Guiomard do Santos, ele mesmo um ex-governador do estado indicado pelo governo federal.
O projeto foi resultado de uma negociação que durou cinco anos. Em 15 de junho do mesmo ano, o presidente João Goulart sancionou a lei que deu autonomia ao Acre. Nesse ponto da história, 60 anos já haviam se passado desde o início da Revolução Acreana.
No mesmo ano uma eleição pôs o ‘pai do estado do Acre’, Santos contra um político quase desconhecido, José Augusto de Araújo. Para o choque da classe política, Araújo venceu. A seu favor, o fato de ser acreano contra o mineiro José Guiomard.
“O Acre tinha sofrido tanto nas mãos dos que vinham de fora, que se aproveitaram do melhor que o Acre tinha e não deixavam nada, que os acreanos elegeram o acreano e não Guiomard Santos, que era mineiro de nascimento”, explicou Neves.
A alegria, porém, duraria pouco. Logo viria o golpe militar de 1964 e o primeiro governador eleito pelos acreanos seria deposto. Uma nova luta iria começar.
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