Segundo Fernando Poli, auditor-fiscal da Receita Federal, o objetivo é identificar as principais revendedoras desses aparelhos celulares que se beneficiaram do não pagamento de imposto. Levantamento inicial da IFraud estima prejuízos de mais de R$ 50 milhões. Carro da Receita Federal cumpre mandado de busca e apreensão da operação IFraud nesta terça-feira (1º).
Divulgação/Receita Federal
Alunos e clientes do influenciador Mayke Garbo também vão ser investigados na continuidade da operação IFraud, que tem como objetivo desvendar uma rede de importação ilegal de smartphones. A informação foi confirmada por Fernado Poli, auditor-fiscal da Receita Federal.
“Vamos recolher a base de todos os clientes desse influenciador e nós vamos investigá-los também, para que a gente consiga identificar quais foram os principais revendedores de celulares que foram os principais beneficiários das fraudes que foram perpetradas nesses últimos anos”, afirmou Poli, em entrevista à GloboNews.
Apesar da investigação, o auditor-fiscal afirma, também, que há muitas pessoas que compram os ensinamentos do influenciador e não entendem que a prática de importar ilegalmente um smartphone se trata de um crime.
“Muitas dessas pessoas que adotam essas práticas não sabem que estão cometendo crimes”, disse. “Inclusive nesse curso, esse influenciador orienta os seus clientes, seus alunos, a realizar as importações com as empresas vinculadas a ele tá e se ele garantia a esses alunos que não teria tributação nessas importações e ele ludibria as pessoas, ele orienta as pessoas a fazer a importação de forma totalmente irregular”.
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A primeira fase da ação conjunta entre Polícia Federal e Receita Federal foi realizada nesta terça-feira (1º), quando o principal alvo foi o criador de conteúdo. Ao todo, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Sorocaba, Arujá, Itu, Guarulhos, Barueri e Maceió.
De acordo com a PF, os prejuízos aos cofres públicos chegam a R$ 50 milhões.
Poli também comentou sobre a responsabilidade do influenciador diante dos crimes. “A gente tem muita tranquilidade em afirmar que ele tem perfeita ciência sobre a falsidade que ele comete, sobre os crimes de descaminho que ele comete e orienta seus orientandos a praticar”, afirmou.
Segundo o auditor-fiscal, além de Mayke, outros influenciadores com conteúdo parecido também são investigados.
“Nós assistimos os cursos deles”, afirma Poli. “A Receita Federal assiste o curso dessas pessoas, a gente tem conhecimento do que eles estão fazendo, do que eles estão vendendo e são práticas realmente lícitas. Quando uma pessoa orienta um aluno a mentir o valor de um produto, obviamente que isso é uma prática ilícita”, disse.
Operação
De acordo com a PF, os prejuízos aos cofres públicos chegam a R$ 50 milhões. Na operação desta terça não foram cumpridos mandados de prisão por conta do período eleitoral, que veda prisões de eleitores até o dia 8 de outubro, salvo em crimes flagrantes (entenda mais aqui).
Mayke Garbo tem mais de 627 mil seguidores no Instagram e 250 mil no Youtube e ganhou projeção e seguidores nas redes sociais ensinando a fazer importação de produtos sem recolhimento de impostos adequado.
O g1 procurou a defesa de Mayke Garbo, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
O influencer Mayke Garbo Gomes Pereira, alvo de operação da PF e da Receita nesta terça-feira (1°).
Reprodução/Youtube
“O influenciador direcionava seus alunos e clientes para realização de transações com supostos ‘sites parceiros’ e de ‘compra assistida’ situados no exterior, prometendo compras de smartphones sem tributação, segundo a Receita Federal. Com os lucros auferidos das atividades ilícitas, o influenciador passou a ostentar em suas redes sociais uma vida com carros e mansões de luxo. Ao mesmo tempo, boa parte dos alunos e clientes tiveram suas encomendas apreendidas pela Receita Federal e inundaram os portais de defesa do consumidor com reclamações”, disse a Receita.
Ao todo, são cumpridos oito mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Sorocaba, Arujá, Itu, Guarulhos, Barueri e Maceió.
O objetivo é identificar outros participantes do esquema fraudulento.
O influencer Mayke Garbo Gomes Pereira, alvo de operação da PF e da Receita nesta terça-feira (1°), exibe carro de luxo nas redes sociais.
Reprodução/Instagram
Segundo a Polícia Federal, a empresa identificada como distribuidora dos produtos trazidos irregularmente teve uma movimentação financeira a crédito, no ano de 2023, de R$ 45 milhões e adquiriu R$ 1,8 milhão do criptoativo Tether (USDT).
Só nos primeiros 100 dias de 2024, essa empresa já tinha comercializado mais de 3 mil smartphones com valor superior a R$ 14 milhões, sem qualquer nota fiscal de entrada dessa mercadoria.
“Além de ensinar as pessoas a cometer crimes de fraude na importação, o influenciador fornecia smartphones importados de maneira fraudulenta diretamente a clientes interessados. Para a execução dessas tarefas, ele mantinha uma rede de cúmplices, responsáveis pela importação ilícita e a distribuição dos aparelhos”, disse a PF.
Celulares apreendidos pela PF e Receita durante a operação IFraud nesta terça-feira (1º).
Divulgação/Receita Federal
“O grupo criminoso também oferecia outra opção: o cliente efetuava a compra do produto nos Estados Unidos, e o grupo providenciava a remessa ao Brasil, com nota fiscal, porém sem pagamento de taxa alfandegária. Também havia a possibilidade de que o produto fosse retirado no Paraguai”, completou a corporação.
Participam da operação aproximadamente 25 auditores-fiscais e analistas-tributários da Receita Federal e 35 policiais federais.
Os responsáveis, segundo a PF, poderão responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, descaminho, associação criminosa, falsidade ideológica, dentre outros.
Receita Federal mostra esquema de importação alvo de operação nessa terça-feira (1°).
Reprodução/Receita Federal
Quem é o influenciador
Mayke Garbo tem 627 mil seguidores no Instagram. Nos vídeos publicados, ele ensina os internautas a como importar diferentes produtos dos Estados Unidos, entre eles celulares, tênis e perfumes, para obter lucros e oferece cursos.
Um dos mais recentes, postado no último sábado (28), ele alega que para importar qualquer produto diretamente dos Estados Unidos e lucrar R$ 10 mil por mês é necessário usar o redirecionador de encomendas.
O influencer Mayke Garbo Gomes Pereira, alvo de operação da PF e da Receita nesta terça-feira (1°), exibe carro de luxo nas redes sociais.
Reprodução/Instagram
“Ele envia direto para o Brasil. Você escolhe os produtos que quer enviar. Escolhe o frete e faz a declaração aduaneira. Com o redirecionador, você consegue fretes baratos, plataforma muito fácil de entender, e o taxado no declarado para declarações de forma certa”, explica.
E continua: “E quais são os riscos de usar um redirecionador? Se você fizer a declaração errada, sua caixa pode ser recusada ou pode ser taxada ou multada em um valor alto. Estamos em um dos melhores momentos para importar, então invista em conhecimento necessário para não cometer erros.”
Casa alvo da operação iFraud nessa segunda-feira (1°).
Divulgação/Receita Federal