21 de setembro de 2024

Ameaçados de extinção, cachorros-vingare são registrados por câmeras trap no estado de SP

Primeiras imagens foram feitas em 2022, através do programa Monitora BIOSP. Acompanhamento por armadilhas fotográficas auxilia no estudo e conservação da espécie. Por ser estar ameaçado, localizações de registros do cachorro-vinagre são preservadas
Monitora BIOSP
Cachorros-vinagre (Speothos venaticus) foram registrados em parques estaduais de São Paulo. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie está classificada como Criticamente em Perigo (CR) de extinção.
Os registros foram feito por meio de armadilhas fotográficas do Programa de Monitoramento da Biodiversidade em São Paulo (Monitora BIOSP), da Fundação Florestal.
Em 2022, os cachorros-vingares foram vistos em duas Unidades de Conservação (UCs): no Parque Estadual Intervales, onde já havia registros, e no Parque Estadual de Jurupará, sendo o primeiro registro oficial.
Já em 2023, mais duas UCs registraram o animal: os parques estaduais do Rio Turvo e Serra do Mar (Núcleo Curucutu), demonstrando que a espécie está presente em uma área demograficamente pressionada pela ação humana.
Monitoramento auxilia em pesquisas e estratégia de conservação do cachorro-vinagre
Monitora BIOSP
Andréa Soares Pires, pesquisadora científica e coordenadora do Monitora BIOSP, explica como os registros podem contribuir para a compreensão da espécie.
“Existem poucas informações e estudos sobre a ecologia dessa espécie na Mata Atlântica, sendo a maior parte dos estudos feitos em zoológicos e não em vida livre. São animais que apesar de ampla distribuição, são regionalmente escassos. A espécie é rara ao longo de toda a sua distribuição e, portanto, não se sabe se sua população é contínua ou formada por populações isoladas”, diz.
Além de auxiliar no entendimento da espécie, Andréa comenta como o programa pode facilitar a vida dos pesquisadores que estudam os cachorros-vingares.
“Apesar da dificuldade de estudar essa espécie, o monitoramento de longo prazo através das armadilhas fotográficas nas UCs pode auxiliar os pesquisadores a definir estratégias metodológicas adequadas para captura e fazer estudos mais aprofundados sobre genética e comportamento”.
Como ocorre o monitoramento
Para conseguir os registros, o Monitora BIOSP abrange 36 unidades de conservação geridas pela Fundação Florestal, totalizando mais de 845 mil hectares.
Por meio de armadilhas fotográficas (câmeras instaladas na mata), armadilhas entomológicas (armadilhas adesivas para insetos) e transectos (dispositivos para observar o terreno ou a representação de um espaço, ao longo de um traçado linear), o programa realiza o monitoramento anual de mamíferos e borboletas frugívoras há anos.
Espécie de canídeo nativo está Criticamente em Perigo (CR) de extinção
Savimbo / iNaturalist
A partir de 2024, o programa deve iniciar o monitoramento de aves de ambientes terrestres, com metodologia que associa ponto de escuta, gravadores autônomos e ciência cidadã, e também, o monitoramento de mangues, com alvos como o caranguejo-uçá, vegetação e aves marinhas.
Conheça a espécie
O cachorro-vinagre é um animal pouco conhecido pela ciência, devido à baixa densidade populacional e hábitos arredios. Nativo da América do Sul, é um canídeo de pequeno porte, com orelhas redondas e patas curtas, que vive próximo ao ambiente aquático.
Cachorro-vinagre (Speothos venaticus)
Pedro Alonso / iNaturalist
Segundo o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE) do ICMBio, no Brasil, a espécie ocorre em nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, com registros na Mata Atlântica.
No entanto, projeções inseridas no sistema apontam que o canídeo pode perder quase 10% de seu habitat nas próximas três gerações, o que levaria a um declínio ainda maior das populações. Dentre as ameaças à espécie, estão perda e fragmentação de habitat, mortalidade por sarna sarcóptica e outras doenças, e abate por cães domésticos.
São animais carnívoros, que caçam tatus e grandes roedores, como pacas e cutias. Também se alimentam de ratos, coelhos, gambás, quatis, teiús, cobras e aves terrestres.
A espécie é a mais sociável entre os canídeos de pequeno porte, vivendo em bandos de 2 a 12 indivíduos. Medem entre 57 e 75 cm de comprimento, possuem até 15 cm de cauda e podem pesar de 5 a 8 kg.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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