15 de março de 2025

Amigas de coração: após cirurgia paliativa, dupla cria laço para a vida inteira; veja vídeo


Mariana e Liz, ambas de 3 anos, são cardiopatas e fizeram procedimento no mesmo dia. Liz ajudando Mariana a carregar máquina que foi ligada ao corpo após a operação.
Mariana Camargo saiu de Campo Grande (MS) para fazer uma cirurgia no coração, e Liz Souza, de Uberlândia (MG), pelo mesmo motivo. A dupla, de 3 anos, se conheceu após ficar internada para o procedimento em um hospital de São Paulo e não se desgrudou mais. Um vídeo, enviado ao g1 pelas mães das meninas, mostra as duas andando juntas no corredor, enquanto uma delas carrega a máquina que está ligada ao corpo da outra. (veja vídeo acima)
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A história das duas vai muito além de uma cirurgia. As mães, Julia Pavão Camargo e Karoline Melo Vasconcelos, se conheceram em 2022 no mesmo hospital, quando estiveram com as meninas, internadas logo após o nascimento delas, durante 5 meses.
Liz, filha de Karoline, nasceu em 1º de dezembro de 2021, e Mariana nasceu alguns dias depois, em 14 de janeiro de 2022. Mesmo após retornarem para suas cidades, a amizade continuou.
“A mãe da Liz e eu trocamos angústias, experiências, descobertas e alegrias pelo telefone, desde então”, contou Julia.
As mães tiveram a notícia da cardiopatia das filhas ainda na gestação. Enquanto Mariana tem a Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo, Liz possui a Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Direito. Desde então, elas já sabiam que precisariam fazer procedimentos para tratá-las.
A terceira etapa cirúrgica das duas acabou sendo agendada para o mesmo dia. A internação delas para a cirurgia de Fontan aconteceu no dia 3 de fevereiro, às 9h, e a operação no dia 12.
Julia conta que o receio das mães de voltar para o hospital, além do medo da cirurgia era quanto à reação das pequenas à mudança de rotina. “Quando soubemos que internaríamos juntas nosso coração ficou quentinho, primeiro por nós, mães, que soubemos que teríamos um rosto conhecido nessa fase, e principalmente por elas, por saber que poderiam brincar e se divertir mesmo em meio a tudo isso”.
Com isso, veio o reencontro das mães, e por consequência, a amizade das filhas.
“A identificação delas foi espontânea, uma espera e conta com a outra. Elas são como irmãs, brigam e brincam o dia todo. Na UTI, quando uma chorava a outra escutava e já perguntava por que a amiga estava chorando”.
As duas ficaram internadas no mesmo corredor, o que fez com que a aproximação fosse ainda maior. “Elas acordam, fazem fisioterapia juntas, uma chama a outra pra brincar, dai uma vai aqui, a outra vai no outro quarto, passeiam na área externa juntas onde tem escorregador, ficam o dia inteiro nesse vai e volta. Elas brigam, mas logo elas já estão juntas novamente perguntando ‘cadê a Liz, cadê a Mariana’.”
O vídeo
Após ficarem alguns dias na UTI, as duas foram para o quarto. Mariana precisou continuar com uma máquina ligada ao corpo, após um problema na ferida operatória, para se recuperar bem. E foi em mais um dia comum no hospital, que a família presenciou uma linda cena de amizade. O vídeo mostra Liz ajudando Mariana a carregar a máquina enquanto a amiga segura uma boneca.
A tia de Mariana, Laura Pavão, que esteve no hospital e aparece no vídeo, pôde ver esse e outros momentos de perto.
“Eu presenciei momentos de carinho e cuidado. Elas não entendem ainda, mas não imaginam o quanto se ajudam em meio a tanta dor. Liz é calmaria, ela cuida da Mariana, ajuda com amor, para ela aquele gesto de empurrar a máquina foi tão simples, porque elas só queriam “passear” pelo corredor. Mariana já é ativa demais, gosta de viver, é apressada, nas brincadeiras e na vida.”
Liz, uma amiga recente, mas incansável, também esteve junto de Mariana em um momento importante.
“Na UTI Liz esteve ao lado da Mariana quando ela foi andar pela primeira vez após 6 dias de cirurgia. Visitaram uma o leito da outra. E agora elas se ajudam, enfrentando os medos, as dificuldades e principalmente sendo força uma para outra com apenas 3 anos de idade”, contou a tia.
As mães registram cada passo das pequenas, para que, no futuro, elas lembrem do apoio que tiveram uma da outra nesse momento delicado. “A gente registra todos os momentos porque eu quero que a Mariana saiba que elas tiveram uma a outra aqui como eu tenho a Karol e a Karol tem a minha companhia também.”
Amizade que continua
Mesmo com a saída delas do hospital, o desejo das mães é de que essa amizade perdure por toda a vida.
Karoline, mãe da Liz, acredita que o contato entre as duas pequenas vai depender das mães. “Essa questão de ligação de vídeo, de incentivar as duas a continuar a ter essa ligação e amizade, por mim, vai continuar pra sempre”.
“Do mesmo jeito que eu e a Karol ficamos conversando esses três anos, trocando figurinhas, trocando medos, trocando dicas, conquistas, alegrias das meninas, eu quero continuar sim pra vida inteira, e eu quero que elas saibam dessa amizade que elas construíram aqui sabe”, afirma a mãe de Mariana.
Uma amizade que trouxe ainda mais esperança para Julia na recuperação da filha e para o futuro dela.
“O que elas tem não têm como corrigir, são cirurgias paliativas pra melhorar a qualidade de vida delas. Eu e meu marido ficamos todo dia agradecendo a Deus por ela estar aqui, apesar de ter dado infecção e estarmos um tempinho a mais do que imaginávamos, mas tudo no tempo certo e no processo que for necessário. Temos muita fé que ela vai sair logo e sair pra não voltar, vai voltar pra escola, vai voltar a brincar, correr, fazer tudo que ela fazia agora com mais folego.”
A cirurgia e a cardiopatia
Conforme o médico cirurgião cardíaco pediátrico, Dr. Guilherme Viotto, a cirurgia de Fontan é um procedimento cirúrgico complexo, feito em pacientes com doenças cardíacas congênitas uni ventriculares, ou seja, pacientes que possuem apenas um ventrículo no coração.
O objetivo da cirurgia é aumentar a quantidade de sangue oxigenado para o paciente. O procedimento permite que o sangue pobre em oxigênio da parte inferior do corpo vá direto para a artéria pulmonar, em vez de passar primeiro pelo coração.
O tempo ideal para que o paciente faça a cirurgia é por volta dos 3 anos de idade.
Segundo o médico, a Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo ou Direito é uma alteração que ocorre na formação do coração, em que um dos lados não é bem desenvolvido e apenas o outro lado funciona.
Na primeira foto da montagem, Mariana usa uma sandália colorida e Liz está descalça.
Arquivo pessoal
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