Familiares do Nilton Ramon de Oliveira estavam se sentindo coagidos por outros policiais militares e pediram ajuda da Comissão de Direitos Humanos da Alerj para conseguir a medida protetiva. O entregador Nilton Ramon de Oliveira (E) e o PM Roy Martins Cavalcanti
Reprodução/TV Globo
Familiares do entregador de aplicativo que foi baleado no Rio de Janeiro conseguiram uma medida protetiva contra o policial militar que atirou no jovem. A informação foi passada ao g1 por um amigo, que afirmou que, com isso, eles estão se sentindo mais seguros.
O homem, que é próximo do entregador mas não quis se identificar, afirmou que ele já acordou, está falando e se alimentando bem. Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, está internado no CTI do Salgado Filho com quadro de saúde estável. A expectativa da família é que ele seja transferido para o quarto na próxima semana.
Nessa semana, o cunhado de Nilton disse que eles estavam se sentindo ameaçados e com medo de sofrer represálias por parte de policiais militares. Por isso, eles estavam tentando uma medida protetiva.
“Estávamos na porta do Salgado Filho e enquanto minha esposa dava entrevista no hospital, tinha policiais gravando ela (sic), tirando foto, zombando e rindo. Na minha concepção, policiais são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida”, afirma Luiz Carlos.
Ele se reuniu com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) na quarta-feira (6).
Cunhado de entregador baleado diz que família se sente ameaçada
“Eu clamo por justiça. A gente não sabe o que pode acontecer. O policial cometeu uma tentativa de homicídio contra meu cunhado, não pode ficar impune”, completa ele.
A PM disse que até o momento não recebeu nenhuma comunicação formal sobre intimidação e que filmagem de policiais nas ruas é rotina de trabalho (veja a nota completa mais abaixo).
Testemunha não viu colega tentar pegar arma de PM
Um colega do entregador afirma que não viu o funcionário tentar tirar a arma do militar. A versão difere da do PM: em depoimento, Roy Martins Cavalcanti alegou que atirou em Nilton “em legítima defesa” porque o entregador quis desarmá-lo.
Em entrevista no “Encontro com Patrícia Poeta” desta quarta-feira (6), Yuri Oliveira, que também trabalha no iFood e testemunhou o episódio, disse que não viu Nilton fazendo qualquer movimento a fim de pegar a pistola de Roy.
“Foi uma confusão muito generalizada. Era muito xingamento de ambas as partes. Mas o Nilton estava se sentindo muito acuado porque o PM estava armado. Ele já tinha sacado a arma pra ele antes dentro do restaurante. Tivemos que apaziguar”, disse a testemunha.
Já do lado de fora, segundo Yuri, Nilton e Roy foram para lados diferentes. “Pensamos: parou a briga e acabou’”, lembrou o colega.
Mas o cabo voltou a intimidar Nilton. “Logo em seguida eu avistei o Roy indo em direção a ele do outro lado da rua, e nisso começou uma nova discussão. Cinco minutos depois, e o Roy deu voz prisão para o Nilton. Ele sacou a arma, o Nilton se assustou e logo em seguida ouvi um disparo”, narrou.
O cabo Roy se apresentou na 30ª DP (Marechal Hermes), e a Corregedoria da PM abriu um procedimento para apurar o fato.
Rotina de grosserias
Ainda no Encontro, Yuri relatou que em muitas das vezes os clientes são grosseiros e que, para evitar brigas e confusões, eles sobem até a residência. O rapaz afirma que a categoria se sente acuada devido às constantes agressões.
“A gente passa por isso todos os dias. Os entregadores daqui da região estão unidos porque o nosso colega foi baleado por não entregar um açaí, é, mas ao mesmo tempo que nós queremos fazer alguma coisa, nós ficamos assim, meio acuados.”
Como foi a confusão
Roy fez um pedido no Porto do Sabor da Praça Saiqui, em Vila Valqueire, e Nilton foi atender de bicicleta. No portão do endereço, uma rua gradeada, o PM exigiu que o entregador levasse o lanche até a casa. Nilton explicou que não era obrigado a entrar, e os dois começaram a discutir por mensagens no aplicativo.
Diante da recusa do PM em encontrá-lo, Nilton acionou o protocolo de devolução na plataforma e voltou para a loja. Roy, no entanto, o seguiu.
Na Praça Saiqui, os dois começaram uma discussão, e Nilton passou a gravar o episódio.
“Tá metendo a mão na cintura por quê??”, perguntou Roy. “Tô armado não, filho. Sou trabalhador, filho”, respondeu Nilton.
A arma do PM aparece na gravação. “Tô sendo ameaçado aqui, ó!”, narrou o entregador. “Ameaçado é o c*! Seja educado!”, gritou Roy.
O momento do disparo não foi registrado no vídeo.
O atendente Jeferson Coimbra viu quando o PM atirou. “Ele chegou a prestar um primeiro socorro para ele, entrou no carro e foi embora, falando que era polícia”, disse.
“[Nilton é] um moleque trabalhador, honesto, e um cara vai e faz isso. É desumano”, emendou.
Depois do episódio, amigos de profissão protestaram em frente ao condomínio onde a briga começou.
Nota da PM
“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, até o momento, o comando do 3º BPM (Méier), responsável pelo policiamento na região, não recebeu nenhuma comunicação formal nesse sentido.
A SEPM ressalta que a captação de imagens está entre as rotinas dos policiais em serviço nas ruas para fins diversos, como passar detalhes do cenário a instâncias superiores ou registrar movimentações atípicas.
Destacamos ainda que a Ouvidoria da SEPM está à disposição dos cidadãos para a formalização de denúncias através do telefone (21) 2334-6045 ou e-mail ouvidoria_controladoria@pmerj.rj.gov.br. Nossa Corregedoria Geral da SEPM também pode ser contactada através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo site https://www.cintpm.rj.gov.br/. O anonimato é garantido.”