De acordo com dados do INSS, cerca de 2,9 mil trabalhadores da metrópole precisaram deixar o trabalho por questões de saúde em 2023. Procuradora do MPT diz que pandemia contribuiu com o cenário. Afastamentos do trabalho por transtornos mentais têm alta de 41,2% na região de Campinas
O número de afastamentos concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a trabalhadores de Campinas (SP) por motivos de saúde mental cresceu 80% ao longo de cinco anos.
Dados obtidos pela EPTV, afiliada da TV Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostram que em 2019, a metrópole registrou 1.643 afastamentos. Já em 2023, foram 2.964.
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Afastamentos de trabalhadores por questões de saúde mental em Campinas
O levantamento aponta ainda que entre os principais diagnósticos apontados por médicos nos laudos, a ansiedade generalizada foi o motivo que mais se destacou no último ano.
🧠 Veja o ranking de 2023:
Ansiedade generalizada – 244 casos
Transtornos globais do desenvolvimento – 192 casos
Transtorno afetivo bipolar – 189 casos
Transtornos por uso de múltiplas drogas ou outras substâncias psicoativas – 168 casos
Transtorno fóbico-ansioso – 160 casos
O cenário é diferente do observando em 2019, quando a depressão foi a doença mais diagnosticada nas perícias do INSS.
🧠 Veja o ranking de 2019:
Transtornos por uso de múltiplas drogas ou outras substâncias psicoativas – 163 casos
Episódios depressivos – 154 casos
Episódios depressivos graves – 113 casos
Outros transtornos ansiosos – 101 casos
Transtorno depressivo recorrente – 100 casos
Outras cidades
O levantamento ainda apresenta dados de outras duas grandes cidades da região. Em Indaiatuba, o índice também teve alta passando de 295 para 576. Já em Sumaré, houve queda de 507 para 306 no período de cinco anos.
O que explica esse cenário?
Agência do INSS Previdência Social em Campinas
Reprodução/EPTV
Para Fabíola Zani, procuradora e coordenadora regional da igualdade do Ministério Público do Trabalho (MPT), a pandemia da Covid-19 teve um papel significativo para esse cenário. “Trouxe uma mudança interna para as pessoas, a questão do confinamento, ansiedade, medo de perder o emprego, perda de empregos. Afetou a organização do trabalho de uma forma nunca vista antes”.
“O trabalho invadiu a vida dos trabalhadores em suas casas, nas suas famílias, no seu tempo de lazer. Nos hoje falamos do direito à desconexão, que não tem mais. As pessoas estão o tempo todo ligadas no smartphone, WhatsApp, na internet, no trabalho. O tempo de lazer não é mais respeitado, o tempo de descanso, férias, feriados. Tudo isso é invadido pelo trabalho”.
Para ela, a mudança precisa acontecer em diferentes aspectos da sociedade e depende da conscientização de todos. Ela elencou alguns pontos que podem ajudar na busca por mais saúde emocional para os trabalhadores:
Entender a hora de procurar ajuda: “O trabalhador precisa se conscientizar da necessidade de se diagnosticar, entender que está adoecendo. Compreender e buscar a ajuda de psicólogo e médico através da vigilância do trabalho, do SUS, do Cerest [Centro de Referência em Saúde do Trabalhador]. Precisamos também de políticas públicas”.
Melhora do Sistema Único de Saúde: “Aumentar o número de profissionais para atender essas pessoas adoecidas mentalmente e capacitar esses profissionais para não apenas diagnosticar os trabalhadores e tratar, fazer um tratamento, mas para também prevenir”.
Melhora da organização do trabalho dentro das empresas: “Para prevenir o adoecimento mental, é preciso buscar as causas. A mudança também passa pelas empresas entendendo que a atual organização do trabalho, a atual gestão das empresas, está adoecendo os trabalhadores”, destaca.
Denunciar más condições de trabalho
Em algumas situações, os problemas de saúde mental do trabalhador são resultado das más condições de trabalho, que vão desde a falta de estrutura até desrespeito e assédio moral de colegas e gestão. Nessas situações, é possível fazer uma denúncia anônima por meio do site www.prt15.mpt.mp.br.
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