14 de novembro de 2024

Antes de ser executado, delator do PCC falou à Corregedoria da Polícia Civil que agentes cobraram R$ 40 milhões para deixar de investigá-lo


TV Globo teve acesso ao que Vinicius Gritzbach disse oito dias antes de ser assassinado; ele negou ter pago a propina pedida pelos policiais civis. Ele foi morto a tiros na sexta (8) em aeroporto de SP. Vinicius Gritzbach foi morto no Aeroporto Internacional de São Paulo
Reprodução/TV Globo
Oito dias antes de ser executado a tiros no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, Vinicius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), foi à Corregedoria da Polícia Civil denunciar seis agentes de segurança por corrupção e extorsão.
De acordo com o documento obtido pela TV Globo, no dia 31 de outubro, o empresário do ramo imobiliário acusou policiais civis do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de cobrarem R$ 40 milhões para deixar de investigá-lo como suspeito de ser o mandante dos assassinatos de dois membros da facção criminosa.
Vinicius contou na Corregedoria da Polícia Civil que não pagou a propina a um delegado e um investigador do DHPP e decidiu denunciá-los, além de mais dois agentes do departamento, por tentativa de extorsão.
Então, além dos quatro policiais do DHPP, o empresário acusou um investigador do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de pegar sete relógios de luxo dele avaliados em mais de R$ 700 mil e mais R$ 20 mil que estavam na sua bolsa. E que esses bens nunca foram devolvidos.
O Deic investigava Vinicius por suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas para o Primeiro Comando da Capital. E havia ido a sua residência apreender objetos que seriam produto de estelionato.
O empresário ainda apontou um agente penitenciário indicado por policiais para receber R$ 10 mil na sua conta. Não há confirmação se Vinicius pagou esse valor.
DHPP e Deic
Polícia tenta identificar assassinos que executaram o delator do PCC
O DHPP havia apontado Vinicius como responsável pelas mortes do narcotraficante internacional Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e do motorista dele, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue. Ambos foram executados a tiros em 2021 em São Paulo.
O empresário foi indiciado à época pelo DHHP por envolvimento no crime. Segundo a polícia, Vinicius mandou matar os dois membros do PCC porque ambos estavam cobrando dele uma dívida milionária.
O empresário, no entanto, sempre negou participação nesse duplo homicídio. E, segundo ele, como não pagou a propina para o DHPP deixar de investigá-lo, acabou se tornando réu na Justiça pelo crime.
O empresário também é réu no processo judicial que responde pela lavagem de dinheiro que era investigada pelo Deic. Vinicius contou que os policiais que o investigavam por estelionato também apreenderam uma espingarda, já que ele era Colecionador, Atirador desportivo e Caçador (CAC).
Vinicius disse à Corregedoria da Polícia Civil que soube que os policiais chegaram a extorquir outras pessoas. Uma delas, segundo o empresário, havia sido o dono de uma loja de carros investigado por homicídio, que teria pago R$ 1 milhão para o DHPP não o responsabilizar pelo crime.
Segundo Vinicius, os policiais do Departamento de Homicídios também extorquiram R$ 10 milhões de dois traficantes que o haviam sequestrado em outra ocasião.
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O que diz a SSP
Armas apreendidas após o assassinato de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos.
Divulgação
Uma força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) investiga quem mandou matar e quem executou Vinicius na última sexta. Câmeras de monitoramento gravaram o crime cometido por dois atiradores encapuzados e armados com fuzis. Eles fugiram após a execução.
Entre as hipóteses apuradas estão a possibilidade da participação de policiais civis, policiais militares, um homem que estava devendo dinheiro a ele ou de membros do PCC. O caso é investigado como o “homicídio, lesão corporal e localização e apreensão de objeto”.
Em março deste ano, a Justiça havia homologado a delegação premiada de Vinicius ao Ministério Público (MP). Em troca da redução da pena numa eventual condenação pelos crimes de homicídio e estelionato, o empresário delatou nomes de agentes de segurança envolvidos em corrupção e de integrantes da facção criminosa que faziam lavagem de dinheiro.
A hipótese de um possível envolvimento de policiais civis passa justamente pela delação no MP e pela denúncia que Vinicius fez na Corregedoria sobre policiais corruptos que tentaram extorquir dinheiro dele.
A pasta da Segurança informou nesta quarta-feira (13) que os policiais civis denunciados por Vinicius foram afastados preventivamente de suas funções.
Além deles, a SSP havia afastado antes oito agentes da Polícia Militar (PM) que faziam a escolta pessoal do empresário. O bico de segurança particular é proibido na corporação.
A hipótese de que o crime foi cometido por um homem que devia dinheiro a Vinicius é investigada porque o empresário foi até Maceió pegar joias avaliadas em R$ 1 milhão. Elas teriam sido entregues a ele por esse devedor.
Quanto a possibilidade de participação do PCC na execução de Vinicius, ela passaria pelo fato de o empresário ter sido jurado de morte pela facção criminosa por causa das mortes de Cara Preta e Sem Sangue. Além disso, ele estaria devendo dinheiro aos bandidos.
Até a última atualização desta reportagem, nenhum dos assassinos havia sido identificado ou preso.
Gritzbach levava uma bagagem contendo mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor no momento do crime
Reprodução
Veja o que se sabe sobre dinâmica do atentado
Arte/ g1

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