8 de janeiro de 2025

Após atraso em cronograma, PM de SP prevê uso de novas câmeras nas fardas de policiais até 17 de dezembro


Modelo contratado pelo governo permite que policial decida quando deve começar a gravar ocorrência. Corporação diz que dará treinamento a agentes para acionamento em todas as ações policiais. Câmera corporal em uniforme de policial militar do Estado de São Paulo.
Rovena Rosa/Agência Brasil
A Polícia Militar de São Paulo deve iniciar as operações com as novas câmeras corporais (COPs) nas fardas dos agentes até 17 de dezembro. O novo modelo permite que a gravação de vídeos pelo equipamento seja feita de forma intencional, ou seja, o policial será responsável pela decisão de quando começar a gravar uma ocorrência. A PM diz que dará treinamento às equipes para acionarem as câmeras em todas as ações.
O cronograma de implantação do primeiro lote, com 2,5 mil câmeras, estava previsto para fim de outubro, mas sofreu atraso para a regulamentação do contrato assinado com a Motorola Solutions Ltda. Após vencer a licitação, a empresa fornecerá 12 mil câmeras.
As novas câmeras corporais vão substituir de forma gradual os equipamentos já em operação, que gravam de forma ininterrupta durante todo o turno. A previsão é que toda a transição esteja concluída até o fim de 2025. Segundo a PM, não haverá interrupção do programa no processo de troca.
Respostas ao STF
Barroso determina novas informações sobre câmeras da PM
O governo de São Paulo tem até esta terça-feira (3) para responder a questionamentos feitos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da licitação e de prazos para implantação das câmeras. O uso das COPs é acompanhado pela Corte após uma ação da Defensoria Pública paulista que pede o uso obrigatório do equipamento em operações policiais.
No começo de outubro, um novo recurso foi apresentado ao STF para que o presidente Luis Roberto Barroso reconsiderasse a decisão de não obrigar o governo paulista a usar as câmeras nessas ações, mencionando as mortes do menino Ryan da Silva Andrade Santos e do adolescente Gregory Ribeiro Vasconcelos, durante um confronto em Santos (SP).
A Defensoria Pública e entidades de direitos humanos argumentam, na ação, que a medida evitará que o governo de SP continue a “implementar políticas de obstrução de investigações e de controle externo da polícia”, além de violações “sistemáticas de direitos fundamentais”.
O prazo para o Executivo paulista responder ao Supremo foi prorrogado na semana passada, por mais cinco dias, a pedido da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O governo afirmou à GloboNews que está reunindo a documentação necessária para encaminhar a resposta.
Contrato questionado
O contrato para a operação das 12 mil câmeras foi assinado após seis empresas apontarem, em julho deste ano, falhas em testes técnicos e direcionamento no pregão para a Motorola vencer a licitação. Entre as acusações, as empresas argumentam que houve favorecimento da empresa vencedora e que o equipamento oferecido por ela tem um botão de “excluir”, mesmo com o edital “vedando a exclusão manual dos arquivos”.
Na homologação do contrato, a PM disse que a empresa afirmou que o botão de exclusão é um “filtro seletivo e não de uma função de exclusão”.
“As recorrentes teriam apontado a presença de um botão de exclusão de vídeo, o que teria sido refutado pela recorrida [Motorola], a qual explicou que se tratava de um filtro seletivo, e não de uma função de exclusão, desse modo, o órgão licitante confirmou que essa funcionalidade adicional seria testada na fase de entrega da solução”, descreveu a corporação.
Gravação intencional
Na prática, a mudança pode dificultar investigações de atos de violência policial porque deixará a decisão sobre ligar ou não o equipamento a cargo dos agentes. Especialista ouvido pelo g1 aponta que quando a câmera não é usada durante todo o turno policial pode:
aumentar o uso da força de forma indiscriminada e sem controle;
dificultar a produção de provas para investigações;
diminuir a proteção do próprio policial que possa estar numa situação de risco e/ou ter sua conduta questionada.
Atualmente, há 10.125 câmeras em operação no estado que foram compradas por meio de dois contratos, e as gravações são divididas em duas categorias: de rotina e intencionais. Todas elas serão substituídas pelos novos equipamentos e 2 mil novas serão compradas.
Os vídeos de rotina registram todo o turno do policial e são obtidos sem o acionamento, portanto gravam de forma ininterrupta. Atualmente, os PMs não têm autonomia para escolher o que desejam registrar. Tudo é gravado, ao menos em vídeo. O que eles podem fazer é acionar para ativar o som e melhorar a qualidade da imagem.
As imagens ficam arquivadas por 90 dias no sistema do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) e, para reduzir os custos, a resolução delas é menor e sem o som ambiente.
Já os vídeos intencionais são obtidos pelo acionamento proposital do policial e ficam guardados por um ano. Elas também possuem som ambiente e resolução superior às gravações de rotina.
No novo edital, não há menção às gravações rotineiras, somente às intencionais. O documento também informa que o acionamento para captura de imagens poderá ser feito de forma remota pelo Copom ou pelo próprio policial. Além disso, os vídeos serão transmitidos ao vivo (live streaming) pela internet para a central da corporação.

Mais Notícias