6 de janeiro de 2025

Após cheia histórica do Rio Acre na capital, últimas famílias são retiradas de abrigo no Parque de Exposições

Abrigo começou a receber famílias no dia 25 de fevereiro. Cerca de 4 mil pessoas precisaram ficar no local por conta da segunda maior cheia já registrada no Rio Acre. Parte da estrutura vai permanecer montada pois a Defesa Civil vê risco de transbordamento de igarapés. Mais de 3 mil pessoas estão abrigadas no Parque de Exposições, em Rio Branco
Victor Lebre/g1
Após a cheia histórica do Rio Acre na capital, as últimas famílias foram retiradas do abrigo montado no Parque de Exposições Wildy Viana nesse sábado (23). De acordo com a Defesa Civil de Rio Branco, não há mais moradores abrigados no local.
De acordo com o coordenador do órgão, coronel Cláudio Falcão, a previsão quando as primeiras famílias foram levadas ao abrigo era de que a estrutura permaneceria em funcionamento até o dia 22 de março. O abrigo começou a receber famílias no dia 25 de fevereiro.
LEIA MAIS:
Cerca de 100 famílias que perderam suas casas após cheia do Rio Acre já podem buscar aluguel social
Moradores instalados em abrigo no Acre esperam retornar para casa após enchente: ‘saudades’
Enchente: Famílias abrigadas no Parque de Exposições começam a voltar para casa após baixa do Rio Acre
👉 Contexto: O Rio Acre ficou mais de uma semana acima dos 17 metros e alcançou o maior nível do ano, de 17,89 metros, no dia 6 de março, há quase duas semanas. Essa foi a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. A maior cota histórica já registrada é de 18,40 metros, em 2015.
Entretanto, parte da estrutura construída no parque vai permanecer montada, pois a Defesa Civil ainda vê risco de transbordamento de igarapés da capital acreana.
“Nós mantemos uma parte da estrutura porque mantemos riscos, não pelo Rio Acre, mas pelos igarapés até o final do mês de março, de termos algum tipo de acidente”, afirmou Falcão.

Dificuldades na volta para casa
Abrigadas no parque de exposições aguardam o aluguel social
Melícia Moura/Rede Amazônica
Mesmo após a baixa do Rio Acre em Rio Branco, cerca de 400 pessoas ainda não retornaram para casa até o dia 19 de março, e continuavam abrigadas no Parque de Exposições Wildy Viana. Neste local, mais de 4 mil pessoas ficaram abrigadas em alojamentos organizados pela Prefeitura de Rio Branco, durante a cheia que atingiu a capital.
Durante a cheia do Rio Acre este ano, muitas famílias tiveram que sair de suas moradias. Algumas pessoas se abrigaram na casa de parentes, outros ficaram sob os cuidados da Prefeitura em escolas e no Parque de Exposições.
Essa é a realidade de Maria Isis, de 76 anos. A idosa vivia no bairro Cadeia Velha, em Rio Branco, e com a inundação do rio e igarapés, precisou se abrigar no parque e agora não tem condições de voltar, já que morava de aluguel.
“Saí de casa e vim pro abrigo, vai ser difícil pra eu voltar. Não tinha casa, morava de aluguel, aí eu passei pra casa da minha filha, aí agora tô aqui, mas tô imaginando como que vou, já que eu não tenho pra onde ir”, disse.
Saiane Bandeira, outra desabrigada, morava no bairro São Francisco e também está no local. Ela diz que está doente e desempregada e que no momento também não tem para onde ir. “Só consegui tirar cama, geladeira, máquina de lavar. Eu continuo porque não tenho pra onde ir. Tô sem trabalho, tô doente. Tô com a minha filha e vou esperar pelo aluguel social. Bola pra frente”, afirma.
A Maria Aucirene é desempregada, residia no bairro Seis de Agosto e está alojada no abrigo com mais três filhos. Ela conta que seu sustento vem apenas da venda de algumas guloseimas e do Bolsa Família. Maria afirma que também não tem para onde ir.
“Agora tô sem moradia. Eu tava morando em apartamento, de aluguel. Eu tô desempregada, eu não tenho nem condições de me sustentar com três filhos com o dinheiro do bombom e R$ 300 do Bolsa Família só, que nós estávamos vivendo”, complementa.
Regiane Sousa vivia também na região do bairro Seis de Agosto. A casa que ela morava foi inundada, e ela aguarda um aluguel social, pois não tem condições financeiras para voltar, já que morava de aluguel. “Pagava [o aluguel] do meu Bolsa Família, só que aí eu tô tentando pegar um aluguel social porque aí fica mais fácil, porque já é pouco, aí pagar com o dinheiro da gente, fica mais difícil ainda, porque não tem condições de pagar mais”, diz.
Procedimentos
A secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Suellen Araújo, explica que as famílias que permaneceram no abrigo moravam de aluguel por conta própria ou através do aluguel social, e há ainda as pessoas que suas casas estão em área de riscos.
Ela ainda afirma que para as famílias participarem do programa de aluguel social, estas precisam se enquadrar em alguns requisitos.
“Desde o primeiro instante sobre a orientação da Defesa Civil, a gente foi retirando as famílias de acordo com a orientação deles. Infelizmente, a gente fica ainda ali com cerca de 150, 180 famílias que são aquelas famílias que ou moravam de aluguel ou estavam no aluguel social ou suas casas de fato não tem como retornarem. Então esse é o principal motivo pelo qual as famílias ainda permanecem no parque. E cada caso é um caso, em relação ao aluguel social. Primeiro que nós trabalhamos com requisitos pra gente poder inserir essas pessoas nesse aluguel social. Da nossa responsabilidade enquanto gestão municipal e mais uma vez eu reforço: não precisa fazer cadastro em lugar algum. Nós vamos avaliar caso a caso, diante das suas famílias”, explica Suellen.
Mais de 400 pessoas ainda estão abrigadas no parque de exposições após cheia do Rio Acre
O coordenador da Defesa Civil Municipal, tenente-coronel Cláudio Falcão explica que a procura pela residência que será alugada é de responsabilidade do beneficiário. “As famílias que estão abrigadas, que não tem pra onde ir, que a gente já verificou as casas, que não tem condições, elas já estão autorizadas a procurar um aluguel, para poder, em seguida, nos comunicar o local”, disse.
Falcão esclarece que há ainda outros casos que podem receber o aluguel social. “As outras famílias também que estão em sinistro, que não estavam no abrigo ou aconteceu algum acidente, procede da mesma maneira. Aquelas famílias que tiveram casas destruídas, que desmoronou, elas não foram pra abrigo porque elas estão em casas de parente, mas assim que elas tiverem o local indicado, aí a gente vai conceder o aluguel social”, informa o coordenador.
O aluguel social é utilizado por famílias de baixa renda que, em casos de calamidade pública, perdem suas casas, destituição de suas moradias por conta de situação de risco ou em situações de vulnerabilidade.
Falcão descreve o processo para encaminhar essas famílias que ainda estão abrigadas pela Prefeitura de Rio Branco. “Nós ainda temos, no Parque de Exposições, 260 famílias para serem retiradas e o processo é o mesmo. A gente identifica o bairro que está pronto, vê as prioridades, verifica as vistorias e assiste essas famílias em tudo que compete. A devolução dos seus bens, seus animais, damos ajuda humanitária de alimentos, de água, de limpeza e depois a gente segue com elas para as suas casas”, diz.
Casas desbarrancam após vazante do Rio Acre na capital; situação ocorreu nesta quinta-feira (14)
Ismael Melo/Rede Amazônica
Falcão destaca também que 62 áreas com riscos de desmoronamentos estão sendo monitoradas na capital e há 12 áreas mais graves onde não há possibilidade de famílias voltarem a morar no local, pois há risco iminente. Alguns dos bairros com áreas críticas, tais como Seis de Agosto, Cidade Nova, Quinze, Baixada da Habitasa e Triângulo, foram afetados diretamente pela cheia.
“Nós temos o total de 62 áreas monitoradas, mas agora a gente intensifica pelo menos as 12 principais, a mais graves. Precisamos, principalmente, retirar aquelas pessoas desse risco iminente. Só que a evolução é tão grande que às vezes você faz uma vistoria hoje, o risco está baixo, amanhã ele já está alto, imediatamente”, adverte.
VÍDEOS: g1

Mais Notícias