Simone Biles foi medalha de ouro no individual geral na ginástica artística nesta quinta-feira (1º), com 59.131. Simone Biles rebateu críticos em seu Instagram
Reprodução/Instagram/simonebiles
Simone Biles brilhou na prova de ginástica artística por equipes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, alcançando o melhor desempenho individual entre todas as atletas que disputaram a prova na última terça-feira (30), com 58.332 pontos somados. Nesta quinta (1º), no individual geral, deu show mais uma vez, com 59.131 pontos e uma nova medalha de ouro. Apesar disso, pessoas que comentavam as provas nas redes sociais encontraram motivo para criticar a apresentação: o cabelo da atleta.
“O cabelo da Simone Biles nunca estar arrumado me tira do sério. Todo mundo no time com o cabelo certinho, aí ela parece que acabou de cair da cama”, escreveu uma usuária do X.
“Simone Biles = perfeita. O cabelo dela, não tanto :(“, comentou outra.
A controvérsia fútil foi logo rebatida por Biles por meio de um post no Instagram, onde a ginasta compartilhou uma sequência de selfies legendadas.
“Não peguem no meu pé sobre meu cabelo. ESTAVA ARRUMADO, mas o ônibus não tem ar condicionado e está tipo 90000 graus”, desabafou. “Ah, e é uma viagem de 45 minutos.”
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O que foi visto como desleixo por alguns não teve peso nenhum nas notas da atleta.
Para a Federação de Ginástica dos Estados Unidos, porém, as ginastas devem seguir um rígido código de conduta que inclui tanto restrições objetivas quanto subjetivas. A versão mais recente do documento, publicada em 2023, conta com 118 páginas. A palavra “cabelo” aparece uma única vez e logo no primeiro capítulo. Na 16ª página, a federação diz que as atletas devem estar com a “aparência bem cuidada”. Isto é detalhado em três tópicos:
Uniforme limpo.
Cabelo preso longe do rosto, de modo que não obstrua a visão dos aparelhos.
Nenhuma joia, exceto por brincos de tarracha nas orelhas. Todos os outros piercings devem ser removidos, não apenas cobertos com esparadrapos ou curativos.
Entre outras exigências, estão “não expor roupas íntimas deliberadamente (incluindo sutiãs esportivos)”, ou “exibir autocontrole e calma no caso de queda ou lesão”.
Colega de equipe de Biles nas Olimpíadas do Rio 2016, Gabby Douglas passou por uma situação semelhante em Londres 2012.
Vencedora do ouro no individual geral – além da medalha por equipes -, Douglas virou assunto no Twitter e Facebook na época também por conta do cabelo. Em um artigo escrito para o site The Undefeated, a jornalista americana Jemele Hill lamentou o fenômeno.
“Em vez de falar que Douglas se tornou a primeira mulher afro-americana a vencer o individual geral, pessoas estavam fazendo piadas nas redes sociais sobre como esse fenômeno de 16 anos precisava fazer uma permanente, ou, pelo menos, um rabo de cavalo mais arrumado”, descreveu Hill.
Douglas continuou somando conquistas na ginástica, mas as regras rígidas e cobranças da internet deixaram cicatrizes emocionais. Em 2020, a ginasta desabafou:
“Desde muito jovem eu sempre tive que deixar meu cabelo em um rabo de cavalo super justo para fazer ginástica e, por conta disso, meu cabelo ficava completamente danificado. Eu tinha pontos de calvície na parte de trás da minha cabeça. Tinha tanta vergonha e insegurança que colocava um monte de presilhas para esconder os pontos, mas ainda dava pra perceber. Meu cabelo crescia um pouco, mas logo depois tinha que cortar por conta dos danos”, disse Douglas.
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As críticas sofridas por Biles e Douglas são discutidas no documentário “O Retorno de Simone Biles”, disponível na Netflix, que trata dos desafios de saúde mental enfrentados pela atleta, que deixou as Olimpíadas de Tóquio precocemente para cuidar da saúde mental – e ainda assim conquistou uma prata por equipes e um bronze na trave.
Encarando críticas sobre sua aparência mais uma vez, mesmo após apresentações brilhantes em Paris, Biles avisou em uma outra postagem: “Da próxima vez que você quiser comentar sobre o cabelo de mulheres negras. APENAS NÃO FAÇA.”
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