8 de janeiro de 2025

Após monitorar conversas aplicativo, hacker ajuda polícia a impedir estupro de adolescente e prender suspeito


Vitória Okida, de Araçatuba (SP), atua voluntariamente em investigações na plataforma de conversas Discord, auxiliando a polícia na identificação de suspeitos de praticar crimes digitais. Parte da conversa do suspeito dizendo que iria estuprar a vítima
Reprodução/Discord
A estudante de engenharia de software Vitória Okida, de 24 anos, moradora de Araçatuba (SP), usou a experiência e os conhecimentos em segurança digital para impedir que uma adolescente de 15 anos, que mora em São Paulo (SP), fosse abusada sexualmente. A hacker ainda auxiliou a polícia na localização e prisão do suspeito.
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O caso ocorreu em março deste ano. Na ocasião, a jovem, que atua de forma voluntária em investigações policiais ligadas a plataformas de chats digitais, começou a monitorar uma conversa entre o suspeito e a adolescente pela plataforma de conversas Discord.
Vitória explica que o investigado atuava com um usuário do sistema, usando o nome de Barbey, e, durante um diálogo com outros membros, disse que pretendia estuprar a adolescente (veja acima).
Hacker de Araçatuba explica como impediu estupro de menor em SP
Arquivo pessoal
A partir disso, Vitória, que tem uma empresa de tecnologia de informação em Araçatuba e atua como hacker ética (saiba mais abaixo), decidiu monitorar as outras conversas do suspeito.
“Ele disse nas mensagens que, além de levar uma lâmina para passar no pescoço da vítima, ia estuprar e matar ela”, relata.
Parte da conversa na qual Barbey disse que iria levar uma lâmina para cortar o pescoço da vítima
Reprodução/Discord
Durante as conversas, o suspeito publicou dados pessoais dos familiares da vítima, que foram cruciais para a hacker conseguir localizar contatos de parentes.
Em seguida, Vitória enviou uma mensagem ao pai da vítima, que, inicialmente, imaginou se tratar de algum tipo de golpe, mas, em pouco tempo, começou a perceber que a situação era real e estava próxima de acontecer.
“Depois disso, eu consegui entrar em contato com um outro familiar, que eu consegui orientar melhor sobre o que estava para acontecer”, conta.
Em parte da conversa, Barbey divulgou os dados dos familiares da vítima
Reprodução/Discord
O encontro entre a adolescente e o suspeito seria marcado em um shopping da capital paulista, porém, diante das evidências, os familiares da menina procuraram a polícia e registraram um boletim de ocorrência.
O agente policial Geraldo Moreira Gomes Filho, do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo (SP), explica que o trabalho da jovem foi primordial para a localização do suspeito.
“No caso do Barbey, recebemos muitas informações e provas que colaboraram para a prisão do investigado. O primeiro contato com a Vitória foi por conta do grande número de vítimas de violência pelas redes sociais e também por meio de uma jornalista que foi até a delegacia e nos apresentou a hacker. Diante disso, vimos que ela poderia nos ajudar nas investigações” , explica.
Após conseguirem autorização da Justiça, os policiais foram até a casa do suspeito, onde apreenderam alguns materiais que podem ser utilizados como provas do crime. O homem, que já tinha extensa ficha criminal, incluindo outros casos de abuso, foi preso.
“Realmente, o trabalho desenvolvido pelos hackers, como a Vitória, encurta as investigações, pois, sem o auxílio deles, seria necessário esperar que o autor cometesse um erro ou o crime. Isso leva tempo e pode trazer péssimas consequências”, finaliza o agente policial.
Momento da conversa no qual Barbey diz que irá estuprar e matar a vítima
Reprodução/Discord
Auxílio voluntário
O hacker ético é um profissional que utiliza o sistema e as ferramentas das tecnologias atuais para evitar crimes, e melhorar a segurança de sistemas e possíveis falhas que podem ser prejudiciais para usuários e empresa.
Ao g1, Vitória conta que começou a se interessar por esse tipo de investigação após ter sido vítima de abuso e violência. A jovem relata que, constantemente, diversas meninas pedem ajuda a ela quando são vítimas de stalker e outros crimes cibernéticos.
“Tudo que eu posso fazer, que está ao meu alcance, eu faço para ajudar. Várias meninas me pedem ajuda com casos parecidos e também sérios”, conta.
Vitória Okida de Araçatuba (SP) que é estudante de engenharia de software e ajuda a polícia com casos de crimes digitais
Arquivo pessoal
Ela explica que, dentro de plataformas de conversas como o Discord, existem servidores que fazem parte de grupos específicos, popularmente conhecidos como “panelas”. Nesses grupos, há a indução por parte dos agressores à automutilação das vítimas, produção, venda e transmissão de imagens com conteúdo de abuso infantil; e tortura, inclusive de maus-tratos a animais.
“Eu atuo voluntariamente em investigações na plataforma Discord, na qual, dentro dos servidores chamados de ‘panelas’, acontecem diversos crimes. Muitas vezes, esses servidores são menores de idade, tanto os agressores quanto as vítimas”, explica.
Ainda segundo ela, esta é uma comunidade que faz a propagação de ideologias neonazistas e organiza ataques e massacres.
Há cerca de oito anos atuando com tecnologia, Vitória também colabora com a polícia para evitar outros crimes que fogem do meio digital e busca compartilhar seus conhecimentos com adolescentes ministrando palestras gratuitas em escolas da região.
Vitória ministrando uma das palestras gratuitas que ela faz nas escolas
Arquivo pessoal
Alerta e cuidados
O uso das redes sociais e de plataformas de conversas é algo recorrente entre crianças e adolescentes, porém, os pais devem estar atentos e orientar os filhos sobre a importância de alguns cuidados.
“A principal dificuldade é a falta de informação dos pais, que acreditam que, mantendo seus filhos dentro de suas casas, com um celular nas mãos, eles estão seguros… A falta de restrição de uso das plataformas e de conteúdos inapropriados é preocupante”, finaliza Geraldo.
A conscientização continua sendo a principal forma de prevenir crimes relacionados ao uso de equipamentos eletrônicos conectados à internet.
*Colaborou sob supervisão de Henrique Souza
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