6 de janeiro de 2025

Após policiais serem presos, delegacia em Indaiatuba retoma rotina com nova equipe

A Operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que prendeu, na terça-feira (26), praticamente uma equipe inteira do 1º Distrito Policial de Indaiatuba (SP), mudou a rotina da delegacia. O delegado titular, José Clésio Silva de Oliveira Filho, dois investigadores e um escrivão são apontados pela Promotoria como integrantes de um esquema que extorquia dinheiro de empresários da cidade exigindo até R$ 3 milhões em propina por meio de falsas investigações.
Além deles, também foram presos temporariamente e são investigados guardas municipais, advogados e servidores da prefeitura. Com a prisão dos funcionários, a delegacia retomou a rotina nesta quarta-feira (27) com uma equipe nova de servidores.
Uma força-tarefa foi criada para auxiliar nas investigações. Um delegado assistente já assumiu as funções, enquanto que funcionários até tiveram férias adiadas para retomar o funcionamento da unidade e manter o andamento das apurações.
De acordo com informações repassadas ao g1 pelo Gaeco nesta quarta, o MP ainda contabiliza quantos boletins de ocorrência e inquéritos foram forjados durante o esquema, para separar o que de fato é uma investigação em andamento e o que era apenas usado para a prática de extorsão.
Segundo promotores de Justiça, Clésio mantinha no 1º Distrito Policial (DP) de Indaiatuba uma “sala de extorsão”, onde policiais ameaçavam imputar crimes a detidos se não pagassem propina à quadrilha.
“É bem narrado na investigação uma sala que nós chamamos de sala de extorsão, aonde foi colocado drogas na mesa e tinha uma vítima que estava algemada com claros indicativos de, olha, aceita o acordo ou essas substâncias ilícitas serão suas’, explicou o promotor de Justiça Paulo Carolis.
Promotor afirma que existia “sala de extorsão” no 1º DP de Indaiatuba
À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Perfil
Clésio iniciou a carreira como delegado em 2010 nas delegacias da capital e chegou a Indaiatuba em março de 2021 como delegado-assistente do 1º Distrito Policial. Em janeiro de 2023, com a transferência do então titular para Campinas, foi nomeado a delegado-titular do 1º DP da cidade.
O investigado foi promovido a delegado de 1ª classe (segunda maior graduação para delegados) pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 15 de agosto de 2023. Segundo publicação no Diário Oficial, a promoção foi por “merecimento”. No cargo, Clésio teve remuneração bruta de R$ 29.657,20 em fevereiro deste ano.
Como titular em Indaiatuba, Clésio ganhou notoriedade na mídia em dois casos, especialmente. No inquérito que apurou a morte de um engenheiro dentro da Festa do Peão de Indaiatuba e na investigação sobre o assalto a uma joalheira no Shopping da cidade.
Delegado titular do 1º DP de Indaiatuba foi preso suspeito de liderar organização criminosa
Reprodução/EPTV
Células de atuação
Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.
Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.

Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Major Auguto Martinelli, comandante do 1º Baep, e Paulo Carolis, promotor de Justiça do Gaeco, durante coletiva de imprensa
Toni Mendes/EPTV
A operação
Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram na quarta-feira 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.
A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.
Alvos de prisão temporária
Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).
O delegado do 1º DP de Indaiatuba;
Um escrivão;
Dois investigadores, sendo uma mulher presa na casa dela em Itu (SP);
Dois guardas municipais;
Três advogados;
Três funcionários comissionados da Prefeitura de Indaiatuba;
Um fiscal da Prefeitura de Indaiatuba;
Um homem está foragido.
Crimes investigados
Extorsão mediante restrição de liberdade
Organização Criminosa
Roubo
Furto
Corrupção ativa
Invasão de comércios e fabricação de inquéritos
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.
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