19 de novembro de 2024

Após pressão do movimento negro, luminárias japonesas são retiradas de rua da Liberdade que abrigará memorial a escravizados


Decisão, segundo a prefeitura, foi para garantir que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”. Restante do bairro segue com os tradicionais postes de iluminação asiáticos. Programa Ruas Abertas no bairro da Liberdade, em São Paulo
CRIS FAGA/ESTADÃO CONTEÚDO
Após pressão de ativistas do movimento negro, as luminárias japonesas da Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, no Centro de São Paulo, foram substituídas por LED. O restante do bairro ainda segue com os tradicionais postes de iluminação asiáticos.
No fim da rua, fica a Capela dos Aflitos, igreja construída em 1779 onde havia um cemitério de escravizados. No ano passado, a Prefeitura de São Paulo anunciou a construção de um memorial no local para homenagear a memória negra no bairro.
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Segundo a administração municipal, a decisão de trocar as luminárias foi para “equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro” e garantir que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”.
Luminárias japonesas são retiradas da rua dos Aflitos, na Liberdade
Em nota, a prefeitura da capital confirmou que a substituição das luminárias no endereço foi “uma medida tomada em resposta ao pedido de entidades ligadas ao movimento negro, que manifestaram preocupações quanto à adequação das lanternas Suzuranto ao contexto histórico da região”. (Confira íntegra abaixo)
A Associação Amigos da Capela afirmou à TV Globo que a remoção “é fruto de uma luta de seis anos”.
“A reurbanização do Beco dos Aflitos faz parte do projeto Ruas Abertas”, disse, em nota. “Reparação aos nossos ancestrais, dando visibilidade a Capela dos Aflitos, patrimônio histórico tombado”.
Cemitério
Em 2018, foi descoberto um antigo cemitério, onde foram enterrados escravizados, indígenas e condenados à forca. Na época, os pesquisadores informaram que as ossadas identificadas inicialmente foram enterradas no período de 1775 a 1858, comprovando a existência do Cemitério dos Aflitos, até então só conhecido por documentos.
Dois anos depois dos achados, em 2020, a Prefeitura autorizou a desapropriação do terreno do antigo para a construção do Memorial dos Aflitos.
Atualmente, o local passa por obras para abrigar o memorial. No início de novembro, o g1 noticiou que, por conta de uma reforma indevida, parte da parede de um prédio vizinho das obras tombou e caiu dentro da área de escavações.
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O que diz a Prefeitura
“A SP Regula informa que a substituição das luminárias no Beco dos Aflitos, no bairro da Liberdade, foi uma medida tomada em resposta ao pedido de entidades ligadas ao movimento negro, que manifestaram preocupações quanto à adequação das lanternas Suzuranto ao contexto histórico da região.
Em compromisso com a transparência e o diálogo com a sociedade, sempre buscando soluções que respeitem a diversidade cultural e histórica da cidade, as lanternas, que remetem à imigração japonesa, foram consideradas inadequadas para o local, uma vez que o Beco dos Aflitos abriga a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, um marco histórico da época da escravidão no Brasil. A mudança foi feita antes do Dia da Consciência Negra, mas as lanternas Suzuranto foram mantidas no restante do bairro, preservando a herança da imigração japonesa. A decisão buscou equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro, garantindo que a memória de cada grupo seja adequadamente representada”.

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