29 de dezembro de 2024

Após prisão de Rivaldo, família do menino Eduardo, morto no Alemão, quer que o caso volte a ser investigado

Família lembra que o delegado, preso suspeito de ajudar a planejar crime e de atrapalhar as investigações do caso Marielle, chegou a pagar a estadia da família em um hotel na Barra. Após prisão de Rivaldo, família do menino Eduardo, morto no Alemão, quer que o caso volte a ser investigado
A família do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, baleado na cabeça por um PM no Morro do Alemão há quase nove anos, quer que o caso volte a ser investigado. As investigações ocorreram quando o delegado Rivaldo Barbosa, preso no caso Marielle, era titular da Delegacia de Homicídios.
A mãe da criança diz que ele hospedou a família em um hotel de luxo na Barra dias depois do crime como forma de evitar pressões. A prisão do delegado por suspeita de ajudar a planejar a morte de Marielle e de atrapalhar as investigações aumentou as desconfianças da família sobre a apuração da morte de Eduardo.
A morte do filho caçula da Terezinha Maria de Jesus ocorreu no dia dois de abril de 2015. Desde, então, ela luta por uma investigação digna.
‘Olhando pra trás, eu vejo agora que uma esperança maior que eu já tinha, desse caso reverter. Da Justiça ser feita, através do caso da Mariele Franco, muitos casos que ele investigou e botou panos quentes em cima, vao ser desvendados”, diz Terezinha.
A morte foi provocada por um tiro de fuzil disparado a curta distância por um policial da UPP do Alemão. O tiro atingiu a cabeça do menino, que brincava no celular na porta de casa. Ele morreu na hora.
Testemunhas, os próprios policiais do Batalhão de Choque que acompanharam a incursão na favela e a perícia no local atestaram que não teve troca de tiros na hora.
Mas as investigações seguiram outro rumo e, sete meses depois, o inquérito foi concluído. A Delegacia de Homicídios pediu o arquivamento do caso alegando que os PMs da UPP do Alemão Rafael de Freitas e Marcus Vinicius Bevitori – acusados de matar Eduardo – agiram em legítima defesa.
Segundo a investigação, eles atiraram contra bandidos armados e acabaram atingindo Eduardo por acidente.
A Delegacia de Homicídios também ignorou as denúncias de fraude processual – testemunhas disseram que viram os PMs recolherem cápsulas do chão, alterando a cena do crime.
Quem assinou o inquérito foi o delegado Alexandre Herdy, mas o responsável pela Delegacia de Homicidios na época já era o delegado Rivaldo Barbosa.
A prisão dele agora por suposto envolvimento no assassinato de Marielle Franco aumentou as supeitas da mãe do menino Eduardo sobre a conduta de Rivaldo nas investigações da morte do filho.
“Eu fui várias vezes na DH pra conversar com ele e saber como estava a investigação e toda vez ele me recebia, falava que estava investigando”, lembra Terezinha.
Entrevista com José Maria Ferreira de Sousa e Terezinha Maria de Jesus, pais do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, que morreu ontem após ser baleado durante operação do Batalhão de Choque no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio
Fábio Gonçalves/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
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Estadia em hotel
Para a família, o fato de Rivaldo ter hospedado a família em um hotel, sempre levantou suspeitas. Teresinha conta que, logo depois do crime, Rivaldo tirou a familia da Complexo do Alemão e levou para um hotel na Barra da Tijuca.
“No fim do depoimento na DH, ele falou: ‘Faz tudo o que eu mandar, não volta pro Alemão. Eu vou colocar vocês em um hotel na Barra’. Ele disse que não era o estado pagando: ‘Eu que to pagando do meu bolso’. Falou duas vezes. Então, eu coloquei isso: ‘Por que ele fez isso?’ [Para] uma mãe que tinha acabado de perder o filho. Será que foi por dó ? Não foi. Foi pra falar que ele era bonzinho, para eu acreditar nele. Pior que eu acreditei, mas agora não dá mais”, lembra
Ao receber o inquérito no Ministerio Público, o promotor Homero das Neves discordou das investigações e decidiu denunciar apenas um dos policiais da UPP: Rafael de Freitas. O outro, Marcos Vinicius Bevitori, ficou de fora. Mas a denúncia, de tão frágil, foi considerada inepta pela Justiça e o caso foi arquivado.
Homero das Neves também foi citado no caso Marielle – ele foi o primeiro promotor a investigar o caso no MP.
RIvaldo (segundo da esquerda para a direita, ao lado do homem de terno) durante as investigações do caso Eduardo no Alemão
Reprodução/TV Globo
Reabertura do caso na Justiça
No ano passado, a mãe de Eduardo conseguiu reabrir o caso. No pedido de desarquivamento enviado ao MP, o advogado da familia do menino alegava que os fatos levaram a crer que existiu uma organização criminosa possivelmente chefiada pelo delegado Rivaldo Barbosa que atuou na obstrução da investigação de homicídios praticados por policiais.
Na época, o advogado já pedia a criação de uma força-tarefa para rever os inquéritos arquivados e ações penais extintas sem julgamento de mérito que tenham por objeto crimes dolosos contra a vida praticados por agentes das forças de segurança pública.
“A conduta foi sempre: ‘Eu passei noites estudando seu caso’ e que ia no lugar onde mataram o Eduardo. Eu sempre acreditando, mas com a pulga atrás da orelha. Eu acho hoje que ele realmente não investigou, enrolou e mentiu”, lamenta Terezinha
Nesta quarta (27), o Psol pediu uma revisão das investigações chefiadas por Rivaldo Barbosa. “Nosso pedido é que tenha uma revisao dos casos chefiados pelo rivaldo para que a gente possa identificar outros casos de repercussão, o próprio relatório da PF [sobre o caso Marielle] pra que a gente possa trazer Justiça às pessoas”, disse o deputado federal Tarcísio Motta.
O que dizem os citados
A Polícia Civil informou que o inquérito foi concluído e relatado ao Ministério Público em 2015 e que, na época, foi apurado que o disparo que atingiu a vítima partiu de onde policiais militares estavam. A Civil diz ainda que todos os recursos possíveis foram empregados, mas não foi possível identificar qual dos agentes era o autor do disparo.
A defesa do delegado Rivaldo Barbosa não respondeu à produção do RJ2.

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