26 de dezembro de 2024

Após repercussão negativa, governo revoga concessão de medalha de mérito para policial acusado de matar dois homens em suposto confronto

Soldado Diogo Eleutério Ferreira é um dos seis policiais militares do COD acusados envolvimento em simulação de confronto. Medalha foi oferecida “pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás”. PM é filmado atirando contra carro e colocando arma dentro de veículo
Após a repercussão negativa, o Governo de Goiás decidiu revogar a concessão da medalha de mérito dada ao policial militar acusado de envolvimento na simulação de um confronto, em Goiânia – leia nota na íntegra ao final do texto. No suposto confronto, morreram Marienes Pereira Gonçalves e Júnior José de Aquino Leite.
“A análise dos nomes para serem condecorados foi realizada pela Casa Militar no 1º trimestre do ano corrente, ou seja, antes do registro da ocorrência policial. Contudo, o governo reconhece que a homenagem é totalmente inapropriada e por isto decidiu pela revogação”, afirmou a nota do governo estadual.
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O soldado Diogo Eleutério Ferreira e outros cinco policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) se tornaram réus pelo envolvimento na morte dos dois homens durante um falso confronto. Na época, a Justiça não acolheu o pedido dos promotores de prisão preventiva dos acusados nem o pedido de afastamento das atividades policiais.
O g1 questionou a Polícia Militar se os seis foram presos ou afastados do serviço. A corporação informou que Diogo Eleutério Ferreira encontra-se afastado de suas funções operacionais. No entanto, não foram repassadas informações sobre os outros cinco. A PM também ressaltou que a “comenda” não é concedida pela corporação.
O g1 também pediu um posicionamento para o advogado que respondia pela defesa de Diogo Eleutério Ferreira inicialmente, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem. No Tribunal de Justiça de Goiás não constam advogados habilitados no caso atualmente.
Diogo Eleuterio Ferreira, acusado de envolvimento em suposto confronto em Goiânia
Reprodução/TV Anhanguera
A lista de autoridades militares e civis que receberam a medalha foi divulgada na quarta-feira (31), no Diário Oficial do Estado de Goiás. Conforme descrito no documento, a honraria é oferecida “pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás e, em especial, à Secretaria de Estado da Casa Militar”.
Segundo o Ministério Público, os policiais foram acusados de duplo homicídio triplamente qualificado, por terem agido sem dar chance de defesa às vítimas, com motivo fútil e de forma dissimulada, marcando um encontro sem levantar suspeitas “quanto às intenções homicidas”. Foram denunciados os PMs:
1º Tenente Alan Kardec Emanuel Franco
2º Tenente Wandson Reis Dos Santos
2º Sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira
3º Sargento Wellington Soares Monteiro
Soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva
Soldado Diogo Eleuterio Ferreira
A denúncia explica a atuação de cada um dos policiais, assim como os meios usados por eles para esconder o crime e forjar a ideia de que tudo não passava de um confronto. Para os promotores, os policiais Marcos, Wandson, Wellington e Pablo Henrique participaram ativamente das mortes. Já Allan Kardec e Diogo Ferreira agiram descaracterizados para ajudar na execução.
O que diz a defesa deles?
Policiais militares Wellington Soares Monteiro, Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, Wandson Reis dos Santos, Pablo Henrique Siqueira e Silva, Allan Kardec Emanuel Franco e Diogo Eleuterio Ferreira em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
O g1 solicitou uma nota atualizada aos advogados que respondiam pela defesa dos seis policiais incialmente, por meio de mensagem enviada às 16h05 desta quinta-feira (1º). No entanto, não houve retorno até a última atualização da reportagem.
Em nota assinada pelos advogados José Patrício Junior e Antonio Celedonio Neto em março, a defesa dos policiais optou por não comentar sobre o vídeo e as informações divulgadas, justificando que aguarda os procedimentos judiciais em andamento.
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A defesa ressaltou o princípio da inocência, expressou solidariedade à família dos mortos e manifestou preocupação com a divulgação de “informações equivocadas”, que poderia influenciar negativamente a presunção de inocência dos policiais envolvidos.
Segundo os advogados, o vídeo do suposto confronto será submetido à perícia e a defesa se compromete a esclarecer os fatos à imprensa com o decorrer das investigações avançarem e a ação penal for proposta, desde que não haja caráter sigiloso (veja nota completa no fim da reportagem).
Entenda o caso
Marienes Pereira Gonçalves e Júnior José de Aquino Leite, mortos em ação da Polícia Militar
Reprodução/TV Anhanguera
O crime aconteceu em 1º de abril, segunda-feira, em Goiânia. Segundo a denúncia, os policiais armaram um encontro com as vítimas para que “algo” fosse entregue. Um vídeo divulgado pelo g1 mostra Júnio dizendo que tinha um compromisso para buscar um “trem” na sede do batalhão do COD, ao meio-dia de uma segunda-feira. O local em que os dois homens foram executados fica a aproximadamente 2,2 quilômetros do batalhão.
Segundo a denúncia do MPGO, Marines Pereira Gonçalves e Junio José de Aquino eram informantes dos PMs e tiravam proveito de crimes junto com eles.
Vítima de PMs disse em vídeo que pegaria pacote no COD
Conforme o Ministério Público, o carro das vítimas estava estacionado próximo ao meio-fio do Centro de Treinamento do Vila Nova Futebol Clube. Marines estava dentro do carro, sentado no banco do motorista, enquanto Junio estava em pé do lado de fora, próximo à porta dianteira direita, quando os policiais se aproximaram e dispararam contra as vítimas.
Um vídeo, feito pelo celular de uma das vítimas, mostra parte do crime e revela que nenhum dos dois homens reagiu. Apesar disso, foram baleados com um fuzil. A filmagem ainda mostra a possível simulação de confronto, em que um dos policiais aparece sacando uma pistola e atirando duas vezes e outro militar tira outra arma da sacola e também dispara duas vezes.
Um investigação feita pela Corregedoria da Polícia Militar também concluiu que os PMs mentiram para justificar as ações e dificultar as investigações. No inquérito, é revelado que os policiais apresentaram diferentes versões sobre motivações, disparos e até horários da ocorrência.
PM é filmado atirando contra carro e colocando arma dentro de veículo durante ação policial em Goiânia, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
Nota do Governo de Goiás:
Por determinação do governador Ronaldo Caiado, será revogada a concessão da Medalha do Mérito Guardião ao soldado Diogo Eleutério Ferreira. A análise dos nomes para serem condecorados foi realizada pela Casa Militar no 1º trimestre do ano corrente, ou seja, antes do registro da ocorrência policial. Contudo, o governo reconhece que a homenagem é totalmente inapropriada e por isto decidiu pela revogação.
Nota defesa dos PMs:
Os advogados subscritores, informam que mobilizados para formular a defesa técnica dos Policiais Militares componentes do Comando de Operações de Divisas envolvidos na Ocorrência na Cidade de Goiânia-GO.
Incialmente a defesa esclarece não só aos meios de comunicação, mas a toda sociedade goiana que confia na atuação da Polícia Civil e no Comando Correcional da Policia Militar que juntas buscam esclarecer a realidade de como se desdobraram os fatos.
Acerca das notícias veiculadas nos meios de comunicação, a defesa técnica vem esclarecer alguns pontos relevantes sobre o caso:
A defesa técnica informa que, por hora não irá comentar sobre o vídeo e as informações até agora veiculados, de forma que irá aguardar a realização dos procedimentos judiciais que estão em deslinde.
É necessário dizer que deve-se observar antes de qualquer pré julgamento, que no Brasil vigora o princípio da inocência.
A defesa ombreia a dor da família enlutada, todavia não pode permitir que informações equivocadas em relação ao caso se perpetuem através do meios de comunicação, onde tem noticiado inverdades formando um prejulgamento com relação ao caso envolvendo os valorosos Policiais Militares, violando assim a presunção de inocência.
A defesa informa que o vídeo já veiculado nas plataformas de notícias, será encaminhado para perícia a fim de verificar e constatar de forma inequívoca o horário da abordagem.
A defesa informa ainda que, com a evolução das investigações bem com a propositura da Ação Penal e esta não adquirindo o caráter sigiloso, estará à disposição para esclarecer novamente à imprensa sobre os fatos, visando restabelecer a verdade do ocorrido.
Por derradeiro cabe dizer que, os defensores legalmente autorizados à prestarem esclarecimentos sobre o caso são apenas subscritores, assim, qualquer informação advinda de outro Advogado dever ser por hora ignorada.
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