Sem diploma, empresário que erguia seus próprios projetos foi alvo de crítica de grandes nomes da arquitetura moderna, mas deixou sua assinatura nas cidades de São Paulo e Santos. Décadas depois, edifícios fazem sucesso e ajudam a contar a história de Artacho em exposição no Itaú Cultural, na Av. Paulista. Artacho Jurado: taxado de ‘brega’, arquiteto autodidata que construiu prédios monumentais
“No Artacho a gente não sabe o que vinha antes, o desejo de vender ou o de desenhar.”
Essa é uma boa maneira para se começar a definir Artacho Jurado, um arquiteto sem diploma que calhou de se tornar um empreiteiro de sucesso (ou o contrário) e ousou erguer seus prédios coloridos e cheios de rococó enquanto peitava a saraivada de críticas que eles levantavam de arquitetos consagrados de sua época.
A frase que abre o texto é de Guilherme Giufrida, um dos curadores da Ocupação Artacho Jurado, que teve início na última semana no Itaú Cultural, na Avenida Paulista (detalhes no fim do texto).
O arquiteto Artacho Jurado entre dois de seus prédios mais conhecidos, o Viadutos (esq.) e o Bretagne. Autodidata polêmico em sua época é tema de exposição em SP
Acervo família Jurado e Tuca Vieira/Divulgação Itaú Cultural
Numa época em que a moda era a grandiosidade sisuda da arquitetura moderna, Artacho misturou referências e cores e deixou sua assinatura no relevo da capital paulista de forma um tanto quanto única.
O g1 visitou a exposição ainda durante a montagem. Uma das peças que mais chama atenção é a mesa de maquetes que ilustra como os edifícios do arquiteto, na época alguns dos mais altos da cidade, pareciam se observar em meio ao relevo de São Paulo e criavam uma narrativa entre si (veja o vídeo acima).
“Não era um acadêmico, não era um intelectual e tampouco circulava nesse circuito da elite financeira e artística paulistana. Por outro lado, naturalmente, a sua personalidade, vamos dizer assim, era absolutamente criativa”, afirma Giufrida.
Além de colocar em evidência a veia artística do arquiteto autodidata, a exposição também evidencia como Artacho era um ótimo marketeiro. O lançamento de cada prédio era um espetáculo que chegava a ter banda de fanfarra, show de dança do ventre e até presença vip que ia da Miss América da época até grandes atores e atrizes de Hollywood.
Artacho Jurado: prédios, estilo e imagens históricas
Outros arquitetos chamavam de ‘brega’
Por conta da falta de diploma e da “ousadia” de erguer prédios coloridos e cheios de trelelê numa época em que a vanguarda da arquitetura apontava outra direção, os arquitetos e acadêmicos da área não iam nem um pouco com a cara dele.
Tanto que conseguiram fazer com que se tornasse obrigatório colocar uma placa com o registro do arquiteto responsável na frente das obras. Por conta disso, Artacho passou a contratar arquitetos formados para assinarem seus projetos dali em diante –o que nunca gerou qualquer dúvida sobre a real autoria deles, dados seus traços tão próprios.
Os críticos descreviam seu estilo como brega, kitsch, “parque de diversões” ou “bolo de noiva”, mas Artacho parecia muito confiante com a qualidade de suas criações e não dava muita bola, não –como parece indicar a foto abaixo.
Em seu aniversário de 50 anos, o arquiteto Artacho Jurado corta um bolo feito sob encomenda no formato do Edifício Viadutos, que era o favorito dele, com toda pompa que um bolo que noiva costuma esbanjar. Na época dos lançamentos, críticos descreviam seu estilo como ‘brega’, ‘kitsch’, ‘parque de diversões’ ou ‘bolo de noiva’
Arcervo família Jurado
“Eu sempre uso muito o exemplo da Avenida São Luís, que é a primeira avenida onde a burguesia poderia viver em condomínios verticais, porque até então a elite de São Paulo vivia sobretudo em casas. Estava tendo uma transição ali nos anos 1940. E se você olhar até hoje na paisagem da avenida estão ali os grandes nomes da Arquitetura Moderna, e está ali o Artacho com o Edifício Louvre, que são dois terrenos, um dos maiores edifícios, senão o maior da avenida. E ele é completamente cor de rosa. Então ele tinha algum recado que ele estava dando ali. (…) E é uma uma coragem também no sentido de que ele misturava muitos elementos, muitos materiais, muitas cores. E isso, afinal de contas, dava certo e até hoje envelheceram bem, também. Hoje, olhando na nossa visão esse prédio, acho que hoje a pintura dele é muito menos criticada. Pelo contrário, hoje são prédios que oferecem muito desejo, muita gente quer morar”, diz o curador.
Ocupação Artacho Jurado
Curadoria: Guilherme Giufrida e Jéssica Varrichio
Visitação: 20 de junho até 15 de setembro
Local: Itaú Cultural, sala multiuso (2º andar) – Avenida Paulista, 149, próximo ao metrô Brigadeiro
Visitação: Terça a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h
Entrada gratuita. Acessível a pessoas com deficiência física
Estacionamento pela Rua Leôncio de Carvalho, 108. Bicicletário gratuito