20 de setembro de 2024

Ataque israelense mata 7 agentes humanitários que distribuíam comida em Gaza

Israel assumiu a responsabilidade. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse: ‘Foi um ataque não intencional. Isso acontece na guerra’. Ataque israelense em Gaza mata 7 agentes humanitários de ONG internacional
Um ataque israelense à Faixa de Gaza matou sete agentes humanitários de uma organização internacional. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu admitiu que houve um ataque não intencional, disse que acontece em guerras e que vai fazer tudo para que não ocorra novamente.
No teto do carro, a marca da bomba. Por toda parte, a identificação: World Central Kitchen – ou Cozinha Central do Mundo. É uma organização humanitária famosa criada por um imigrante que tinha um sonho.
Aos 23 anos de idade, um jovem espanhol foi para os Estados Unidos e apresentou para os americanos o que eram as tapas, que são pequenos pratos que os espanhóis adoram. José Andres não queria ser chamado de chef, mas de cozinheiro. Acreditava que seu talento era a barriga no fogão. Foi assim que construiu um império e virou celebridade.
Um dos grandes empreendimentos dele fica em Nova York. Se chama Pequena Espanha. É como um shopping center com vários restaurantes e lojas que vendem a comida e produtos assinado pelo cozinheiro espanhol. É como a realização do sonho americano de um imigrante. Mas só depois que ele conseguiu realizar esse sonho, José Andres percebeu que não era suficiente.
Ele conta em um documentário que recebeu um chamado. Foi durante o terremoto no Haiti, em 2010. José Andres foi para lá cozinhar para as pessoas. E, depois disso, a empreitada cresceu. A ONG que ele criou levou comida para os desabrigados do furacão de Porto Rico, em 2017. Durante a pandemia, a organização contratou estabelecimentos que passavam por dificuldades, como o restaurante da brasileira Karina Guimarães — aberto durante o lockdown só para alimentar idosos em hospitais.
“Estava bem difícil, não tinha ninguém aqui, a porta fechada. E acabou que a gente recebeu a proposta dessa pessoa e aí a gente começou a trabalhar com os hospitais, oferecer comida, levar comida”, conta Karina.
A organização só foi crescendo e chegou a distribuir alimentos para as vítimas das fortes chuvas de 2022 na Bahia.
Em Gaza, a ONG abriu em março a primeira rota para entregar ajuda pelo mar. Construíram uma estrutura para um guindaste tirar a comida dos navios. A ONG criou uma rede de distribuição de alimentos. Já são quase 40 milhões de refeições servidas desde o início do conflito entre Israel e o grupo terroristas Hamas.
Um dos vídeos divulgados pela ONG mostra a australiana Zomi Frankcom. Ela trabalha com cuidado, como se estivesse em um restaurante de verdade. Um vídeo é o último que ela aparece. Zomi e outros seis agentes humanitários estavam nos carros que foram bombardeados. As equipes tinham acabado de descarregar 100 toneladas de comida do porto onde fica o guindaste. O comboio passava por uma estrada costeira quando foi atingido. Eles tinham autorização de Israel para transitar.
Em nota, a diretora da ONG afirmou que “esse ataque não é apenas contra eles, mas contra organizações que se apresentam nas situações mais extremas, em que a comida é usada como arma de guerra. É imperdoável”.
Entre as vítimas, também havia cidadãos dos Estados Unidos e Canadá, do Reino Unido e Polônia. Governos de todos esses países e a ONU condenaram o bombardeio e cobraram esclarecimentos. O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, pediu uma investigação rápida e imparcial que explique exatamente o que aconteceu.
O motorista, também morto, era da Faixa de Gaza. Israel assumiu que o ataque partiu do seu próprio Exército. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse:
“Foi um ataque não intencional. Isso acontece na guerra. Estamos investigando e vamos fazer de tudo para que não aconteça de novo”.
A ONG suspendeu as operações em Gaza e os navios que iam descarregar mais toneladas de comida agora estão voltando. Desde o começo da guerra, cerca de 200 agentes humanitários foram mortos, de acordo com a ONU.
Os corpos das vítimas do ataque foram enfileirados no chão. Eles devem ser transferidos para o Egito e depois para as suas famílias, que guardarão orgulho e uma dor sem cura.
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