8 de janeiro de 2025

Atraso na desova das tartarugas no rio Guaporé causa morte de mais da metade dos filhotes, aponta biólogo


Estimativa é que aproximadamente 700 mil filhotes sejam colocados no rio. As tartarugas pertencem à espécie Podocnemis expansa, a maior espécie de quelônio de água doce da América do Sul. Filhotes de tartarugas são soltos no Rio Guaporé em RO
Ecovale/Divulgação
Ao longo do mês de dezembro aconteceu um dos mais belos eventos do rio Guaporé, em Costa Marques (RO): a soltura dos filhotes de tartarugas. No entanto, a mortalidade superior a 60% dos filhotes, causada pelo atraso na desova, segundo especialistas.
“Nunca, nunca ocorreu uma situação dessa. Primeira vez, 25 anos nunca aconteceu isso”, relatou o ambientalista José Soares Neto, fundador da Ecovale, a Organização Não Governamental que monitora os quelônios do rio Guaporé.
➡️Contexto: normalmente a desova das tartarugas-da-amazônia ocorre entre agosto e setembro. Neste ano, elas encontraram o cenário ideal apenas em meados de outubro: um atraso de 53 dias. O motivo foi a densa camada de fumaça causada pelas queimadas florestais.
No final da desova, cerca de 700 mil filhotes chegaram até o rio. Em comparação com os outros anos, essa é uma quantidade muito inferior, assim como aponta José Soares Neto, mais conhecido como “Zeca Lula”, fundador da Ecovale. Em 2024, 1,4 milhão de filhotes sobreviveram.
🐢Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o tabuleiro de desova do rio Guaporé é o maior do país. As tartarugas se espalham por quatro praias: Ilha, Alta, Suja e Tartaruguinha.
As queimadas em Rondônia causaram o atraso na formação dos ninhos de tartarugas, que tiveram pouco tempo para reproduzir. Com a chegada das chuvas, o rio subiu rapidamente e alguns animais não resistiram aos efeitos climáticos.
O cenário de aumento na mortalidade já era temido pelos especialistas do projeto, assim como explica o biólogo Deyvid Muller:
primeiros as tartarugas cavam buracos na areia da praia e colocam os ovos,
depois disso os ovos são enterrados e chocados.
Meses depois, os filhotes eclodem, saem dos ninhos e são “resgatados” pelos voluntários;
No entanto, neste ano, a desova atrasou quase dois meses e o rio subiu muito rápido para “buscar” os filhotes, quando grande parte deles ainda não estavam prontos.
Segundo o Ibama, a mortalidade está atrelada à mudanças climáticas, como o atraso no início do período de desova e um fenômeno conhecido como repiquete: variações bruscas no nível dos rios.
“No caso do Guaporé, praias que tradicionalmente permaneciam secas durante o período de desova foram inundadas, resultando em um aumento expressivo na mortalidade dos filhotes”, diz trecho de nota do Ibama enviada ao g1.
Deyvid explica que a fumaça alterou a temperatura e a luminosidade do ambiente, impossibilitando a criação do “cenário ideal” para a desova das tartarugas no período regular.
“Nós acreditamos que o principal motivo foram as queimadas e a grande quantidade de fumaça, que afetaram a temperatura, e a falta do sol pela necessidade da temperatura da areia para que chocassem seus ovos”, explica.
As tartarugas monitoradas pelo projeto pertencem à espécie Podocnemis expansa, a maior de água doce da América do Sul, que pode atingir um metro de comprimento e pesar até 75 quilos.
Soltura dos filhotes de tartarugas no Rio Guaporé em RO
Ecovale/Divulgação
Segundo a Ecovale, durante o período de monitoramento, os filhotes são mantidos em tanques por até 30 dias para perderem o odor que atrai predadores, aumentando suas chances de sobrevivência após a soltura.
Além dos voluntários dos projetos ambientais, a ação é feita em conjunto com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e o Programa Áreas Protegida da Amazônia (ARPA). A ação tem como objetivo garantir a sobrevivência das tartarugas, além de fortalecer a relação da população com o meio ambiente.
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