18 de janeiro de 2025

ÁUDIO: Médico do Samu é investigado por omissão de socorro a paciente idosa que morreu no RS

Gravação obtida pelo Grupo de Investigação da RBS mostra que profissional teria desligado o telefone intencionalmente enquanto conversava com a filha da mulher. Cardíaca e diabética, ela precisava de atendimento de urgência e faleceu cerca de 3h depois em Porto Alegre. A paciente Edith Carvalho da Silva, que faleceu
Arquivo Pessoal
Um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Porto Alegre está sendo investigado pela Polícia Civil por suspeita de omissão de socorro a uma paciente de 73 anos. Em novembro de 2023, Edith Carvalho da Silva passou mal, e os filhos tiveram que ligar para o telefone 192.
Uma gravação obtida com exclusividade pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) mostra que o médico teria desligado a chamada intencionalmente enquanto conversava com a filha da idosa, que precisava de atendimento de emergência. Cardíaca e diabética, a mulher morreu certa de três horas depois. (Ouça a gravação abaixo)
Médico do Samu é investigado por omissão de socorro a paciente idosa
Com três fontes diferentes, o GDI conseguiu identificar a voz que aparece na gravação como sendo do médico César Volésio Ribeiro Carvalho. Na segunda-feira (17), mais de seis meses após o ocorrido, a Secretaria Municipal da Saúde confirmou, em resposta aos ofícios da polícia, a identificação de César.
A reportagem tentou contato com o profissional, mas, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, em decisão conjunta, foi decidido apenas divulgar uma nota oficial. A pasta anunciou abertura de sindicância e afirmou que “colabora com toda e qualquer investigação”. (Leia a manifestação na íntegra abaixo)
Ambulâncias do Samu
Reprodução/RBS TV
O caso
Durante o atendimento, o médico regulador insistiu para conversar com a paciente. Os filhos alegavam que a mulher não conseguia falar.
“Ela passou mal. O meu irmão me chamou pra ajudar ele a fazer o procedimento. Ligamos para a Samu. O médico queria falar com a paciente. Ela não podia mais falar por causa do estado grave que estava. E ele insistiu”, conta a enfermeira Jaqueline Carvalho da Silva, filha de Edith.
A gravação confirma a insistência do médico em conversar com a idosa. Um dos filhos chegou a aproximar o celular dela.
“Tá falando. Então deixa eu tentar falar com ela aí, vamos ver”, diz o profissional da saúde.
O que a idosa diz na sequência é incompreensível. Jaqueline, então, pega o telefone, irritada e com a voz alterada.
“A paciente não consegue falar. Ela não tomou a medicação, ela está com a glicose baixa. O senhor quer que eu resuma mais pro senhor? Que ela está entrando em óbito?”, questiona Jaqueline.
Filha de paciente idosa que faleceu contou versão dela à reportagem da RBS TV
Reprodução/RBS TV
O plantonista reage dizendo que vai interromper a ligação. “Tu para de gritar”, adverte o homem.
Ela responde e, em seguida, a chamada é encerrada.
“Ele não tem o direito de se alterar, porque ele é um profissional, né. Ele foi treinado pra isso. Ele tem que perguntar, ele tem que conversar e ele tem que acalmar, né?”, queixa-se Jaqueline.
A filha da paciente relatou que levou a mãe a um hospital da Zona Sul. Edith faleceu três horas depois.
Investigação
A partir da ocorrência registrada pela família, a delegada Ana Caruso, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso e Porto Alegre, abriu um inquérito para apurar o caso.
“Nós instauramos um inquérito de omissão de socorro. Ele teria obrigação legal de atender ao chamado dos filhos, que estavam desesperados. Ele simplesmente se recusou a atender, desligou o telefone e disse que se não conversasse com a idosa não prestaria atendimento, e não prestou”, explica a delegada.
Delegada Ana Luiza Caruso, da Delegacia de Proteção ao Idoso
Reprodução/RBS TV
Conduta profissional contestada
O professor Délio Kipper, coordenador do Comitê de Bioética Clínica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), avaliou a conduta do plantonista. Segundo ele, se a interrupção da ligação partiu do médico houve um erro “do ponto de vista deontológico”.
“O que está claramente escrito no Código de Ética Médica, artigo 32, em que o médico não pode abandonar um paciente que está em risco”, opina Kipper.
Nota da Secretaria Municipal de Saúde
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), informa que abriu sindicância para investigar o ocorrido. A pasta se coloca à disposição para auxiliar com informações e colabora com toda e qualquer investigação seguindo a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoas (LGPD).
As informações pertinentes já foram direcionadas para a Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso.
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