Substância causa paralisia, dormência e pode ser fatal para humanos. Veneno é obtido através da alimentação e fica alojado na pele e nas penas da ave. O pitohui-encapuzado (Pitohui dichrous) se alimenta de besouros venenosos
markuslilje/iNaturalist
Quando pensamos em animais venenosos, os primeiros que lhe vem à cabeça são, provavelmente aranhas, cobras e escorpiões. Mas o que pouca gente sabe é que também existem aves venosas. Elas não têm o mecanismo de produção de veneno, como as serpentes, mas se tornam venenosas ao se alimentar de uma espécie de besouro.
O gênero Pitohui engloba quatro espécies de aves, todas da Papua-Nova Guiné, na Oceania, sendo que há conhecimento da ocorrência de veneno em pelo menos três. “A espécie mais conhecida é pitohui-de-capuz (Pitohui dichrous), que fica com toxinas na pele e pena”, explica o ornitólogo Fernando Igor.
Segundo o ornitólogo, o besouro que possui essa toxina é da família Melyrida, o mesmo responsável pelo veneno presente em pererecas coloridas da família Dendrobatidae (típicos da Amazônia e América Central), alguma das mais venenosas do mundo.
Um desdobramento interessante é que já tinha sido investigado como os anfíbios conseguem ingerir insetos tóxicos para sintetizar os venenos e não se envenenarem no processo. Nos estudos, descobriram que existem mutações específicas em genes que impedem as ações dos venenos.
Os pitohuis são nativos da Papua-NovaGuiné
gee912/iNaturalist
Quando isso foi investigado nas aves, encontraram mecanismos bem parecidos, mas não idênticos. “Aves e sapos possuem um mesmo ancestral comum, mas eles se separaram há muito tempo. Então as mutações em sapos e aves foram independentes, mas chegaram aos mesmos resultados”, explica o ornitólogo Guilherme Brito.
O veneno presente nos pitohui tem a capacidade de provocar paralisia no corpo dos seres vivos (inclusive nos músculos do coração), podendo causar a morte de animais em contato com ele. “Seu veneno é usado para defesa contra predadores. No contato com a boca, os olhos e as mucosas nasais ou ferimentos na pele começam a sentir dormência e paralisia no local”, explica o ornitólogo.
A descoberta foi realizada pelo pesquisador John Dumbacher, da Universidade de Chicago; Ao pegar um dos pássaros nas mãos, sofreu um arranhão. Ele então chupou o dedo e sentiu a boca formigar. Foi quando moradores locais o informaram que se tratava de uma ave venenosa. O pesquisador publicou essa descoberta em 1992 em uma revista científica.
Os Pitohui são espécies florestais, mas podem ser encontradas em matas secundárias e bordas. Além de insetos, alimentam-se também de frutos.
Outras espécies
Além das aves que pertencem ao gênero dos Pitohui, há mais duas espécies originárias da Papua-Nova Guiné que também possuem a batracotoxina devido à alimentação: o assobiador-regente (Pachycephala schlegelii) e o sineiro-de-nuca-ruiva (Aleadryas rufinucha).
O assobiador-regente (Pachycephala schlegelii) adiquire a toxina por meio de sua dieta
markuslilje/iNaturalist
Batracotoxina
Presente nos besouros da família Melyridae, a batracotoxina é um potente alcaloide neurotóxico que afeta os canais de sódio nas células nervosas, resultando em paralisia e, em doses elevadas, pode ser letal até mesmo para os seres humanos.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente