Idealizador da Vila Virgínia, Álvaro de Lima se apaixonou pelo município, arrematou terras de uma chácara em 1924, as loteou e batizou local com nome da esposa. Vila Virgínia completa 100 anos em Ribeirão Preto
Há 70 anos o português Abílio da Encarnação Ricardo, de Leiria, escolheu a Vila Virgínia para morar em Ribeirão Preto (SP) e de lá nunca mais saiu. “Eu já vim direto aqui para a Vila Virgínia, pelo motivo do crescimento que ia ter”, diz.
Assim como ele, no início dos anos 1920 o homem responsável por fundar o bairro centenário não era da cidade no interior de São Paulo, mas, ao conhecer a região, não teve dúvidas de que ali seria sua casa quando arrematou as terras de uma chácara, abriu um loteamento e deu à localidade o nome de sua esposa.
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Abertura da Vila Virgínia, em Ribeirão Preto (SP), nos anos 1920
Reprodução/EPTV
Segundo relatos de um diário recentemente descoberto, foi assim que, em 1924, o caixeiro-viajante Álvaro de Lima fundou a Vila Virgínia, que acaba de completar 100 anos como um dos pontos mais tradicionais do município com quase 23 mil moradores, muitas memórias e hábitos que remetem ao passado.
“Esse é um dos bairros iniciais de Ribeirão Preto. (…) Ele diz respeito a uma época de ouro da economia do café em que Ribeirão Preto atraía muitas pessoas pra morar aqui por conta desse agronegócio, mas também pra trabalhar nesse setor e residir nessa cidade”, afirma o historiador Sérgio de Campos Gonçalves.
Álvaro de Lima, à direita, e a esposa, Virgínia, que inspira nome de bairro em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Álvaro de Lima e a Vila Virgínia
Álvaro de Lima era um caixeiro-viajante, nome dado a quem atuava como representante de vendas. Nascido em Minas Gerais, ele sempre passava por Ribeirão Preto em suas viagens para São Paulo.
Nessas idas e vindas, ele gostou tanto do que viu que resolveu se estabelecer no município e comprou terras para fazer um bairro, em um projeto empreendedor semelhante ao que hoje é muito comum no mercado imobiliário, mas audacioso para a época.
Foto antiga mostra local que deu origem à Vila Virgínia, em Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
O local escolhido era a região conhecida como Chácara Paraíso. Anotações de um diário do próprio Álvaro de Lima guardado pela família, e que recentemente foi encontrado, descrevem a iniciativa.
“Em 31 de agosto de 1923, arrematei em praça pública a Chácara Paraíso, com oito alqueires. Decidi então deixar de viajar e cuidar das terras e transformar a chácara em Vila Virgínia.”
A abertura do loteamento foi aprovada em 16 de maio de 1924 e o nome dado ao local, utilizado até hoje, foi inspirado no da esposa de Álvaro, Virgínia Barros de Lima, com quem teve três filhos. Neta dela e do caixeiro-viajante, Virgínia Macorin de Lima Sant’Anna conta que o gesto tem um significado especial.
Neta de Álvaro de Lima, Virgínia Macorin lê diário deixado pelo avô, em que ele relata iniciativa de fundar bairro em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
“Meu nome também é em homenagem à minha avó, que não conheci. Quando eu nasci ela já havia falecido, então me deram o nome de Virgínia em homenagem a ela também”, diz.
O bairro se desenvolveu à margem esquerda de uma antiga estrada que ligava a cidade a Sertãozinho (SP), banhado pelo Córrego Ribeirão Preto.
Álvaro de Lima ainda doou um espaço para construir a principal rua do bairro, a Avenida Joaquim da Cunha, mais tarde chamada de Avenida Primeiro de Maio, além de uma área para construção da Igreja Nossa Senhora do Rosário, que depois se tornou a Igreja Santa Maria Goretti.
A Vila também ganharia um estádio, o Costa Coelho, casa do Esporte Clube Mogiana, fundado em 1938 por ferroviários, os primeiros moradores da região.
Foto antiga mostra loteamento de bairro que mais tarde se tornaria a Vila Virgínia, em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Bairro tradicional
A importância de Álvaro de Lima ainda está evidente em uma das avenidas do bairro, que desde os anos 1970 leva seu nome e é uma extensão da Avenida Jerônimo Gonçalves, próximo à região central.
Parte do crescimento de Ribeirão Preto, hoje a Vila Virgínia tem quase 23 mil moradores, mais da metade com idade acima dos 50 anos. Uma população com hábitos que remetem ao passado, como o de se sentar na calçada para esperar o fim da tarde, e que, mesmo depois de tantos anos, segue fiel ao bairro.
O português Abílio da Encarnação, que mora há 70 anos na Vila Virgínia, em Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
“Antes de me casar eu já morava na [Avenida] Caramuru, quando eu me casei passei para a rua debaixo e ali estou há 45 anos”, diz a dona de casa Marta Araújo.
Pessoas como ela ajudam a movimentar em torno de 645 empresas instaladas no bairro, quase um quarto delas fundadas há pelo menos 20 anos, como a loja de produtos veterinários do comerciante Tarcísio Corrêa de Melo, nascido e criado na região.
O comércio existe há 33 anos e é considerado um ponto de encontro de amigos na Rua Cardeal Arco Verde.
“Às vezes o pessoal falava: por que você nao abre filiais em outros bairros? Eu prefiro melhorar minha empresa aqui porque aqui a gente é muito acolhido, a freguesia tanto em volta quanto de Ribeirão Preto inteira prestigia a nossa loja, que é uma loja não só de compra e venda, mas uma loja de se fazer relações de amizade”, diz o comerciante.
Avenida Álvaro de Lima, em homenagem ao fundador da Vila Virgínia, em Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
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