26 de dezembro de 2024

Banheira na sacada, casa torta: tour mostra curiosidades de palacete que foi de prefeito de Ribeirão Preto em 1920

Restaurado recentemente, prédio tombado faz parte da paisagem do centro histórico da cidade. Tour pelo Palacete Camilo de Mattos em Ribeirão Preto mostra primeira etapa da restauração
A casa número 625, no cruzamento das ruas Duque de Caxias e Tibiriçá, em Ribeirão Preto (SP), é um resgate à memória da cidade e parte importante da história do século 19.
Inaugurado em 1922, o Palacete Camilo de Mattos passa agora por um processo de restauração, mas recentemente abriu as portas.
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Após a primeira etapa das obras, que se concentrou na fachada, dormitório I e hall de entrada, o local voltou a receber, em média, 700 visitantes por dia, número que pode chegar a mais de mil aos finais de semanas e feriados.
O processo de restauro começou quando a arquiteta Tainá Braulino, especializada em patrimônio, conheceu os empresários que compraram o imóvel, em 2017.
Desde então, ela se dedica ao projeto e praticamente se tornou ‘guia’ do local, compartilhando história e curiosidades, como fez no tour com a reportagem do g1 (veja a visita completa no vídeo acima).
“Quando a gente chegou aqui, tinha duas opções: ou restaurar a última pintura ou a primeira, que foi a de 1922. A gente escolheu a primeira, tanto que essas cores que estão na fachada são as [cores] originais de 1922”.
Palacete Camilo de Mattos em Ribeirão Preto, SP, está aberto a visitas após primeira etapa de restauração
Ana Beatriz Fogaça/g1
O palacete recebeu o nome em homenagem ao primeiro morador, o político e advogado Joaquim Camilo de Matos, que viveu no local com a esposa e filhos, que depois virariam herdeiros.
A história da família se mistura com as lembranças da casa e da população. Para contar um pouco desses 102 anos de construção e vivências, o g1 listou seis curiosidades sobre o imóvel:
Banheira rosa na sacada
Incêndio e moradores de rua
Planta torta
Lugar separado para homens e mulheres
Tinta à óleo nas áreas restauradas
Árvore centenária e a casa do caseiro
Banheira rosa na sacada
Ao andar pelo palacete, é impossível não se perguntar onde fica a suíte principal, quarto que Joaquim Camilo de Matos e a esposa dormiam.
O cômodo fica à esquerda da escada principal e é dividido em um closet, uma sala, uma sacada e o quarto onde ficava a cama.
Com um espaço amplo, a suíte mostra imponência e revela a importância que o dono do local, que chegou a ser prefeito de Ribeirão Preto, tinha na época.
No entanto, um detalhe no quarto chama a atenção: uma banheira rosa na sacada do quarto.
“Aquela banheira foi colocada lá em uma reforma que o Camilo de Matos fez na década de 40. Lá, originalmente, era varanda. Era tudo aberto e não tinha vidro. Na reforma que ele fez, fechou com vidro e transformou em banheiro. Agora estamos voltando pra varanda, mas não vamos tirar a banheira rosa, porque ela faz parte da memória e da história da casa”, explica a arquiteta.
Palacete Camilo de Mattos tem banheira rosa na sacada da suíte principal
Ana Beatriz Fogaça/g1
Incêndio e moradores de rua
Após a morte de Joaquim Camilo de Mattos, o imóvel ficou para seu filho, também ex-prefeito, Luiz Augusto Gomes de Mattos. O político ficou até 2006 no palacete, ano em que morreu.
Tainá conta que, como Luiz não se casou e não teve filhos, após a morte dele, a casa ficou abandonada por 11 anos, período em que diversos moradores de rua usaram o local para se abrigar.
“Uma pessoa falou que morou aqui um ano, nesses 11 anos. Ele falou que ficava ele e mais umas três pessoas, morando aqui e dividiam espaço com os ratos”.
Um dos quartos do piso superior do Palacete em Ribeirão Preto, SP, pegou fogo no período em que o prédio ficou abandonado
Ana Beatriz Fogaça/g1
Foi durante esse tempo, em 2008, que um dos quartos do andar superior do palecete pegou fogo. Por sorte, o incêndio foi controlado e não se espalhou pela casa toda, como lembra a arquiteta.
“A gente só sabe que foi um morador de rua, agora não sei se foi briga entre eles ou um acidente. Quando a gente chegou aqui, essa parede estava toda preta, tomada mesmo pelo fogo”.
Planta torta
Ao começar o projeto de restauração em 2017, a arquiteta conta que a casa não tinha planta, que é uma representação da casa em posição horizontal, vista de cima e em escala reduzida.
Foi quando ela começou o trabalho manual e teve uma surpresa.
“A gente pegou a trena mesmo e foi medindo, centímetro por centímetro, pegando a espessura da parede, vendo a estrutura, tudo o que tem aqui. E a casa, ninguém consegue perceber isso, mas ela é fora de esquadro, então lá atrás ela é um pouco torta e isso interfere muito na hora de fazer a planta”.
Tainá conta que foi preciso pegar todas as medidas da casa três vezes para conseguir fazer a planta correta e dar continuidade no projeto.
Durante restauração, arquiteta descobre que planta do Palacete Camilo de Mattos tem defeitos
Ana Beatriz Fogaça/g1
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Lugar separado para homens e mulheres
O palacete tem duas entradas: a primeira, que fica na Rua Tibiriçá, e a segunda, na Rua Duque de Caxias.
A primeira era usada por visitas e dá direto para uma sala de espera. A segunda dá de cara com um hall de entrada, onde amigos e clientes de Camilo de Mattos aguardavam para entrar no escritório.
“Só que a sala de visita, quem usava mais era a mulher dele. Ela recebia as mulheres ali e elas tomavam um chá da tarde. E ele recebia os homens, mesmo quando não era pra trabalhar, aqui no escritório. Ficava a sala do homem e a sala da mulher e aí eles se juntavam na hora do jantar”.
Sala de jantar no Palacete em Ribeirão Preto, SP, era o local onde homens e mulheres se reuniam
Ana Beatriz Fogaça/g1
Tinta à óleo nas áreas restauradas
A área total do imóvel é de 10,1 mil metros quadrados e a área construída é de cerca de 600 metros quadrados, com 19 cômodos, sendo oito na parte superior e 11 no térreo, além de uma varanda. Nos fundos ainda há uma casa que era usada por um caseiro.
A primeira etapa restaurou a fachada, o hall de entrada e um dos quartos do piso superior.
A arquiteta explica que os primeiros resultados puderam ser vistos apenas em 2024, por conta do grande número de detalhes e o cuidado com as cores e desenhos do imóvel original, que são diferentes em cada um dos cômodos.
“Além disso, tem de ser tinta mineral, que é uma tinta específica para restauro, tem de fazer a lavagem da parede, preparar a parede, passar uma pasta de cal. Não só na fachada, internamente também tem de ser tinta mineral, não pode usar qualquer tinta porque todo restauro tem de ser reversível”, conta Tainá.
Cômodo do piso superior do Palacete Camilo de Mattos passou pelo processo de restauração em Ribeirão Preto, SP
Ana Beatriz Fogaça/g1
Artística plástica responsável pela pintura, Lavínia Trevo conta que, para reconstruir o hall de entrada foi um desafio devido ao grau de deterioração do cômodo. Foi como ‘montar um quebra-cabeça’, mas valeu a pena, segundo ela.
“Eu estou muito feliz com o resultado, foi muito gratificante e um desafio enorme. Consegui chegar nas matizes específicas, a essência da restauração. Foi um grande desafio e um prazer enorme porque eu amo esse trabalho de arte”.
Hall de entrada do Palacete Camilo de Mattos é restaurado em Ribeirão Preto, SP
Ana Beatriz Fogaça/g1
Árvore centenária e a casa do caseiro
No final do corredor que fica no segundo piso da casa é possível ter acesso a um grande terraço, que era usado como varanda pela família. Do alto é possível ver onde fica a casa destinada ao caseiro da época.
O imóvel divide espaço com uma árvore centenária, plantada desde que a casa foi construída, em 1922, e que foi mantida durante as obras de restauração do patrimônio.
Árvore centenária e casa do caseiro fazem parte do Palacete Camilo de Mattos em Ribeirão Preto, SP
Ana Beatriz Fogaça/g1
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*Sob a supervisão de Flávia Santucci
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