Bloco mais antigo em atividade da capital, a Banda Mole é conhecida por manter programação carnavalesca em BH até quando não havia Carnaval por aqui, na década de 1990 Banda Mole comemora 49 anos em desfile na Avenida Afonso Pena
Há 50 anos é assim: a Banda Mole arrasta uma multidão de foliões no Centro de Belo Horizonte, sempre no sábado anterior ao Carnaval.
Embora a folia de BH tenha mudado muito ao longo destas cinco décadas, a escrita permanece neste sábado (22). O desfile da Banda Mole está marcado para acontecer das 14h às 22h, na Avenida Afonso Pena, entre as ruas da Bahia e Guajajaras.
Entre as atrações confirmadas estão o sambista Toninho Geraes; a banda Zé da Guiomar, que convida as cantoras Giselle Couto e Manu Dias; Júlia Rocha, que convida Fran Januário. Tem ainda as bandas Akatu, Meu Rei, Trem dos Onze e outras.
A estrutura contará com dois trios, um palco fixo, além do tradicional cortejo da diretoria do bloco. Conforme os organizadores, cerca de 70 mil pessoas devem passar pelo bloco.
Desfile da Banda Mole, no pré-Carnaval de Belo Horizonte, na década de 1980.
Banda Mole/Divulgação
República Independente da Banda Mole
O bloco da Banda Mole é contraditoriamente tradicional e libertário. Tradicional porque é o bloco carnavalesco mais antigo em atividade na capital. Foi criado, em 1975, por um grupo de amigos que frequentavam o Bairro da Lagoinha, o clássico refúgio dos boêmios de BH no século XX.
“Éramos um grupo desvinculado de qualquer compromisso com as normais sociais. Em suma, anárquico como o Carnaval e com total independência. As pessoas podiam ser como quiserem, de qualquer classe social e se vestirem também como quiserem”, definiu o fundador da Banda Mole, Jacaré Ladeira, de 84.
Para deixar claras as intenções, o nome de batismo do bloco foi “República Independente da Banda Mole”. Toda essa liberdade fez do bloco um importante representante da diversidade de gênero na capital, muito antes dos desfiles LBTQIA+ pensar em existir.
“Tinha isso de homens vestirem de mulher e mulheres vestirem de homens, mas não era só sobre isso. Era sobre diversidade de gênero, e que é uma tradição antiga da irreverência do Carnaval brasileiro”, disse o coordenador geral do Inventário do Samba de BH, o pesquisador Marcos Maia.
Desfile da Banda Mole na década de 1990
Banda Mole/Divulgação
Bastião do Carnaval
A Banda Mole é conhecida por existir mesmo quando nem Carnaval tinha em Belo Horizonte.
“Durante um bom tempo, do final da década de 1980 até o final de 1990, houve interrupção dos desfiles das escolas de samba e blocos caricatos da cidade. Nesta época, a Banda Mole ocupou um grande destaque e foi muito importante para manter o calendário do Carnaval na cidade, mesmo sendo no pré-Carnaval”, disse Maia.
Foi neste período que a Banda Mole fez seu desfile mais emblemático, e que arrastou uma multidão como nunca tinha acontecido.
“Do primeiro desfile, com 100 pessoas e 10 músicos, fomos crescendo, crescendo, e caindo no gosto popular, enquanto o Carnaval de Belo Horizonte foi diminuindo… Até que chegou uma época, em 1995, que colocamos 500 mil pessoas nas ruas com a banda Araketu como convidada”, relembrou Jacaré.
Ele já sabia que as ruas desertas que um dia representaram o Carnaval de Belo Horizonte eram temporárias.
“No feriado de Carnaval, a cidade ficava entregue às baratas, por isso saíamos uma semana antes. Nesta época, a Banda Mole ficou como uma bastião de resistência. Mas a gente considera que o mineiro é tão carnavalesco quanto o baiano, o carioca e o pernambucano. O que faltava era oportunidade para revelar isso”, disse Jacaré.
Para este ano, a organização da Banda Mole espera um público de 70 mil pessoas. Já Belo Horizonte, deve receber 6 milhões de pessoas – três vezes a população da cidade.
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