Bebê, de apenas 46 dias, estava na fila da Cross para ser atendido por um especialista em fígado. A Secretaria de Saúde do Estado, por sua vez, nega pendências. Bebê de 46 dias morreu enquanto aguardava por especialista na Baixada Santista (SP)
Arquivo pessoal
O bebê Henry Gabriel, de 46 dias, morreu enquanto aguardava atendimento especializado para uma condição hepática. Diagnosticado ao nascer com sífilis, uma infecção sexualmente transmissível (IST) que pode ser transmitida da mãe para o filho, ele foi tratado e curado da doença. No entanto, desenvolveu hepatite congênita, uma inflamação no fígado que acabou o levando à morte.
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A mãe Evelyn Kauane Silva, de 20 anos, contou ao g1 que o filho morreu na tarde de segunda-feira (2). Abalada, se limitou a dizer ter ficado ao lado do filho a todo instante.
A moradora de São Vicente, no litoral de São Paulo, foi diagnosticada com sífilis durante a gravidez de Henry. Mesmo antes do nascimento, ela afirmou ter feito o tratamento para a doença, que surtiu efeito. Exames constataram que a bactéria não estava mais no corpo dela.
Apesar disso, Henry nasceu com sífilis e amarelado. A segunda condição é uma alteração no tom de pele conhecida como icterícia, que é comum em bebês e ocorre quando há excesso de bilirrubina [pigmento amarelo produzido pelo fígado] no corpo.
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A mulher deu à luz na Maternidade Municipal, no Hospital São José, em 18 de julho. De acordo com ela, o menino recebeu alta após tomar antibióticos e os médicos afirmaram, em 9 de agosto, que ele estava curado da sífilis.
Volta ao hospital
Com o passar dos dias em casa, segundo Evelyn, o bebê começou a perder peso e foi ficando mais amarelado. Preocupada, ela levou o filho no Pronto-Socorro Central da cidade, em 16 de agosto. Foi quando a mãe recebeu o diagnóstico de hepatite congênita e um pedido de internação urgente.
“O pediatra olhou para ele e falou que estava realmente muito amarelo e perdendo peso. Ele [médico] disse que era grave”, lembrou a mãe de Henry, que passou um dia no PS Central e foi encaminhado ao Hospital do Vicentino.
O que é a hepatite?
Rodrigo Cunha/G1
Evelyn informou que os médicos não a informaram se a sífilis causou a hepatite. A pediatra Heloíza Ventura explicou ao g1 que é possível, mas raro, que a sífilis evolua para hepatite. Normalmente, casos graves envolvem múltiplas infecções por vírus e bactérias.
Entrada na Cross
A mãe afirmou que o filho foi colocado na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) para ser transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), assim que foi internado no Hospital do Vicentino.
Em nota, a Prefeitura de São Vicente informou que a equipe atualizava diariamente o sistema para agilizar a transferência do bebê. Enquanto isso não ocorria, a criança permaneceu internada no leito de estabilização pediátrica, sendo monitorada, submetida a exames e recebendo bolsas de sangue.
UTI pediátrica (imagem ilustrativa)
Divulgação
A mãe do menino afirmou que os profissionais do hospital eram atenciosos, mas disseram a ela só uma UTI teria os equipamentos necessários para curar o menino.
“Fiquei desesperada e sem saber o que fazer”, disse a mãe sobre a espera para conseguir o tratamento necessário. Ela não saiu do lado do filho até ele morrer na segunda-feira (2).
Aguardando especialista
Na manhã de segunda-feira, antes de Henry morrer, a Santa Casa de Santos (SP) informou ao g1 que recebeu as solicitações de vaga para o bebê nos dias 16, 23 e 28 de agosto. A unidade de saúde explicou que negou os pedidos porque não tinha o que ele precisava.
“A necessidade era de Hepatologista [especialista em fígado] Pediátrico, especialidade que o hospital não dispõe”, afirmou a Santa Casa de Santos, por nota.
Mesmo assim, ainda de acordo com a instituição, Henry foi encaminhado ao hospital em 29 de agosto como vaga zero, que é um recurso criado para acesso imediato de pacientes com risco de morte ou sofrimento intenso. Sendo assim, a Santa Casa de Santos afirmou que foi obrigada a recebê-lo.
A informação da morte foi confirmada à equipe de reportagem pela mãe de Henry. Horas antes, a unidade de saúde disse que o menino estava internado na UTI pediátrica, em estado grave, e aguardando transferência para um hospital de referência via Cross.
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