23 de setembro de 2024

‘Bebê sacudido’: entenda síndrome que pode ter matado menina Sophia, em Ribeirão Preto

Polícia Civil apontou mãe e o padrasto como principais suspeitos pelo homicídio. Criança morreu em agosto após ser internada com graves lesões cerebrais. Sophia da Silva Fernandes, de 3 anos, morava com a mãe, Letícia Nunes da Silva, e com o padrasto, Luiz Guilherme Braga Barboza, em Ribeirão Preto
Reprodução/EPTV
Análises da perícia apontam que a “síndrome do shaken baby (ou bebê sacudido)” é a causa mais provável das graves lesões cerebrais que resultaram na morte da menina Sophia da Silva Fernandes, de 3 anos, em Ribeirão Preto (SP).
Diante dos laudos, a Polícia Civil descartou que a criança sofreu uma queda acidental, como alegam a mãe e o padrasto, e ainda apontou o casal como principal suspeito do homicídio. Veja perguntas e respostas:
▶️ O que o Instituto Médico Legal (IML) concluiu? O laudo do IML descartou que um acidente motivou as lesões em Sophia e indicou a possibilidade de que elas tenham sido causadas por agressões. O documento aponta que:
Acidentes por queda doméstica de crianças pequenas envolvem “baixa energia por apresentarem baixa velocidade e pelo peso das crianças”, o que não seria o caso;
há “desproporção entre a criança e um adulto que seria o provável agressor” e que o trauma foi “por meio cruel”;
a morte ocorreu por causa externa, tendo como mecanismo um edema encefálico grave após hematoma subdural agudo por traumatismo crânio encefálico.
“O hematoma subdural agudo após trauma crânio encefálico é uma causa frequente de apresentação de abuso físico em crianças”, diz o laudo.
▶️ Por que a polícia aponta essa síndrome? À EPTV, afiliada da TV Globo, a delegada responsável pelo caso, Patrícia de Mariane Buldo, explicou por que os indícios correspondem à síndrome.
“A criança pequena, quando ela é chacoalhada com essa violência, normalmente os pais seguram pelo braço, a cabeça da criança chacoalha. Como o cérebro da criança ainda não está maduro, ela sofre diversas lesões, inclusive essa característica do shaken baby, que é uma lesão no fundo do olho. E essa criança [Sophia] tinha essas lesões, o que nos leva a crer, sem sombra de dúvidas, que ela foi vítima de maus-tratos”, disse.
▶️ O que acontece com a criança quando ela é sacudida? A cabeça do bebê é grande e pesada em relação ao resto do corpo. Entre o cérebro e o crânio existe um pequeno espaço para o crescimento e desenvolvimento da massa encefálica.
Quando se sacode a criança, o impacto pode provocar lesões e o inchaço do cérebro.
“Geralmente, quem é mais chacoalhado são crianças de colo, bebês, onde a mãe, o pai ou o responsável tem aquela crise de ‘para de chorar’. Para uma criança um pouco maior, pode haver danos, mas os danos não serão como em uma criança de colo ou de uma idade menor”, explica.
Polícia investiga se menina Sophia, de 3 anos, foi morta dentro de casa
▶️ Por que mãe e padrasto são suspeitos? A delegada enfatizou que, até o momento, Letícia Nunes da Silva e Luiz Guilherme Braga Barboza, mãe e padrasto de 20 e 29 anos, respectivamente, são os principais e únicos suspeitos de ter provocado a morte da criança.
“O que nós temos no inquérito policial é que essa criança sofreu um homicídio, morreu em razão de morte violenta dentro da casa onde ela residia. Quem residia na casa, quem adulto que poderia ter praticado isso? O padrasto e a mãe”, disse.
De acordo com Buldo, todos os indícios levantados pela investigação até o momento apontam para o envolvimento de Letícia e de Luis Guilherme no crime.
“É um apartamento pequeno. A agressão deve ter causado ruído, os dois estavam juntos e os dois mantêm a versão de acidente doméstico. Acredito eu que um inocente diria a verdade. Sendo assim, ambos mantêm uma versão totalmente descartada pela perícia, entende-se que os dois participaram do crime em conluio ou um protegeu o outro de alguma forma”, afirmou Patrícia.
A delegada também disse que a mãe de Sophia apresentou comportamento frio ao comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos.
“Chamou a atenção de todos aqui na delegacia [o comportamento], sem nenhuma emoção com relação à morte da filha. Claro que cada um tem sua forma de reagir, mas não vou negar que nos chamou atenção.”
O inquérito policial está em fase final de produção de provas. A delegada disse que avalia a possibilidade de pedir a prisão do casal.
▶️ O que diz o casal? Procurada, a defesa de Letícia e Luiz Guilherme disse que não há provas de que Sophia morreu por agressão e que isso vai ser esclarecido no decorrer do processo.
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A morte
Sophia foi levada pela mãe e pelo padrasto à UPA no dia 1º de agosto. Letícia, de 20 anos, disse que colocou a menina para tomar banho por volta das 7h e que foi à cozinha preparar um café. A porta do banheiro ficou aberta. Alguns instantes depois, Luis Guilherme viu a menina caída no chão.
Segundo a mãe, a filha estava com a cabeça encostada do lado direito e sentada de frente para a porta.
O casal contou que pediu um carro de aplicativo e seguiu para a UPA. Eles não chamaram uma ambulância porque pensaram que o socorro poderia demorar. Segundo o casal, a menina ainda respirava normalmente, não falava, mas dava sinais de que queria vomitar.
Aos médicos, Letícia alegou que Sophia sofreu uma queda enquanto estava sozinha no banheiro. A mulher disse que a menina não tinha o hábito de permanecer só durante o banho.
A criança foi transferida em estado grave para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), onde a polícia foi acionada. Segundo o boletim de ocorrência, ela tinha um “quadro agudo grave de rebaixamento de nível de consciência e descerebração”.
Sophia foi submetida a uma cirurgia de emergência para aliviar a pressão do cérebro por causa de um grande hematoma intracraniano. No entanto, foi necessária uma amputação do encéfalo.
O diagnóstico médico foi de hemorragia subdural aguda devido a traumatismo, que é quando há acúmulo de sangue entre o crânio e o cérebro causado por um impacto na cabeça. Uma análise oftalmológica também apontou que Sophia tinha hemorragia na retina dos dois olhos, sugestivas de trauma de grande energia.
A menina teve a morte encefálica confirmada no dia 9 de agosto.
Sophia da Silva Fernandes, de 3 anos, morreu no HC-UE em Ribeirão Preto, SP, após 9 dias de internação
Arquivo pessoal
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