16 de outubro de 2024

Bianca Manicongo é o coração do Brasil sonhado pelo potente espetáculo atual da Companhia Brasileira de Teatro

Artista canta músicas de Gonzaguinha, Luiz Melodia e Amy Winehouse na peça ‘Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém]’, sucesso da temporada paulista. Bianca Manicongo canta no espetáculo ‘Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém]’, em cartaz no Teatro Sesi de São Paulo
Nana Moraes / Divulgação
♫ COMENTÁRIO
♩ Em viagem à cidade de São Paulo (SP) na semana passada, fui ver Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém], espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro encenado com texto e direção de Marcio Abreu.
Como quase todos os espectadores que têm lotado a plateia do Teatro Sesi na temporada que se estende até 1º de dezembro, de quinta-feira a domingo, fui atraído pela presença da atriz Renata Sorrah no elenco.
Uma das grandes damas do teatro brasileiro, Sorrah se engrandece ao se irmanar com os outros integrantes da companhia, em harmonia com o elenco formado por Bárbara Arakaki, Bianca Manicongo, Rafael Bacelar e Rodrigo Bolzan.
Todos os cinco atores têm momentos de protagonismo ao longo desse espetáculo que dialoga com o texto de A gaivota (1896), uma das peças mais famosas do dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860 – 1904), para pôr em cena o sonho de um Brasil mais justo e mais tolerante.
E foi nesse espetáculo potente e politizado, idealizado para tentar despertar consciências para a necessidade de tornar o país mais inclusivo, que me deparei com a energia e a força cênica de Bianca Manicongo.
Já tinha escrito sobre discos dessa rapper, poeta e atriz paraibana conhecida no universo musical como Bixarte, nome artístico que já carrega em si um manifesto, marcando posição pelo respeito aos corpos de pessoas trans e travestis. Mas nunca tinha visto a artista em cena. E posso dizer que, quando canta músicas como Magrelinha (Luiz Melodia, 1973), Bianca é o sol que bate forte no coração de um Brasil cada vez mais ocupado por corpos pretos e trans.
E, sim, é preciso que o Brasil se acostume com as presenças de trans e travestis na cena e em todos os cenários, como prega Bianca na fala feita ao fim das sessões de Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém].
Cantora e compositora, Bianca Manicongo brilha em cena quando dá voz ao bolero Começaria tudo outra vez (Gonzaguinha, 1976) – em número teatral que prevê inclusive a passagem do microfone para Renata Sorrah cantar um verso da música – e à alma desiludida do soul Love is a losing game (2006), uma das obras-primas do cancioneiro autoral da cantora e compositora britânica Amy Winehouse (1983 – 2011).
É ainda na voz de Bianca que o espectador ouve a música-manifesto do espetáculo, Banhar o Brasil, texto de Marcio Abreu musicalizado pela artista com vigor no espetáculo encenado com direção musical e trilha sonora original de Felipe Storino.
Fora da cena teatral, Bixarte tem singles lançados desde 2021 e um álbum, Traviarcado (2023), apresentado em março do ano passado. A discografia da artista marca a mesma posição política potencializada pelo canto de Bianca Manicongo no espetáculo Ao vivo [Dentro da cabeça de alguém].
Em cena, a artista ativista é o coração de um Brasil ainda onírico, mas possível de virar realidade com o despertar de consciências ainda adormecidas.
Bianca Manicongo divide o palco com Renata Sorrah e Rafael Bacelar (vistos ao fundo na foto de cena) no espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro
Nana Moraes / Divulgação

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