Segundo a repórter Megan Twohey, do ‘The New York Times’, o caso expõe uma nova estratégia para lidar com acusações de assédio: desmerecer a vítima e manipular as redes antes de ela tornar os crimes públicos. Entenda o caso de assédio e difamação que chocou Hollywood
Uma denúncia de assédio sexual em Hollywood reacendeu o debate sobre as táticas que os agressores usam para silenciar as vítimas.
O filme “É Assim Que Acaba” levou o debate sobre violência doméstica e abuso para as salas de cinema. Durante a divulgação do filme começaram boatos de que, por trás das câmeras, o clima não era amigável. A estrela, Blake Lively, e o ator Justin Baldoni, que também dirigiu o longa, pareciam se evitar nas entrevistas e no tapete vermelho. Surgiram rumores de que Blake maltratava colegas e estava fora de sintonia com a mensagem que o filme passa.
Mas desde sábado (21), quando a atriz entrou com uma ação legal contra Baldoni por assédio sexual e difamação, essa história teve um reviravolta. O processo de 80 páginas traz evidências de que Baldoni contratou uma especialista em gerenciamento de crise para destruir a reputação de Blake Lively antes que ela tornasse públicas as acusações de que Baldoni, e o principal produtor do filme, assediaram a atriz no set de filmagem.
Segundo ela, Baldoni escreveu cenas de beijo, sexo e nudez de última hora, pegando a atriz de surpresa e desmerecendo as reclamações dela. Lively afirmou que, nos bastidores, o produtor mostrava fotos da esposa nua para ela e entrava em seu camarim quando estava se trocando.
Durante as filmagens, Blake exigiu uma reunião com o diretor e o produtor para fazer reclamações formais. Ela apresentou uma lista com 30 exigências. Entre elas, que os homens parassem de falar sobre seus órgãos genitais e relações sexuais e contratassem um coordenador para supervisionar cenas íntimas.
Blake Lively acusa ator e diretor Justin Baldoni de assédio sexual e afirma que foi vítima de campanha de difamação
Jornal Nacional/ Reprodução
Os advogados de Lively tiveram acesso a mensagens que, segundo eles, Baldoni trocou com a equipe dele. Em uma delas, a assessora diz:
“Ele (Baldoni) quer que ela (Blake Lively) seja jogada na lama”.
Dias depois, de acordo com o processo, Baldoni enviou postagens de uma rede social em que uma pessoa acusava uma celebridade de maltratar outras mulheres, e escreveu:
“É disso que precisaríamos”.
Seguindo o exemplo, a equipe do ator viralizou acusações contra Lively. O resultado foi rápido: duas semanas depois, uma reportagem do tabloide inglês “Daily Mail” questionava: “Blake Lively prestes a ser cancelada?”. Baldoni comemorou com a assessora:
“Você realmente se superou com essa matéria”.
A defesa de Baldoni, do produtor também citado no processo, negou as acusações.
O jornal “The New York Times” publicou o processo em primeira mão. A repórter que teve acesso ao documento é Megan Twohey. Ela revelou os casos de abuso sexual do produtor Harvey Weinstein e ajudou a desencadear o movimento #MeToo, pelo fim da violência contra as mulheres no cinema e em toda a sociedade.
“É realmente uma história que levanta questões sobre a integridade e autenticidade das narrativas online que existem hoje, e até que ponto elas estão sendo manipuladas”, diz a jornalista Megan Twohey.
Segundo Megan, o caso expõe uma nova estratégia para lidar com acusações de assédio: desmerecer a vítima e manipular as redes antes de ela tornar os crimes públicos.
Essa semana, Colleen Hoover, a autora do livro best-seller que deu origem ao filme “É Assim Que Acaba”, publicou uma mensagem de apoio à atriz:
“Nunca mude, nunca se abata”.
Desde sábado (21), várias atrizes manifestaram solidariedade. Justin Baldoni foi abandonado por seus agentes e perdeu um prêmio que tinha recebido de uma organização dedicada a empoderar mulheres.
LEIA TAMBÉM
Blake Lively processa Justin Baldoni por assédio sexual durante gravações de ‘É assim que acaba’, diz site
Blake Lively: o que se sabe sobre acusações da atriz contra o colega de elenco Justin Baldoni
Famosos apoiam Blake Lively após processo contra Justin Baldoni