10 de janeiro de 2025

Bolo de Torres: Polícia vê indícios de mais envenenamentos praticados por suspeita, e novo corpo pode ser exumado


De acordo com a delegada regional do Litoral Norte do RS, Sabrina Deffente, novos casos sob investigação seriam de pessoas próximas da família. Em um deles, há suspeita sobre uma pessoa que já está morta. Deise Moura dos Anjos está presa temporariamente. Perícia constata que sogro de suspeita presa por envenenar família também ingeriu arsênio
A Polícia Civil afirma que vê “fortes indícios” de que a suspeita de colocar arsênio na farinha de um bolo de frutas cristalizadas e provocar as mortes de três mulheres em Torres (RS) tenha praticado outros envenenamentos. Nesta sexta-feira (10), as autoridades confirmaram que uma quarta pessoa, o sogro de Deise Moura dos Anjos, também ingeriu arsênio antes de morrer.
“As provas são muito robustas que essa mulher não só matou quatro pessoas e tentou matar outras três, mas também que ela tenha participado de outras tentativas de homicídio”, afirmou a delegada regional do Litoral Norte do RS, Sabrina Deffente.
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De acordo com Sabrina, os novos casos sob investigação seriam de pessoas próximas da família. Em um deles, há suspeita sobre uma pessoa que já está morta, informou ao g1.
“São pessoas do círculo familiar. A gente tá apurando essas questões aí [sobre o número de novos casos sob investigação]. Mas tem uma suspeita sobre um falecido já. A gente vai aprofundar um pouco mais as investigações”, explicou a delegada.
Desta forma, se confirmada a suspeita e se não tiver sido cremado, o corpo terá de ser exumado. O procedimento é realizado, mediante autorização judicial, para atestar ou não a presença de substâncias no organismo, como arsênio.
Paulo Luiz dos Anjos e Zeil dos Anjos em foto nas redes sociais; ao lado, o processo de exumação do corpo de Paulo
Reprodução/Redes sociais e RBS TV
Em nota, a defesa da suspeita Deise Moura dos Anjos, presa temporariamente, alega que “as declarações divulgadas ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso” e que “aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação”. (Leia abaixo a íntegra)
A perícia feita no corpo de Paulo Luiz dos Anjos, morto em setembro, constatou que ele ingeriu arsênio antes de morrer. O sogro de Deise morreu de infecção intestinal após consumir bananas e leite em pó levados à casa dele pela nora. A polícia confirmou nesta sexta que a causa da morte do homem foi envenenamento.
A polícia informou ainda, nesta sexta, que Deise comprou arsênio quatro vezes no período de quatro meses, sendo que uma dessas compras foi anterior à morte do sogro, e as outras três antes da morte das três mulheres em dezembro. O produto teria sido comprado pela internet e recebido pelos Correios.
Certidão de óbito de sogro de mulher suspeita de envenenar bolo no RS
Reprodução/RBS TV
A morte do sogro
Depois do caso do bolo ser revelado, a polícia passou a investigar se Deise Moura dos Anjos tem envolvimento também na morte de Paulo Luiz dos Anjos. Exames feitos após a exumação do corpo apontam que ele ingeriu arsênio antes de morrer.
Nas mensagens enviadas à Zeli dos Anjos, Deise Moura dos Anjos disse ainda que “nem polícia nem perícia” poderiam ajudar a família a descobrir a causa da morte de Paulo Luiz dos Anjos.
“Acho que precisamos rezar mais, aceitar mais e não procurar culpados onde não há. Só os momentos que Deus nos reserva, isso sim, não têm volta. Nem polícia nem perícia que possa nos ajudar a desvendar”, diz a mensagem enviada por Deise à sogra.
Mensagem enviada pela suspeita de envenenar bolo em Torres para a sogra
Jonathan Heckler/Agência RBS
Em outra mensagem enviada à sogra, Deise lista motivos que poderiam ter causado a morte de Paulo:
“Não sei, acho que eu não faria nada, pois poderia ter sido várias coisas: intoxicação alimentar, negligência médica, a banana contaminada pela enchente, ou simplesmente a hora dele… Sei lá.”
Em outra mensagem apresentada pela polícia, enviada para uma pessoa com quem mantinha relacionamento, Deise desabafa:
“Se eu morrer, cuide do meu filho e reze bastante por mim, pois é bem provável que eu não vá para o paraíso.”
Sogra de mulher suspeita de envenenar bolo tem alta
O relatório preliminar da extração de dados dos celulares apreendidos, ao qual o g1 teve acesso, apontou ainda buscas feitas na internet por termos como “arsênio veneno”, “arsênico veneno” e “veneno que mata humano”. As informações constam da representação da Polícia Civil pela prisão temporária da suspeita.
Casa de Zeli, em Arroio do Sa, onde suspeita teria feito pesquisas sobre veneno
Reprodução/ RBS TV
➡️ Qual é a origem da contaminação?
O Instituto Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul detalhou o processo das análises que detectaram a presença de arsênio na farinha do bolo que causou as mortes das três mulheres.
Ao longo de uma semana, 89 amostras foram analisadas, e em apenas uma, a da farinha, foi encontrado arsênio. O composto estava em uma concentração 2.700 vezes maior que a encontrada no bolo.
Para encontrar a origem da contaminação, foi utilizado um equipamento de fluorescência de raio-X. O material tem uma série de bancos de dados para a identificação de metais usados, principalmente no solo, mas também em ligas metálicas como joias.
Ao fazer o escaneamento das amostras, o equipamento mostrou uma lista de concentração de quais metais poderiam estar presentes nessas análises. Segundo Lara Regina Soccol Gris, chefe da Divisão de Química Forense do IGP, o arsênio encontrado foi o material mais presente na farinha.
“Nós testamos o próprio bolo com esse equipamento. Já acusou muito positivo, digamos assim, pro bolo. E para farinha, então, foi uma concentração muito superior”, explica.
Amostras coletas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP)
Reprodução/ RBS TV
O IGP também analisou o material coletado nas três pessoas que morreram. Maida e Neusa, irmãs de Zeli, e Tatiana, sobrinha da idosa. Os exames mostraram uma alta concentração de arsênio no estômago, no sangue e na urina das vítimas.
No estômago de Tatiana, a perícia identificou a concentração de 384 mil microgramas de arsênio por litro, sendo assim a maior de todas. Isso significa que a concentração estava 11 mil vezes acima do que poderia ser considerado uma contaminação acidental.
Foto mostra suspeita sorrindo ao lado de sogra e bolo igual ao envenenado em 2021
Os envenenados
De acordo com a Polícia Civil, sete pessoas da mesma família estavam reunidas em uma casa, durante um café da tarde, quando começaram a passar mal. Apenas uma delas não teria comido o bolo. Zeli dos Anjos, que preparou o alimento, em Arroio do Sal e levou para Torres, também foi hospitalizada.
Entenda quem é quem no caso do bolo em Torres
Três mulheres morreram com intervalo de algumas horas. Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva tiveram parada cardiorrespiratória, segundo o hospital. Neuza Denize Silva dos Anjos teve como causa da morte divulgada “choque pós-intoxicação alimentar”.
A mulher que preparou o bolo, Zeli dos Anjos, recebeu alta do hospital nesta sexta-feira (10). Segundo o delegado Marcos Vinícius Veloso, ela foi a única pessoa da casa a comer duas fatias. Uma criança de 10 anos, que também comeu o bolo, foi liberada na semana anterior.
Exames detectam arsênio em três pessoas que comeram bolo durante confraternização familiar em Torres
Reprodução
Nota da defesa da suspeita
As declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso, assim a Defesa aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação.
A Defesa já realizou requerimentos e esclarecimentos no inquérito judicial, referentes aos andamentos da investigação, aguarda neste momento decisão judicial.
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