9 de outubro de 2024

Boulos diz ter sido principal alvo de factoides e que Nunes está com medo de debater com ele no 2° turno: ‘Quer fugir’

Candidato do PSOL disse estar confiante em razão de a maioria do eleitorado ter votado pela ‘mudança’; ele aposta no maior tempo de TV para conquistar eleitores dos adversários e fala em ‘paridade de armas’. Coletiva de Boulos nesta segunda (7)
Reprodução
Guilherme Boulos (PSOL), candidato que vai disputar o segundo turno pela Prefeitura de São Paulo com Ricardo Nunes (MDB), disse em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (7) que vai usar as mesmas “armas” que o atual prefeito na segunda etapa das eleições e que o seu concorrente está com “medo” dos debates.
Para o segundo turno, estão previstos 12 confrontos entre os candidatos. Boulos disse que a proposta apresentada por Nunes — de reduzir o número para três encontros — “é coisa de quem está com medo”.
“Quer fugir do debate porque não tem firmeza de posições, não tem o que responder a respeito de tantos escândalos. Para além da propaganda mentirosa que ele bota na TV, não vai ter o que responder. Nossa campanha toparia fazer um diálogo conjunto com as emissoras, as rádios, os jornais, para a gente reduzir, eventualmente, de 12 para oito, para nove debates, que seja um número mais razoável”, afirmou.
O candidato do PSOL diz apostar no maior tempo de propaganda de TV a partir de agora para conquistar o voto dos adversários derrotados no primeiro turno.
“O jogo agora é outro. A partir de agora terá paridade de armas. Agora as propagandas eleitorais terão o mesmo tempo que o meu adversário, vai ser igual. Ele tinha muito mais condições do ponto de vista do uso da máquina pública. E nós conseguimos terminar o primeiro turno praticamente empatados, com uma diferença de pouco mais de 20 mil votos”, afirmou.
Boulos também comentou sobre o laudo falso divulgado por Pablo Marçal (PRTB) e que foi o “principal alvo da factoides no primeiro turno”. Marçal divulgou um documento falso acusando Boulos de usar cocaína (leia mais abaixo).
Ele comparou a eleição deste ano com a de 2012, quando Fernando Haddad (PT) venceu José Serra (PSDB).
“Em terceiro lugar ficou o Celso Russomano (Republicanos). Me lembro que todas as análises que faziam diziam: ‘O Haddad está derrotado, o eleitor do Russomano é de direita, rejeita o PT e a esquerda, some os votos do Serra com o do Russomano e acabou’. O Haddad ganhou a eleição. A política não é matemática simples. Existe um segmento do voto dos outros candidatos que é ideológico, aí me rejeita por razões ideológicas. Por eu ter lado, ter firmeza, coluna vertebral. Mas uma parte importante do eleitorado, independentemente de qual candidato votou, expressa por um sentimento de mudança. Nós vamos ver isso nas próximas semanas na cidade de São Paulo”, afirmou.
Boulos e Nunes vão disputar o segundo turno em 27 de outubro após um resultado apertado. O psolista ficou em segundo lugar.
Nunes ganhou em seu reduto eleitoral, na Zona Sul de São Paulo, com maior votação em Pedreira e Capela do Socorro. Ele também venceu em algumas zonas eleitorais da região Norte.
Boulos teve mais votos na 1ª Zona Eleitoral, na Bela Vista, região central, venceu em Perdizes e Pinheiros, na Zona Oeste, mas também em sua casa, no Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo.
Apesar de Nunes vencer em grande parte da periferia da Zona Sul, Boulos conseguiu garantir parte dos extremos da cidade, na Zona Leste e Norte, áreas onde o presidente Lula venceu em 2022. Boulos quase repetiu o mapa do Lula, mas perdeu o extremo da Zona Sul para Nunes.
Mapa de zonas eleitorais conquistadas por Boulos, Nunes e Marçal em 2024; Mapa de zonas eleitorais conquistadas por Lula e Bolsonaro em 2022
g1
Boulos afirmou que na campanha do segundo turno vai dialogar com todos os eleitores, principalmente de outros candidatos, que querem por mudança na cidade. E que se organizou com vereadores eleitos para conseguir vencer em regiões das periferias.
Disse ainda que Marta Suplicy (PT), sua vice, vai fazer campanha em regiões como Parelheiros, Grajaú e na Zona Leste.
“Vamos fazer uma campanha dialogando com todas essas regiões. Eu tenho um orgulho danado de ter sido o mais votado em boa parte da periferia, em todo o eixo do extremo Sul, no eixo do extremo Leste. Fomos mais votados também no extremo da Zona Norte, Noroeste. O potencial de crescer ainda mais nessas regiões, se você comparar os nossos votos e o voto do presidente Lula, em 2022, nas regiões, ainda existe uma margem muito grande que podemos buscar”, afirmou.
Laudo falso divulgado
Tatuagem mostra assinatura do pai de Aline Garcia, o médico José Roberto de Souza
TV Globo/Reprodução
Boulos também comentou sobre o laudo falso divulgado por Pablo Marçal (PRTB) e que foi o “principal alvo da factoides no primeiro turno”.
Marçal divulgou o documento acusando Boulos de usar cocaína. Uma perícia da Polícia Federal feita para avaliar a veracidade do suposto laudo concluiu que a assinatura do médico no documento é falsa.
“Foi feita uma mentira com ampla repercussão. É difícil saber se a repercussão do desmentido, da verdade, que veio depois, foi do mesmo tamanho da repercussão da mentira. Isso é preciso medir com técnicas de mensuração de rede social, de engajamento. Quando você é atacado e essa mentira se prolifera, é muito ruim. É dessa maneira que a extrema-direita tem sistematicamente atuando no mundo todo para destruir a democracia. Aqui não é diferente.”
O médico que supostamente teria assinado o documento morreu em 2022 e, segundo a filha, a oftalmologista Aline Garcia Souza, o pai nunca trabalhou na clínica Mais Consulta, na cidade de São Paulo, e jamais fez esse tipo de atendimento clínico de pessoas com dependência química.
Na conclusão grafotécnica, os peritos científicos da PF afirmaram que as duas assinaturas não foram produzidas pela mesma pessoa.
“Verificou-se a prevalência das dissimilaridades entre a assinatura questionada e os padrões apresentados, tanto nas formas gráficas, quanto em suas gêneses, não havendo evidências de que tais grafismos tenham sido escritos por uma mesma pessoa. As evidências suportam fortemente a hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma pessoa que forneceu os padrões”, disseram os peritos.
Segundo turno
Nunes e Boulos após definição de 2º turno em SP
Leco Viana/Estadão Conteúdo/Roberto Sungi/Estadão Conteúdo
Em uma disputa acirradíssima até os últimos minutos, Nunes e Boulos venceram neste domingo (6) o 1º turno com o mesmo percentual de votos válidos: 29%. Com 25 mil votos de diferença, Nunes teve 29,48% dos votos válidos e Boulos, 29,07%.
Só às 21h07, com 99,52% de apuração, foi definido o segundo turno. Com 100% das urnas apuradas, Nunes teve: 1.801.139 votos e Boulos, 1.776.127 votos.
Apesar da atenção que chamou no 1º turno, Pablo Marçal (PRTB) não avançou para a próxima etapa do pleito e obteve 28,14% dos votos válidos (1.719.274). Na véspera, publicou um laudo falso contra Boulos, mas não se arrependeu.
Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) ficaram em quarto e quinto lugar. Eles tiveram, respectivamente, 9,91%% e 1,84% dos votos válidos neste domingo (6). Tabata anunciou apoio a Boulos, mas Datena preferiu não apontar ninguém, já que seu “número de votos era irrelevante”. O PSDB declarou apoio a Nunes.
Campanha tumultuada
Durante toda a campanha, Boulos, Nunes e Marçal se mantiveram empatados tecnicamente na liderança das pesquisas de intenção de voto na cidade.
O 1º turno da eleição em São Paulo foi marcado por uma série de acusações e baixarias, inclusive com dois episódios de agressão física inéditos nas eleições paulistanas.
Tanto Nunes quanto Boulos acionaram a Justiça Eleitoral várias vezes, em virtude de insinuações e xingamentos mútuos realizados nas propagandas eleitorais, nos cortes das redes sociais ou nos debates.

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