Sameh Brglah, de 31 anos, deixou país de origem para fugir da guerra civil e recomeçar a vida longe dos conflitos no Oriente Médio. Cirurgião vive em Piracicaba (SP), interior paulista. Dentista Sameh Brglah, sírio naturalizado brasileiro, no consultório odontológico onde trabalha em Piracicaba.
Sameh Brglah/Arquivo pessoal/Reprodução
Naturalizado brasileiro, o cirurgião-dentista Sameh Brglah, de 31 anos, chegou ao país como refugiado sírio em 2015, depois de passar pelo Líbano, Jordânia, Turquia e Malásia . Na bagagem, tinha lembranças de casa, o sonho de continuar os estudos e de se formar na faculdade. Ainda sem conhecer a cultura e de não falar o idioma da nação que o abrigaria, apostou na chance de recomeçar a vida longe da guerra civil que já matou mais de 400 mil pessoas na Síria.
A conquista chegou alguns anos depois. Morador de Piracicaba (SP) , no interior paulista, há quase uma década, ele se formou em odontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2023, e trabalha na área atualmente. – O g1 contou o início da história de Sameh no Brasil, de quando ainda era estudante na graduação. 👉Clique aqui e saiba como tudo começou.
Os sonhos do Sameh, agora, são outros. “Quero abrir meu consultório própria e continuar crescendo na carreira profissional”, declarou g1.
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“Após longo processo entre revalidar documentos e solicitar vaga na Unicamp, fui aprovado no curso de odontologia em uma vaga de estrangeiro. Apesar das dificuldades com o curso e a língua, consegui avançar com o passar dos anos até me formar, em julho 2023. Foi uma grande conquista na minha vida. Passei anos fora da Síria sonhado essa formação. Foi muito emocionante e satisfatório. […] O Brasil representou pra mim uma grande oportunidade de mudar o rumo da minha vida, um novo começo de vida longe da guerra da Síria, os conflitos e inseguranças do Oriente Médio”, contou.
Piracicaba
Desde 2019, Piracicaba recebeu 13.721 imigrantes e 264 refugiados, de acordo com dados da Polícia Federal.
A delegacia regional da Polícia Federal em Piracicaba na cidade teve 200 pedidos de visto para imigrantes e nove refugiados em maio de 2024, sendo a quarta unidade do estado em número de processos para estrangeiros. Entre as nacionalidades em que há mais solicitações, estão coreanos, haitianos, sul-africanos, colombianos e venezuelanos.
Para Sameh, que foi naturalizado brasileiro em 2022, Piracicaba é a cidade onde ele fez amigos a quem chama de “família do coração”.
“Piracicaba representou pra uma abrigo e uma casa nova com a convivência agradável com a comunidade. O povo tem sido muito receptivo e acolhedor comigo e sinto que tenho muita sorte por ter me encontrado nessa cidade linda. Gosto e planejo me manter vivendo aqui, pois me senti bastante à vontade”, comenta o dentista.
Nos últimos oito anos, Sameh foi o único aluno refugiado graduado no campus da Faculdade de Odontologia (FOP) da Unicamp em Piracicaba (SP).
Dentista Sameh Brglah, de 31 anos, se formou na Unicamp em 2023.
Sameh Brglah/Arquivo pessoal/Reprodução
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‘Fuga’ do exército
Aos 18, Sameh deixou a capital Damasco para não ter que servir ao exército, função obrigatória para os rapazes quando atingem essa idade, e lutar contra seu próprio povo. Na guerra entre o governo, rebeldes, radicais islâmicos e países estrangeiros, milhares de civis foram mortos.
Sameh queria continuar o curso de direito, que já tinha iniciado na capital da Síria. Seguiu para a Turquia, mas não deu certo.
“A adaptação foi difícil, inclusive para aprender a língua deles”, disse. Mas o principal motivo de não permanecer no país estrangeiro, segundo o jovem na época, foi por não conseguir meios para ingressar em uma faculdade. “Não tinha oportunidade. Cheguei a tentar administração de empresas também”, relatou.
Sameh Brglah na festa de formatura em odontologia da FOP-Unicamp, o campus da Universidade Estadual de Campinas em Piracicaba.
Sameh Brglah/Arquivo pessoal/Reprodução
Novas lembranças do passado
Sameh chegou ao Brasil, aos 23 anos, após obter visto pelo consulado na Turquia. Na primeira conversa com o g1, em 2016, sobre como era viver na Síria em meio a guerra civil e que futuro enxergava para os jovens da terra natal, o dentista foi direto.
“Não vejo futuro para os jovens da Síria”, disse. “Em um país em guerra, não há como ter desenvolvimento. Onde existe violência, não tem espaço para a liberdade de pensamento e muito menos para mudança”, disse.
Passados oito anos, a resposta para a mesma pergunta é incerta, mas parece não carregar o pessimismo, esperado e óbvio, da realidade de um país em guerra. “Sendo sincero.. não tenho resposta sólida [sobre o futuro dos jovens Síria]”, afirma em tom de brevidade.
Sameh é refugiado sírio no Brasil e escolheu o campus da Unicamp.
Claudia Assencio/Arquivo g1/Reprodução
Infância
Diferente da primeira entrevista, em 2016, o dentista, agora, já pensa em retornar à Síria – “para visitar”, esclarece. As experiências de acolhimento que teve no Brasil talvez possam despertar outras lembranças do lugar onde nasceu, que não mais a guerra apenas. Sem ter muito contato com familiares, atualmente, o desejo de voltar se explica pelas memórias afetivas.
“[…] pretendo retornar para reencontrar meus familiares a amigos e visitar os lugares que tenho saudade de ver. As ruas antigas de Damasco onde parava pra comprar os doces e comidas tradicionais de lá. Algumas cafeterias antigas. A casa dos meus pais. E a “casa” de internato do meu ensino médio”, listou.
Com orgulho, Sameh, sabe que pode se alegrar dos caminhos que trilhou. “Sou pessoa bem mais madura, com mentalidade diferente, com mais coragem e garra. Consegui conquistar coisas que nunca imaginei ter conquistado algum dia. Cheguei em lugares nunca pensei que irei estar”, celebrou.
Sameh Brglah deixou a Síria em busca de uma vida melhor no Brasil.
Claudia Assencio/Arquivo g1/Reprodução
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