Destruição de habitats, poluição, mudanças climáticas e perturbações humanas em áreas costeiras aparecem como principais causas. Maçarico-rasteirinho é uma das aves limícolas mais ameaçadas de extinção
Jeffrey H. Skevington/iNaturalist
As aves limícolas, também conhecidas como aves de praia ou de beira-mar, são espécies que dependem de áreas úmidas, como manguezais e estuários, para se alimentar e reproduzir. No Brasil, de 54 espécies existentes, sete estão em risco de extinção.
Algumas dessas aves podem ser encontradas no Brasil o ano todo e são chamadas de residentes. Outras se reproduzem na distante tundra ártica e migram pra cá quando o inverno chega por lá, recebendo o nome de migratórias. Dentre as espécies ameaçadas, cinco são migratórias e duas são residentes.
Temos como residentes o téu-téu-da-savana (Burhinus bistriatus), que reside no Norte do país, e a batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia), que reside no Nordeste.
Entre as migratórias, temos o maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus), maçarico-acanelado (Calidris subruficollis), maçarico-de-costas-brancas (Limnodromus griseus), maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla) e maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus rufa).
Quase todas as espécies estão categorizadas como “Vulnerável” (VU) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês), exceto o maçarico-de-costas-brancas e o maçarico-rasteirinho, que estão classificadas como Em Perigo (EN).
“Tanto para as aves limícolas migratórias quanto para as residentes, o grande problema é que elas se alimentam e descem justamente nos locais onde passamos as férias: as praias! Veículos, cães, paragliders e lixo são as maiores ameaças para elas”, explica Bruno Lima, biólogo do Projeto Aves Limícolas.
De acordo com ele, no caso das migratórias, isso é ainda mais grave, porque quando chegam ao Brasil estão exaustas e famintas, e só querem descansar e comer para repor as energias. A cada vez que são espantadas por um cão, por exemplo, elas têm que voar de novo, o que causa um gasto de energia desnecessário. Para uma ave que já voou muito, isso pode ser fatal.
Batuíra-bicuda é uma ave limícola ameaçada residente no Nordeste do Brasil
Hannah Floyd/iNaturalist
Além disso, a perda de habitat, a escassez de alimentos devido à poluição por resíduos sólidos e químicos, a coleta e predação de ovos, a caça e as alterações climáticas são algumas das ameaças diretas e indiretas que também impactam negativamente essas aves.
Aves limícolas
Podemos dizer que as aves limícolas em geral são as “primas” do quero-quero (Vanellus chilensis), a ave limícola mais conhecida do Brasil, que se alimentam de bichinhos na lama das várzeas, manguezais e beira-mar (aves que se alimentam no limo: limícolas).
“Elas possuem uma enorme variedade de bicos pra poderem de alimentar nesses locais: desde bicos pequenos para capturar bichinhos na superfície da lama até bico extremamente longos para enfiar na lama e capturar a comida: bicos curvos, bicos virado pra cima, pra baixo, para os lados”, afirma Bruno.
O quero-quero é a ave limícola mais famosa no Brasil
Luiz Moschini/iNaturalist
Existe uma dificuldade muito grande na diferenciação entre diferentes espécies de aves limícolas. O biólogo diz que mesmo pesquisadores muito experientes têm dificuldade, principalmente quando encontram um bando grande, pois algumas espécies são muito parecidas e as características que as diferenciam são muito sutis.
A melhor maneira para identificar essas espécies é prestar atenção no modo como se alimentam, se correm ao longo da praia ou se são perseguidas pelas ondas.
Essas aves também são consideradas bioindicadoras, ou seja, sua presença, abundância ou ausência pode indicar a saúde ambiental de um ecossistema. Alterações em suas populações podem sinalizar problemas como poluição, perda de habitat e mudanças climáticas.
Ao se alimentarem em áreas alagadas e depois se moverem para outras regiões, essas aves ajudam na ciclagem de nutrientes entre diferentes ecossistemas, contribuindo para a fertilidade do solo e a saúde das plantas.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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