Uma homenagem para as vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale, o projeto foi idealizado em 2023 e escolhido em um concurso do Governo de Minas Gerais. A construção durou oito meses e foi inaugurada no dia 23 de outubro. Monumento “Bruma Leve”, de arquiteto de Uberaba, foi escolhido para homenagear as vítimas da tragédia de Brumadinho
Lucélia Ângelo de Mello/Arquivo pessoal
Monumento “Bruma Leve” foi instalado em frente ao Palácio Tiradentes e Auditório JK, em BH
Lucélia Ângelo de Mello/Arquivo pessoal
Em homenagem às vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho, o monumento “Bruma Leve”, do arquiteto e urbanista Daniel Rodrigues, de Uberaba, foi inaugurado na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, no dia 23 de outubro.
O projeto foi idealizado de janeiro a fevereiro de 2023 e foi escolhido através de um concurso do Governo de Minas Gerais. O monumento foi feito em concreto armado e levou oito meses para ser construído, de março a outubro desde ano. Ele foi instalado em frente ao Palácio Tiradentes e Auditório JK.
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O significado por trás do concreto armado
Em entrevista ao g1, o arquiteto contou que a obra é composta de 272 peças no formato de rostos humanos, que representam cada uma das vidas perdidas na tragédia de 2019. O monumento também remete às montanhas da região de Brumadinho e expressa a leveza da bruma, uma névoa.
“A proposta nasceu do entendimento do nome da cidade e do sentimento de saudade deixado pelos entes queridos que se foram”, contou Daniel.
Daniel Rodrigues também relatou que o monumento não faz homenagem apenas às vítimas, mas também “cria uma relação entre a cidade, a tragédia e o futuro que buscamos – um futuro com justiça”.
A depender do ponto de vista de um observador, há diferentes significados e sensações que podem ser retirados do monumento. De um ponto mais distante, a obra lembra as montanhas, proporcionando a sensação de leveza e permeabilidade causada pelos espaços cheios e vazios da composição.
Já de outro ponto, é possível observar as peças nascendo do chão, mais baixas que o observados, que vão crescendo a cada peça. Essa observação causa uma sensação de fadiga e inquietação, por conta da irregularidade e abstração da montagem da obra.
De outra extremidade do monumento é possível observar as silhuetas de rostos humanos. Nesta posição, também são vistas as curvas de níveis de uma mineradora. A cor vermelha da obra foi escolhida por representar a guerra e a violência, mas também o amor e a cor do sangue e do coração humano.
“É possível observar o contexto e a finalidade da obra em si, da inquietação, da aflição, até a esperança, o amanhã”, afirmou Daniel.
O nome da obra parte do significado da palavra Bruma/Brumadinho e remete também às montanhas daquela região. Também se inspira em versos da canção “Anunciação” de Alceu Valença.
“Na bruma leve das paixões que vêm de dentro; Tu vens chegando pra brincar no meu quintal; No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento; E o sol quarando nossas roupas no varal”.
A construção foi feita diretamente na Cidade Administrativa, pela Acza Projetos Engenharia e Consultoria, empresa contratada pelo Governo de Minas Gerais. Os responsáveis pela obra foram o engenheiro Israel Yonan Alves Oliveira, o engenheiro Doutor Jair Jesus de Oliveira e a engenheira e arquiteta Lucélia Ângelo Melo.
Inauguração do monumento em homenagem às vítimas de Brumadinho, em BH
Carolina Bosi/Arquivo Pessoal
O papel do arquiteto na sociedade
Seja através de um monumento ou de uma casa, o papel do arquiteto e urbanista está intrinsecamente relacionado à construção de uma cidade mais justa e com equidade. Isso é o que Daniel Rodrigues acredita.
“No meu ponto de vista, o papel do arquiteto e urbanista […] é criar condições para a vida humana, sendo abstratas ou não, mas principalmente colocar no papel algo que possa ser executado visando melhorar a vida das pessoas.”, afirmou Daniel.
Ao ser questionado sobre os sentimentos que vieram à tona para ele com a inauguração da obra, Daniel contou que como cidadão se entristece pelas 272 vidas perdidas.
Mas, enquanto profissional, ele se sentiu “honrado por transformar a tragédia de 25 de janeiro de 2019 em um símbolo que assegura que essa dor jamais seja esquecida e que não se repita”.
Daniel também contou que não criou o projeto sozinho, mas contou com a ajuda da equipe dele, composta por Lidiene Rodrigues, Bianca Jordão, Aline Oliveira, Gabriella Riccioppo, Reinaldo Ribeiro, Amandha Melo, Connie Cardenas, Marcelo Oliart.
Arquiteto de Uberaba fala da obra em homenagem às vitimas de Brumadinho
Brumadinho: a tragédia
Registro da tragédia de Brumadinho, em 2019
Gabriel Brandão/Divulgação
O rompimento da barragem na Mina Feijão, da mineradora Vale, ocorreu em janeiro de 2019. A tragédia deixou 272 pessoas mortas, dentre elas dois bebês em gestação. Até momento, 267 foram identificadas. Três vítimas seguem desaparecidas.
As buscas do Corpo de Bombeiros continuam, assim como o trabalho de identificação da Polícia Civil. A última vítima a ser identificada, em dezembro de 2022, foi Cristiane Antunes Campos, de 35 anos, que trabalhava como supervisora de mina.
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