1 de novembro de 2024

Cacto sem espinhos, que vive parcialmente enterrado, é descoberto na Serra do Espinhaço, em MG


Endêmico da Serra do Espinhaço, Uebelmannia nuda chama atenção por sua estrutura diferente da maioria dos cactos. Cacto sem espinhos foi encontrado no Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Minas Gerais
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
No Parque Nacional das Sempre-Vivas, na Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, pesquisadores do ICMBio fizeram uma descoberta surpreendente: uma nova espécie de cacto subterrâneo, sem espinhos e de tamanho compacto, que cabe na palma da mão. Batizada de Uebelmannia nuda, a planta chamou a atenção pela estrutura singular.
Segundo botânica e professora da Universidade de Brasília (UnB) Daniela Zappi, autora principal do estudo, o formato adulto da espécie é incomum – turbinado e semi-enterrado – enquanto a maioria dos cactos tende a ter formato vertical e cilíndrico. O nome “nuda”, que significa “nua” em latim, reflete o aspecto desarmado da planta, que não possui espinhos.
O cacto, endêmico da região, foi fotografado durante uma vistoria em uma área remota do Parque Nacional das Sempre-Vivas. A pesquisadora conta que a vegetação presente no topo dessas montanhas é conhecida como campo rupestre, e possui um alto grau de endemismo.
“A equipe do ICMBio chegou ao local de helicóptero, e encontrou, nessa área que estava sendo minerada em busca de cristal, um cacto que eles acharam estranho. As servidoras Paula Leão Ferreira e Simone Nunes Fonseca imediatamente contataram a professora Fabiane Costa, da UFVJM, que entrou em contato comigo”, revela Daniela.
Uebelmannia nuda resgatada e florescendo em viveiro do ICMBio
Fabiane Costa
No início, a botânica acreditou que se tratava de uma espécie do gênero Discocactus, que tem espécies endêmicas na região. Para confirmar essa hipótese, Fabiane fez uma nova viagem ao local, utilizando um helicóptero para coletar a planta e posteriormente preparar o material-tipo.
A coleta ocorreu em 25 de abril de 2023, mas a publicação do artigo foi feita na revista Taxon em maio de 2024, devido à necessidade de reunir diversos dados sobre o cacto.
Monitoramento da espécie
“Até agora conhecemos apenas essa população, com por volta de 50 espécimes intactos, e com vários resgatados no viveiro do ICMBio, pois estavam sendo afetados pelo deslocamento de areia causado pela mineração do local”, pontua.
De acordo com Daniela, o ICMBio está monitorando a espécie anualmente e também busca desencorajar a mineração de cristal nessa área da serra. Além disso, estão sendo realizadas buscas mais amplas na região para verificar a possibilidade de encontrar outras populações.
Habitat da espécie vem sendo perturbado pela mineração
Fabiane Costa
A pesquisadora conta que existem outras espécies de Cactaceae – o gênero da espécie descoberta – que não têm espinhos e são geófitas, ou seja, vivem enterradas sob areia ou pedregulhos. Até agora, a espécie mais icônica do Brasil era o Discocactus horstii, encontrado na região de Grão Mogol, que possui espinhos reduzidos. Agora, temos a descoberta dessa nova espécie.
“Dá para dizer que a planta semi-enterrada fica ‘disfarçada’ em seu habitat e pode dispensar os espinhos para se proteger de predadores. Características que não representam vantagem evolutiva para as espécies podem ser selecionadas negativamente e desaparecer ao longo do tempo, como é o caso dos espinhos nessas espécies”, explica.
A descoberta
“Foi uma descoberta literalmente de arrepiar. Estudo as Cactaceae dos campos rupestres desde o meu mestrado, defendido em 1991, e ainda é possível encontrar plantas totalmente novas e surpreendentes nas suas adaptações ecológicas”, finaliza a botânica.
Para Daniela, a descoberta destaca o alto nível de colaboração entre os diversos cientistas envolvidos, pois foram necessárias muitas pessoas para alcançá-la. Publicar isso em uma revista de prestígio representa uma conquista que vai além do dia a dia deles como cientistas.
Nova espécie emerge do solo de areia quartzítica
Fabiane Costa
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